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Reportagem Especial

Voto jovem: a sensação de descrédito entre os eleitores de 16 a 18 anos

23/09/2013 - 15h07

  • Voto jovem: a sensação de descrédito entre os eleitores de 16 a 18 anos

Os jovens que foram às ruas gritar contra a corrupção na política e pedir investimentos em serviços públicos estão dispostos a usar o direito e o poder do voto? Faltando pouco mais de um ano para as eleições gerais de 2014, como anda o ânimo da juventude para buscar, nas urnas, as reivindicações estampadas nas faixas e cartazes das manifestações de junho e setembro? O voto jovem é o tema da Reportagem Especial desta semana, que será apresentada em cinco capítulos. Para começar, o repórter José Carlos Oliveira mostra que ainda prevalece uma sensação de descrédito e desconfiança, sobretudo entre os eleitores de 16 a 18 anos, para quem o voto é facultativo.

Junho de 2013. Ao mesmo tempo em que tinha sobre si os holofotes internacionais por causa da Copa das Confederações de Futebol da Fifa, o Brasil era varrido por uma série de manifestações populares que levaram milhões às ruas pela melhoria dos serviços públicos e contra a corrupção política. Os manifestantes voltaram às ruas em grande número no "grito dos excluídos" e em outros protestos no 7 de setembro. As pesquisas acabaram confirmando a evidente liderança dos jovens à frente desses protestos organizados por meio de redes sociais, na internet.

O "gigante acordou" um tanto quanto atordoado: reivindicações justas em manifestações pacíficas vieram acompanhadas de depredações e de outros atos de vandalismo; os poderes Executivo e Legislativo anunciaram ações e intenções diversas: algumas concretas, como a redução das tarifas dos transportes públicos, e outras ainda em curso, como a Reforma Política e a transformação da corrupção em crime hediondo.

Mas, sobretudo em relação à crise de representatividade política evidenciada nessas manifestações, uma dúvida deve permanecer no ar pelo menos até outubro de 2014, quando mais de 140 milhões de brasileiros estarão habilitados a ir às urnas pela primeira vez, após essa grande onda de manifestações: o voto direto do cidadão, definido pela Constituição como instrumento da "soberania popular", será capaz de mudar algumas das mazelas estampadas nos cartazes ou ecoadas no grito dos manifestantes? Enfim, o cidadão, principalmente o jovem que saiu às ruas, estará mais atento em quem votar?

A Rádio Câmara fez essas perguntas a alguns deles durante as manifestações ocorridas em Brasília. Ouça algumas respostas, começando por Gustavo Souza, de 15 anos.

"Quero votar em alguém em quem eu confie que vá melhorar o meu país, o futuro dos meus filhos e até mesmo o meu também. É em quem você vota que vai declarar o futuro, o futuro da educação e da saúde."

Ana Carolina Tigre, de 16 anos.

"Eu não tirei o título ainda nem pretendo, porque acho que não vale a pena. Quero ter condições de poder votar, de poder exigir, de poder falar para o povo colocar alguém dentro da Câmara ou dentro do (governo do) Brasil que possa dar orgulho ao Brasil."

Heyla Castro, de 16 anos.

"Eu acho que o voto ajuda, né. Só que vai pela cabeça dos políticos. Eu acho que não existe e nunca vai existir política sem corrupção, porque as pessoas, quando chegam ao estágio em que estão, o dinheiro sobe para a cabeça e elas: 'ah, só um pouquinho e tal, ninguém vai saber'. E aí começa e não para. O povo resolveu acordar porque estava todo mundo aéreo. Ninguém mais é burro".

Esses nossos entrevistados com idades entre 16 e 18 anos têm direito mas não estão obrigados a votar. As esperanças e os desencantos que eles manifestam não são muito diferentes daqueles da grande maioria da população brasileira.

Pesquisas do Ibope e do DataFolha, realizadas após as manifestações de junho, confirmam que 65% dos que foram às ruas acreditam no poder do voto para melhorar a qualidade da política brasileira. Mais importante do que isso: 82% garantem que não votariam em candidato corrupto.

MÚSICA: "Voto de confiança" (Fundo de Quintal)
"Eu sei que a nossa canoa tá bem devagar - mas não vai afundar.
Se a gente mostrar paciência ajudando a remar - tudo vai melhorar.
E não adianta cobrança, sem voto de confiança,
Pois nem toda cara manjada tem traça ou cupim..."

A faixa etária de 16 a 18 anos, para quem o voto é facultativo, representa hoje cerca de 12 milhões de pessoas, com peso suficiente para decidir eleições e ajudar a mudar a cara da política brasileira. Conquistaram esse direito a partir da Constituição de 1988. No entanto, a maioria deles sequer requisitou o título, não exerce esse direito e tem se mantido distante do processo eleitoral, nos últimos anos, pelos mais variados motivos. O cientista político José Álvaro Moisés, da Universidade de São Paulo, apresenta uma possível explicação para tal fato.

"Isso significa que os jovens não estão se sentindo identificados no sistema, como um mecanismo através do qual aquilo que eles pensam e sentem e aquilo que, de alguma maneira, mobiliza corações e mentes para poder participar. Então, eles estão deixando de votar. Mas veja que há um paradoxo aqui: eles estão deixando de votar, mas estão indo para a rua. Não é que eles não queiram participar. É que, provavelmente, o sistema não está suficientemente aberto para mobilizá-los e trazê-los para dentro do sistema."

Seja nos movimentos do "poder jovem" da década de 1960 ou entre os caras pintadas que ajudaram a derrubar o ex-presidente Fernando Collor, no início dos anos 90, a inquietude dos jovens reassume o protagonismo de sacolejar a política, só que, desta vez, contando com o instrumento potencializador da internet.

No capítulo de amanhã, a Reportagem Especial sobre o voto jovem destaca como surgiu a oportunidade para os adolescentes de 16 e 17 anos de idade exercerem, se quiserem, o direito de votar e de, assim, influenciar o destino político do país.

Da Rádio Câmara, de Brasília, José Carlos Oliveira

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h

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