14/02/2019 17:40 - Meio Ambiente
Radioagência
Presidente da Vale diz que empresa é "joia brasileira" e não deve ser condenada por acidente
O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, disse (14/2) aos deputados da comissão externa da Câmara que trata da tragédia de Brumadinho que a empresa ainda não sabe o que causou o rompimento da barragem de Feijão:
"Passadas estas semanas desde o acidente, nós continuamos sem saber os motivos que causaram o acidente."
Fábio disse ainda que a Vale é uma "joia brasileira" e que não deve ser condenada por um acidente. Logo em seguida, o deputado Rogério Correia (PT-MG) pediu para falar porque o presidente da Vale teria usado a palavra "acidente":
"Nós estamos diante de um crime que ocorreu em Mariana e em Brumadinho e vem aqui o presidente da Vale dizer que ocorreu um acidente e que ele não sabe o motivo do acidente."
Mais à frente, o procurador de Minas Gerais, Antônio Tonet, disse que já existem indícios de que o que ocorreu não foi uma "obra da natureza":
"Já há elementos, prova documental, para indicar que esse rompimento não se deu por uma obra da natureza, que ninguém sabe o porquê. Já há indicativos bastante claros de que já havia uma preocupação muito grande dentro da própria empresa com relação à segurança daquela barragem. O próprio Ministério Público, a Promotoria de Defesa do Meio Ambiente, já havia instaurado um procedimento investigatório com relação à segurança daquela barragem específica."
Fábio Schvarstman disse então que não quis julgar o que houve. Ele explicou que a gestão de barragens funciona por delegação. Segundo ele, os laudos são fundamentais e também a autonomia que os gerentes locais têm para decidir em casos emergenciais. O gerente da barragem de Feijão morreu com o rompimento:
"Eu digo acidente porque é o que eu sei neste momento. Mas isso será apurado. É necessário acreditar em um sistema que depende da confiança nos seus diversos elos. O que significa isso? Você tem técnicos capacitados e que estão, na maior parte das vezes, nos próprios locais. Estas pessoas é que têm a condição de apertar o botão de problema. Porque eles estão lá. Não é alguém no Rio de Janeiro, na sede da companhia, que vai ter condição de dizer o que é e o que não é."
Fabio Schvartsman acrescentou que a Vale pediu para desativar a barragem em 2015, mas o licenciamento só foi aprovado no fim de 2018.
O subsecretário de Meio Ambiente de Minas Gerais, Hildebrando Neto, disse que só foi necessário o licenciamento porque a Vale queria aproveitar os rejeitos porque eles ainda tinham 50% de ferro.
Ele explicou que a empresa, de qualquer forma, tinha que garantir a estabilidade da barragem até a concessão do licenciamento.
O defensor público Antônio Pádua reclamou que a Vale estaria forçando um acordo com as vítimas, que ainda estão traumatizadas para pensar sobre o assunto. Também disse que a empresa quer delimitar agora a região afetada, embora alguns atingidos estejam em locais distantes. O relator da comissão, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), condenou essa postura da Vale:
"É uma disputa desleal na Vale negociando diretamente com a população envolvida, que não tem a menor condição e nem condição psicológica de negociar neste momento."
Fernanda Inojosa, do Ibama, disse que a Vale não pagou as multas já aplicadas pelo órgão. Segundo ela, a Samarco, que tem a Vale entre suas controladoras, até hoje não pagou multas relativas à tragédia de Mariana.