Rádio Câmara

Reportagem Especial

A ditadura militar. MDB: moderados X autênticos

23/03/2015 - 16h59

  • MDB: autênticos x moderados - bloco 1

  • MDB: autênticos x moderados - bloco 2

Um grupo de deputados de oposição, conhecidos como os autênticos do MDB, teve um papel de destaque na resistência do Parlamento contra a ditadura militar de 1964. Eram 23 deputados de diferentes tendências, eleitos em 1970, que pressionaram o líder Ulysses Guimarães a endurecer com os generais-presidentes. Eles lançaram a ideia da anticandidatura de Ulysses, contra Ernesto Geisel, nas eleições presidenciais indiretas de 1974. O primeiro desdobramento veio em novembro do mesmo ano, quando o MDB dobrou a bancada do partido, que passou a ter 161 deputados e 16 senadores. Desde então, o grupo teve forte influência nos acontecimentos que levariam, dez anos depois, à campanha das Diretas Já e ao fim da ditadura em 1985. A reportagem especial desta semana resgata um pouco desta história, em dois capítulos. O repórter é João Arnolfo.

Neste mês está fazendo 30 anos que acabou a ditadura militar. O primeiro civil presidente da República, José Sarney, ainda foi eleito pelo sistema indireto, em março de 1985.

Mas a luta do Parlamento pela volta das eleições diretas começou bem antes, no início dos anos 1970.

Naquela época, o moderado líder da oposição, Ulysses Guimarães, começou a ser pressionado por um grupo de deputados, conhecidos como autênticos, para endurecer com os ditadores.

Os militares que derrubaram o governo em 1964 acabaram com a eleição direta para presidente da República. Eles passaram a indicar os generais-candidatos e o Congresso tinha que confirmar os nomes.

O primeiro general-presidente, Castelo Branco, manteve a eleição de 1966. Com isso deixou no ar a esperança de breve retorno à democracia — como lembra o ex-deputado Jaison Barreto, do MDB de Santa Catarina: “Já nas eleições de 1966 fui candidato... pra não deixar na escuridão a imensa maioria da população”.

Logo na primeira crise interna, os militares substituíram o moderado Castelo por um general linha-dura, Artur da Costa e Silva. E o Congresso convalidou a troca.

Quando Costa e Silva sofre um derrame, o vice-presidente da República, o ex-deputado Pedro Aleixo, é impedido de assumir – simplesmente porque era civil e... moderado.

Uma junta militar assume o governo e manda o Congresso confirmar como presidente, o general Emílio Garrastazzu Médici, até então chefe do serviço secreto.

Nos primeiros anos da década de 70, o exército já havia praticamente derrotado a guerrilha urbana. Oposicionistas mais aguerridos estavam presos, desaparecidos, cassados ou no exílio.

Foi nessa época que um grupo de deputados começou a pressionar Ulysses Guimarães, presidente do MDB, a endurecer com os militares. Esses parlamentares ficaram conhecidos como os autênticos, como conta um dos fundadores do grupo, o ex-deputado Alencar Furtado, do MDB do Paraná.

“Fui eleito deputado federal pelo Paraná em 1970, cheguei aqui fui liderado por Pedroso Horta, acolheram-nos muito bem, fui nomeado vice-líder, o Marcos Freyre vice-líder, o Fernando Lyra, ali praticamente foi o início do grupo dos autênticos. Nós éramos minoria dentro do MDB, que tinha 78 deputados e nós tínhamos de 35 a 40 no começo ... depois o grupo menor foi de 23. A direção do MDB não admitia que a gente participasse da Executiva, não admitia.”

Os militares só permitiam o funcionamento de dois partidos – a Arena (Aliança Renovadora Nacional), de apoio ao governo, e o Movimento Democrático Brasileiro, o MDB de oposição moderada. Ulysses presidia o MDB com cuidado para evitar prisões e cassação de mandatos. Mas os autênticos queriam enfrentar os militares e forçar a volta das eleições diretas.

Confira na próxima reportagem: a divergência entre os autênticos do MDB, que queriam confrontar os militares, e o deputado Ulysses Guimarães, que conduzia a oposição com moderação durante os anos de chumbo.

Reportagem — João Arnolfo

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