29/06/2018 19:14 - Direitos Humanos
Radioagência
Povos tradicionais de matriz africana cobram políticas públicas de combate a preconceito e violência
Povos tradicionais de matriz africana cobram, na Câmara, políticas públicas de cidadania e de combate a preconceitos e violências. Redes de articulação de comunidades negras debateram o tema (em 28/06) em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos. A Rede Nacional de Religiões Afrobrasileiras e Saúde (Renafro) defendeu a criação de delegacias especializadas na repressão aos crimes de racismo e de intolerância religiosa; o mapeamento da violência contra as religiões de matriz africana; e a indenização como forma de reparação desses crimes. Coordenadora da Renafro, Nilce Nascimento, a "Mãe Nilce", contou que, do início de 2017 até abril deste ano, houve 112 denúncias e 900 atendimentos relacionados à intolerância religiosa, somente no Rio de Janeiro. Também cresceram os ataques virtuais, sobretudo nas redes sociais.
"A intolerância cresce: discriminação; depredação; a criança que fez santo, mas que não pode entrar com os seus fios de conta; a pedrada na cabeça na menina de Logum. O pastor entra no hospital, o padre entra, mas a mãe de santo não pode entrar. Ela não vai matar galinha lá. Ela vai acolher o seu filho de santo, mas não pode".
Coordenador da Rede Brasil Afroempreendedor (Reafro), João Carlos Nogueira sugeriu ações para mobilizar e articular um milhão de empreendedores afrodescendentes.
"Nós sempre fomos vistos como mão de obra na relação de trabalho e consumidores: uma população que representa 54% - portanto, a maioria -, mas uma maioria ainda no consumo".
A Reafro apoia o projeto de lei (PL 4057/15) do deputado Vicente Cândido, do PT paulista, que cria o Programa Nacional do Afroempreendedorismo. O texto está em análise na Comissão de Direitos Humanos. Organizadora do debate, a deputada Erika Kokay, do PT do Distrito Federal, também defendeu a garantia de recursos públicos para ações de saúde e educação. Uma emenda parlamentar da deputada ao Orçamento da União permitiu a identificação de 700 terreiros no Distrito Federal e o mapeamento de 300 deles.
"O sentido do mapeamento é para romper essa invisibilidade e, ao mesmo tempo, possibilitar a construção de redes para que discutamos geração de emprego e renda e como instituir uma economia solidária que considere os povos tradicionais de matriz africana e os povos de terreiro".
Para Érika Kokay, os terreiros são "espaços de acolhimento e generosidade" diante dos sofrimentos humanos. A audiência pública, que começou com cânticos e preces, terminou com um discurso de reafirmação de "Pai Antônio de Oxalá".
"Somos brasileiros, pagamos impostos e temos o direito de exercer a nossa cidadania. E a religiosidade faz parte da nossa cidadania. Então, eu digo o seguinte: 'não mexe comigo, eu não ando só, eu sou de terreiro, eu sou brasileiro e eu sou de axé".