Rádio Câmara

Reportagem Especial

Legado da Copa e da Olimpíada - Balanço dos impactos desses megaeventos no Brasil

28/08/2017 -

  • Legado da Copa e da Olimpíada - Balanço dos impactos desses megaeventos no Brasil (bloco 1)

  • Legado da Copa e da Olimpíada - O que restou da infraestrutura e dos estádios (bloco 2)

  • Legado da Copa e da Olimpíada - Resultados do Time Brasil e reflexos nas políticas do esporte (bloco 3)

  • Legado da Copa e da Olimpíada - Paralimpíadas: visibilidade e investimentos (bloco 4)

  • Legado da Copa e da Olimpíada - Impactos sociais das competições no Brasil (bloco 5)

Ao longo da preparação do Brasil para sediar a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, muito se falou sobre legado. Havia promessas em relação ao que esses megaeventos poderiam trazer de benefícios para o País em diversos setores, como infraestrutura das cidades, turismo e desenvolvimento do esporte, tanto social quanto de competição, tanto olímpico quanto paralímpico. Havia também críticas sobre possíveis prejuízos para a população, como desapropriações e remoções de moradores em função de obras, corrupção e construção de prováveis elefantes brancos.

Os eventos já são parte do passado e a hora agora é de fazer o balanço de tudo isso. Entre promessas e medos, saber o que efetivamente se concretizou, de bom e de ruim. E a pergunta que resume tudo é: valeu a pena realizar esses megaeventos no Brasil?

Para o jornalista esportivo José Cruz, o saldo dos megaeventos é negativo. Ele lembra que o Brasil recebeu outros grandes eventos esportivos na última década, como os Jogos Panamericanos, a Copa das Confederações, os Jogos Mundiais Indígenas e os Jogos Mundiais Militares, mas isso não fez com que o País se tornasse esportivamente desenvolvido.

José Cruz - "Nós somos ainda um país tão atrasado esportivamente que, depois de realizar os maiores eventos esportivos, nós estamos discutindo se devemos ter Educação Física na escola. Quer dizer, nós não sabemos ainda o que oferecer aos nossos garotos em nível escolar, mas já temos a instalação. Primeiro temos um país estruturalmente e educacionalmente desenvolvido para depois receber megaevento. Não. Nós fomos na contramão. O que não invalida que se venha fazer essa correção, mas é uma perda de tempo muito grande".

O jornalista investigativo Christopher Gaffney é ainda mais duro na sua avaliação. Para ele, nem a derrota de 7 a 1 na Copa fez com que a estrutura corrompida de poder do futebol fosse abalada.

Christopher Gaffney - "CBF saiu da Copa do Mundo mais forte que nunca, que tem menos transparência, que tem menos preocupações públicas. (...) Tanto com a Fifa quanto com o COI, temos os casos de doping dos russos, vimos escândalos de corrupção e resolveu nada em termos de gestão do esporte profissional no país".

A CBF não nos concedeu entrevista. Gaffney critica também o investimento de recursos públicos em obras que, na visão dele, não são prioritárias para um país tão carente, como a construção de estádios em cidades com pouca tradição no futebol.

Bem, e o que diz o Ministério do Esporte? A avaliação do ministro, Leonardo Picciani, é de que a realização dos grandes eventos esportivos foi positiva para o Brasil. Segundo ele, o País modernizou a sua infraestrutura de esporte, teve sua imagem internacional fortalecida e o turismo incrementado. Tudo isso com uso adequado dos recursos da União.

Leonardo Picciani - "Evidentemente, se surgir algum tipo de suspeição, algum tipo de questão que se faça necessário uma melhor investigação, um aprofundamento, isso deve transcorrer com absoluta tranquilidade e com absoluta efetividade para se apurar. De modo geral, os investimentos foram feitos de forma adequada, tanto é que surtiram resultados, sobretudo na preparação dos atletas, onde fizemos a melhor participação do País em edições dos jogos Olímpicos".

Em relação às denúncias de corrupção e de falta de transparência, o deputado Vicente Cândido (PT-SP), que foi relator da Lei Geral da Copa, defende que esses são problemas que atingem o Brasil como um todo e que não poderiam ser resolvidos pela realização dos megaeventos.

Deputado Vicente Candido - "Também não dá para generalizar porque teve desvio ou a obra foi cara nesse ou naquele estádio e que o resto está todo comprometido. Também não é verdade. Em relação ao custo, tem aí algumas premissas falsas, né: Ah, a Copa custou 30 milhões, a Copa custou 20 milhões, ou qualquer que seja o número. O que foi o dinheiro da Copa? Os estádios, tirando aí os três públicos, que é Mineirão, Brasília e Maracanã, acho que Manaus também, o resto é privado. Aliás, esses os governos estão pagando. Foi dinheiro de investimento que você pode questionar se esse legado valeu a pena, se vai virar um elefante branco. Mas aí é um problema de gestor. Onde tem um gestor ousado, onde tem capacidade empreendedora está se resolvendo a viabilidade desses projetos".

E a pergunta que não quer calar é: quanto custaram os megaeventos esportivos? Não foi fácil encontrar a resposta nas fontes oficiais. O ministro do Esporte me informou, em entrevista, que esse número seria divulgado pelos órgãos de controle porque houve investimentos de várias áreas do governo, não só do Ministério dos Esportes, e também das esferas municipais e estaduais. Havia ainda, segundo notícias divulgadas na imprensa, dúvidas sobre a utilização de recursos públicos em serviços de competência do Comitê Rio 2016, que, por sua vez, alegava não ter obrigação de abrir suas contas por ser uma entidade privada. Sem falar nas isenções fiscais concedidas a empresas que prestaram serviços ao Comitê Rio 2016 e à Fifa.

De acordo com notícia publicada em seu Portal, o Tribunal de Contas da União apurou que o total de gastos para os Jogos Olímpicos foi de 43 bilhões de reais, sendo metade de recursos públicos e metade de recursos privados. Mas os ministros se queixaram da falta transparência nas prestações de contas dos recursos federais direcionados às Olimpíadas, especialmente por parte da Autoridade Pública Olímpica e dos governos do Estado e do Município do Rio de Janeiro. A notícia, de abril de 2017, apontava como principal irregularidade a ausência do relatório final sobre a Matriz de Responsabilidade, documento que consolida todos os gastos relacionados com a realização da competição em si. Esse documento foi divulgado dois meses depois, em junho de 2017, com um acréscimo de 137 milhões de reais.

Sobre a Copa, o Portal da Transparência da Copa, organizado pela Controladoria-Geral da União, traz os totais investidos pelas três esferas de governo, além dos financiamentos que o governo federal disponibilizou para as cidades-sede. De acordo com o Portal, 27,8 bilhões de reais foram contratados, mas apenas 20 bilhões foram executados.

No próximo capítulo, saiba qual foi o legado em infraestrutura para as cidades que sediaram os megaeventos

Reportagem - Verônica Lima
Edição - Mauro Ceccherini
Trabalhos Técnicos - Milton Santos

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