15/04/2019 14:51 - Comunicação
Radioagência
Rádio completa 100 anos em 2019
O rádio celebra 100 anos em 2019 com histórias boas e ruins para contar. No Brasil, a primeira emissora surgiu em 6 de abril de 1919, em um sobrado do Recife Antigo: a Rádio Clube de Pernambuco. A transmissão ainda era bem primitiva, mas já trazia as bases para a futura propagação do veículo, como conta o pesquisador pernambucano Renato Phaelante.
"A Rádio Clube fazia algumas experiências aqui em Recife, diretamente do Teatro de Santa Isabel. Apesar de a Rádio Clube ter sido pioneira no radioamadorismo, em 1919, o estatuto da Rádio Clube de Pernambuco já falava nas condições de rádio, como amplitude, divulgação de música e de comunicação de um modo geral".
Só quatro anos depois, em 1923, viria a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Roquete Pinto. Em 1924, os cariocas também conheciam a Rádio Clube do Brasil. Com duas emissoras na mesma praça, a regularidade das transmissões aumentava gradativamente, como contou, em depoimento histórico, o comunicador Almirante, conhecido como "a mais alta patente do rádio brasileiro.
"O rádio irradiava só algumas horas. Quando teve entendimento com a segunda estação, que foi a Rádio Clube do Brasil, então as duas - Rádio Sociedade e Rádio Clube - combinaram o seguinte: uma irradiava só às segundas, quartas e sextas; a outra nas terças, quintas e sábados. No domingo, não tinha rádio. E era só por algumas horas. Evidente que, com o tempo, foi aumentando".
Obviamente, esse avanço gradual contou com as pesquisas e a genialidade de vários cientistas do mundo inteiro. Tem até um padre brasileiro na lista dos pioneiros: entre uma missa e outra, o gaúcho Roberto Landell inventou um sistema de transmissão da voz por meio de válvulas, em 1892. Antes dele, o físico alemão Heinrich Hertz já havia descoberto as ondas radiofônicas. Outro passo importante veio com a evolução dos receptores: primeiro veio a galena, depois, apareceram a válvula e a radiofrequência sintonizada.
MÚSICA: "Meu Rádio e meu Mulato" (de Herivelton Martins, com Carmem Miranda)
No fim da década de 20, já havia 29 emissoras de rádio de norte a sul do Brasil. Outras 52 apareceram na década seguinte, geralmente transmitindo, música, óperas e textos educativos. Os anos 40 conheceram o auge da Era do Rádio, na qual algumas emissoras se tornaram ícones na radiodifusão de verdadeiros espetáculos de diversão, cultura, notícia e esporte. Ex-diretor da Rádio Nacional, Osmar Frazão relembra nomes expressivos do radioteatro dessa época.
"O radioteatro retratou, em capítulos, esse nosso Brasil romântico escrito pelos mais abençoados escritores radiofônicos, como Amaral Gurgel, Mário Brasini, Edgard G. Alves, o meu saudoso Guiaroni, Janete Clair, Dias Gomes, Mário Lago e tantos outros que também tiveram suas obras apresentadas em novelas que prendiam a emoção dos ouvintes nesse tempo do radioteatro, nesse tempo dos auditórios".
Era o rádio se transformando em veículo de comunicação de massa. E quanto mais portátil, mais simpatia ele conquistava entre os ouvintes, assumindo o papel de companheiro de todas as horas. Foi pelas ondas do rádio, por exemplo, que a paixão do brasileiro pelo futebol começou a ser moldada. Com narrações eletrizantes, o veículo soube explorar o amor do torcedor por seu time e pela seleção brasileira, sobretudo após a conquista da primeira Copa do Mundo, em 1958, na Suécia.
Utilidade pública e prestação de serviços foram outros dois ingredientes associados à receita para o sucesso do rádio. Educação também: um país de dimensões continentais, como é o Brasil, não podia abrir mão de um veículo tão potente para difundir cultura e educação. Ainda na década de 1930, o governo brasileiro estabeleceu que a radiofonia é um "serviço de interesse nacional e de finalidade educativa". A Rádio MEC, sucessora da pioneira Rádio Sociedade, assumiu muitas vezes o papel de "radioescola".
Esse aí é o ditador alemão Adolf Hitler ameaçando invadir a Polônia, em 1939. Antes disso, já havia um pequeno espaço para notícias nas rádios brasileiras, mas o impacto da Segunda Guerra Mundial obrigou todo o mundo a ficar de ouvido atento às ondas do rádio. Em agosto de 1941, o Brasil dá o primeiro passo para entrar no conflito. A data coincide com a estreia de um marco do radiojornalismo no país.
"Amigo ouvinte, aqui fala o Repórter Esso, testemunha ocular da história".
Ao longo de 27 anos, o Repórter Esso realmente foi uma "testemunha ocular da história", seguindo sempre o modelo do texto curto e direto.
"E atenção, atenção! Aviões atômicos lançaram nova e poderosa arma sobre a cidade japonesa de Hiroshima. Os efeitos da bomba atômica fizeram com que Hiroshima fosse varrida do mapa".
"E atenção! Acaba de suicidar-se, em seus aposentos do Palácio do Catete, o presidente Getúlio Vargas".
Em tom de comoção geral, o último Repórter Esso do rádio foi ao ar, já na Rádio Globo do Rio de Janeiro, em 31 de dezembro de 1968. Um marco dos informativos se apagava, mas, ao mesmo tempo, outros noticiários, com uma cara bem mais brasileira, já começavam a se consolidar no radiojornalismo.
A década de 60 foi de muita turbulência. Mas foi exatamente neste contexto de crise que o rádio escreveu outra passagem memorável na sua história. Alguns militares já queriam tomar o poder logo após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961. No entanto, por meio das ondas do rádio, o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, mobilizou várias emissoras do país inteiro a resistir e a garantir a posse de Jango, o vice-presidente. A chamada "Rede da Legalidade" funcionou a partir de um estúdio montado às pressas nos porões do Palácio Piratini, em Porto Alegre.
"Não desejamos a desordem. O que nós queremos é a ordem jurídica e constitucional".
Sobretudo a partir dos anos 80, o rádio passou a sofrer concorrências de outros veículos poderosos: primeiro foi a televisão, depois vieram a internet e as rede sociais. Mas, em vez de ficar se lastimando, o veículo se reinventa a cada dia, com a ajuda das tecnologias disponíveis. Seu conteúdo chega agora aí na tua casa, no teu trabalho, te distrai, te mantém informado, te acompanha e até interage contigo nos mais distantes rincões do país.
Os áudios históricos ouvidos desta série são registros do Museu de Imagem e do Som, de arquivos sonoros das emissoras e do CD que acompanha o livro "Histórias que o Rádio não Contou", de Reynaldo Tavares.