Rádio Câmara

Reportagem Especial

Segunda Guerra Mundial: uma breve história do conflito

09/11/2011 - 00h00

  • Segunda Guerra Mundial: uma breve história do conflito (bloco 1)

  • Segunda Guerra Mundial: as restrições enfrentadas por estrangeiros que viviam no Brasil (bloco 2)

  • Segunda Guerra Mundial: os bens confiscados e jamais devolvidos (bloco 3)

Nesta semana, a Rádio Câmara apresenta uma série especial sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, mostrando as consequências do conflito para os imigrantes alemães, italianos e japoneses que já viviam no país. Em três reportagens, você acompanha um registro desse importante período histórico, que deixou marcas definitivas na vida de quem o acompanhou. A série também vai mostrar que ainda hoje existem questionamentos em relação às medidas tomadas pelo governo brasileiro durante os anos de guerra. Na primeira reportagem, você confere o conturbado contexto histórico que resultou no conflito de proporções mundiais.

TEXTO

"Se dizia que se Hitler cumprisse a ameaça de invadir também a Polônia, depois de ter invadido a Tchecoeslováquia e coisas menores, que os franceses e ingleses dessa vez cumpririam a palavra de defender a Polônia. Hitler e seus conselheiros não prestaram muita atenção a essa ameaça achando que os aliados ocidentais iam fugir mais uma vez do conflito e, em primeiro de setembro de 1939, ordena a invasão da Polônia. Imediatamente depois estoura a Segunda Guerra Mundial, que transforma o mundo todo em uma espécie de expectador pasmo que, com tão pouco tempo depois do fim da Primeira Guerra Mundial, vinte anos depois, menos de uma geração, já estivessem os países europeus se confrontando em uma nova guerra."

O professor de História da Universidade de Brasília Estevão Martins lembra que a Segunda Guerra foi o conflito mais letal da humanidade, mobilizando mais de 100 milhões de militares e deixando mais de 70 milhões de mortos.

Para nunca mais esquecer, a humanidade sempre relembra dois retratos terríveis da guerra: o extermínio em massa de judeus e as explosões das bombas atômicas no Japão.

Entre muitas outras razões, o conflito se explica pelo fato de que houve uma Primeira Guerra Mundial, cujas consequências acirraram os sentimentos nacionalistas e a busca por hegemonia territorial e militar.

Em 1939, a Itália já estava em guerra por terras no norte da África e o Japão já combatia os chineses. O projeto expansionista de Hitler encontrou espaço em uma Alemanha enfraquecida pelas consequências da Primeira Guerra Mundial.

Alemanha, Itália e Japão, com seus governos fortes e ditatoriais, formaram o Eixo que lutou contra o resto do mundo, e foi barrado apenas pelo Exército Vermelho da antiga União Soviética.

(trilha hino soviético)

"E atenção, atenção, ouvintes do Repórter Esso, o assunto é urgentíssimo. Aviões japoneses atacaram de surpresa essa madrugada a base norte-americana de Pearl Harbor."

Naquele momento, o governo ditatorial de Getúlio Vargas era muito mais simpático aos regimes nazista e fascista do que aos regimes democráticos dos países Aliados. Mas o engajamento dos Estados Unidos fez com que os ventos mudassem de lado.

"A entrada dos Estados Unidos na Guerra provocou uma pressão política muito forte sobre todos os países americanos, desde o Alaska até a Patagônia, e isso evidentemente empurrou os eventuais simpatizantes do Eixo ou para o silêncio ou para uma espécie de esperteza, de malandragem, vamos virar de lado nós também. E aí a gente vê as fotografias do Getúlio visitando as instalações da base aérea de Natal e do porto do Rio Grande do Norte, onde Roosevelt esteve com ele para negociar as condições mediante as quais o Brasil entraria na guerra com os Estados Unidos, pelo menos ajudando em infra-estrutura, e depois quando vários navios cargueiros brasileiros começaram a ser torpedeados pela marinha de guerra alemã, aí o Brasil também declarou guerra à Alemanha."

"E atenção, Rio. De acordo com a decisão que acaba de ser tomada em conjunto por várias nações americanas, o governo do Brasil ordenará a imediata internação dos 16 navios do Eixo que se acham atualmente em portos brasileiros."

E nesse momento, em 1942, o Brasil entra na guerra. O envio de tropas aconteceu apenas dois anos depois, com mais de 25 mil homens que foram para a Itália.

Um deles é Vinício Gomes, que então era um jovem de 21 anos. Ele trabalhou no serviço de saúde dos soldados e relata a imagem mais viva que trouxe do front.

"Visitando um hospital de feridos, eu encontrei um soldado brasileiro que foi ferido por uma granada, ele então perdeu os dois membros superiores e os inferiores também, perdeu os braços, as pernas e ficou cego, isso foi a coisa mais triste que eu vi na Itália. Ele então pedia todos os dias que as autoridades matassem ele porque ele não queria mais viver daquele jeito."

"Uma granada, não sei se se nossa ou deles, atingira uma capelinha poucos quilômetros à direita do Monte Castelo, um pouco mais ao norte. Apenas duas paredes ficaram de pé: o teto e as outras paredes ruíram. Havia uma tela com uma imagem de santa que não identifiquei, e no fundo havia uma grande cruz de madeira onde estava pregado um Cristo. A cruz, pintada de preto, não parecia ter sido atingida. Mas o Cristo, de massa cor de carne, fora decapitado por um estilhaço."(da crônica Cristo Morto, do jornalista Rubem Braga - gravado pelo locutor)

"Atenção, atenção, a Força Expedicionária Brasileira, depois de uma luta tenaz e vigorosa, conquistou a fortaleza nazista de Monte Castelo."

O Holocausto, com o extermínio de mais de seis milhões de judeus na Europa, ficou marcado como um dos horrores da Segunda Guerra.

Nascido na Bélgica, Samuel Rozemberg perdeu sua irmã em um dos primeiros comboios enviados aos campos de concentração. Separado dos pais, com oito anos, foi recebido por uma família protestante que o escondeu. Ele conta que o medo ditava a vida naqueles dias.

"Um dia, vieram os alemães naquela casa, na aldeia, a procura de armas e eu fiquei tremendo feito vara verde. A senhora que cuidava de mim, eu chamava ela de madrinha, ela viu que eu estava com medo e me deu uma tigela de sopa para segurar com ambas as mãos para parar de tremer. Eu fiquei com medo que eles mandassem arriar as minhas calças e iriam ver que eu sou circuncidado. Enfim, graças a Deus pude sobreviver, fiquei muito bem acolhido, aqui estudei, aqui me formei, sou médico, criei uma família, graças a Deus e a este país generoso que é o Brasil."

Com o fim da guerra, Samuel veio com os pais para o Rio de Janeiro, onde se casou. O pai de sua esposa, que também era judeu, viveu uma história surpreendente no Brasil.

"Aqui casei com uma judia, uma moça que nasceu na Paraíba, filha de judeus alemães que conseguiram um contrato de contador na fábrica dos irmãos Lungreen, em Rio Tinto, no interior da Paraíba. E depois, ironia do destino, quando o Brasil entrou em guerra contra a Alemanha, os funcionários alemães da fábrica foram todos detidos. Meu sogro não, por ser judeu, mas o populacho do interior não entendia por que aquele gringo não era preso, queriam assassiná-lo. Então meu sogro pediu um salvo conduto do Recife para vir para o Rio. Veja só, ele saiu de Berlim para a Paraíba por ser judeu, e da Paraíba para o Rio por ser alemão."

No Brasil, durante os anos da Guerra, os imigrantes dos Países do Eixo receberam uma série de restrições, que incluíram prisões em campos de concentração, confisco de bens, fechamento de associações e intervenções em escolas.

Helmut Schmid era então um menino, filho de alemães que chegaram ao país em 1924 e se instalaram no interior paulista.

"Com 11 anos, terminei o curso primário e vim para São Paulo, a família ficou lá e vim sozinho continuar a estudar em São Paulo. Vim estudar em uma escola alemã, em um colégio que se chama Benjamin Constant, que era a escola alemã de Vila Mariana. Comecei a estudar em 1941, e em 1942, quando o Brasil declarou guerra à Alemanha, a escola sofreu uma intervenção federal e o ensino da língua alemã foi proibido."

"A rádio de Hamburgo, depois de transmitir o Crepúsculo dos Deuses por muitas horas anunciou: o Fuhrer morreu."

Apesar de todas as restrições do período de guerra, Helmut também enaltece a maneira como o Brasil recebeu e integrou os imigrantes ao longo da história.

"Hoje, praticamente, quase não se pode mais falar em colônias, seja alemã, eslava, polonesa, russa, japonesa, pois já houve uma miscigenação de todas as raças e eles foram acolhidos e hoje a descendência deixou de ter aquela força, a importância que tinha antigamente."

"Terminou a guerra, terminou a guerra, terminou a guerra... (sinos)"

E com todos os problemas, o Brasil segue como um país que comemora a diversidade das diferentes nações, um lugar onde povos diferentes tiveram espaço para buscar uma nova vida.

Apresentação Daniele Lessa

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h