25/06/2019 22:30 - Comunicação
Radioagência
Na Câmara, Glenn Greenwald defende autenticidade das conversas vazadas entre Moro e procuradores da Lava-Jato
O fundador e colunista do site The Intercept, Glenn Greenwald, afirmou em audiência na Câmara, que o ex-juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça, fez um conluio com os procuradores da República que compõem a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, para fraudar a democracia e agir com parcialidade, ferindo o Judiciário brasileiro nas decisões proferidas nos processos julgados no caso. Um dos principais prejudicados, segundo o site, teria sido o ex-presidente Lula.
Glenn fez uma defesa da liberdade de imprensa e da transparência, reafirmou a autenticidade das conversas vazadas entre o ex-juiz e procuradores no aplicativo Telegram, que estão sendo publicadas pelo The Intercept desde 9 de junho.
O jornalista Glenn Greenwald ressaltou que o site que edita está enfrentando as pessoas mais poderosas do País, vem sofrendo ameaças contra a sua vida e a da sua família, mas que vai continuar o trabalho de divulgação do lado obscuro da Lava Jato:
"A Constituição protege e garante a liberdade de imprensa e uma imprensa livre contra os ataques que o Sérgio Moro e o partido do governo está tentando fazer. Mas como eu disse antes, ninguém tem medo do seu partido [PSL]. Nossa redação, os jornalistas que são brasileiros estão agora trabalhando com essa reportagem e vai continuar publicando documentos até o final e nem seu partido nem o governo do Bolsonaro, nem Sérgio Moro pode fazer nada para impedir isso. Essa reportagem vai ser feito."
Esse foi o tom de boa parte das seis horas e meia de debates na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (25), que virou um palco para a luta entre os mais de 40 deputados do governo e da oposição que se pronunciaram contra e a favor do jornalista.
Falando em nome da liderança do governo, a deputada Carla Zambelli, do PSL de São Paulo, afirmou que os documentos vazados eram resultado de crime de hackeamento e, ao mesmo tempo, que as conversas não eram autênticas:
"Querem criar um caso em torno de algo que não existe. Querem dizer que o Sérgio Moro cometeu um crime, né, de acordo com as coisas que foram divulgadas... (...) Ah porque eu recebi de uma fonte anônima. Quer dizer, tudo pode, só não pode pegar o fato real, os áudios e periciar as provas. Ele não entregou a prova para ninguém. Ele só divulgou uma carta branca. Não tem nem sequer os prints da conversa. É algo escrito numa folha branca, isso pra mim, escrito por uma pessoa que não tem sequer palavra e nada é a mesma coisa."
Vários deputados defenderam a convocação do ministro Sérgio Moro e mesmo a criação de uma comissão parlamentar de inquérito para investigar todo o caso. Um dos autores do pedido para a realização da audiência, o deputado Márcio Jerry, do PCdoB do Maranhão, ressaltou os efeitos do debate dentro da Câmara:
"A CPI está com o seu processo de coleta de assinaturas em curso, eu acho, sim, que nós vamos obter as assinaturas necessárias para passar a limpo a operação Lava Jato. Reitero, repito que não se trata de ficar contra qualquer forma de combate à corrupção, mas é que um outro princípio: é de que para combater a corrupção não se deve aceitar o cometimento de ilegalidades, Precisamos combater a corrupção, cumprindo a lei, eficazmente, corretamente."
O deputado Fábio Trad, do PSD do Mato Grosso do Sul, resumiu a questão que precisa ser levada em conta:
"Todos nós temos de nos unir em torno da seguinte indagação: As mensagens vazadas são verdadeiras? Se forem verdadeiras, estará caracterizada a parcialidade, e a aplicação da lei deve ser absolutizada. Porque o que está em jogo não é Lula tampouco Moro, mas o Estado Democrático de Direito."
Deputados presentes à audiência do jornalista Glenn Greenwald na Comissão de Direitos Humanos formalizaram um pedido para que a Câmara garanta a segurança do editor do site The Intercept.