06/12/2017 11:02 - Meio Ambiente
Radioagência
Rapidez das mudanças climáticas na Amazônia preocupa deputados e cientistas da região
O aumento da temperatura global tem levado a Amazônia a conviver com secas e inundações severas e sucessivas, com sérios riscos à população e danos ao bioma. Só no Acre, estado que tem floresta em 87% de seu território, a população tem passado os últimos 14 anos ora ilhada pelas cheias dos rios ora sob o efeito de poeira e fumaça durante as queimadas, na época da seca. Diretora do Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação de Serviços Ambientais do estado, Vera Reis Brown admite que os cientistas da região estão perdendo o poder de previsibilidade climatológica diante da transição nos padrões amazônicos. A concentração de CO2 na atmosfera – medida em ppm, partes por milhão – é uma das variantes que tem registrado aumento significativo nos últimos anos:
"Sai de valores abaixo de 320 ppm, lá na década de 1960, para valores de até 407 ppm agora em 2017. Isso é muito significativo, e temos de estar alertas a esse processo porque podemos alcançar níveis em que a floresta amazônica não irá suportar. E muito menos, a saúde da população."
Vera Brown, que é doutora em ciências da engenharia ambiental, citou estudos que apontam risco de concentração de 600 a 900 ppm de CO2 na atmosfera por volta do ano 2100. A atividade humana – com o povoamento acelerado e o uso elevado de combustíveis fósseis, por exemplo – está diretamente ligada ao impacto que os gases do efeito estufa provocam na região. O deputado Leo de Brito, do PT do Acre, lembrou que a Amazônia é estratégica para a meta brasileira de reduzir as emissões de gases poluentes em 37% até 2025. Brito representou a Comissão de Integração Nacional na COP 23, a conferência da ONU sobre o clima, realizada em novembro, em Bonn, na Alemanha:
"E a Amazônia teve, inclusive, um dia próprio de eventos, o Amazon Bonn, tratando exatamente da importância da preservação da Amazônia para o Acordo do Clima, o Acordo de Paris. E nós somos testemunha de como as mudanças climáticas já são uma realidade para a Amazônia do ponto de vista da frequência de inundações e, da mesma maneira, das secas que sucessivamente têm castigado a região."
Em Bonn, o governo do Acre conseguiu aporte financeiro de 30 milhões de euros da Alemanha e do Reino Unido para financiar a segunda etapa de programas de REED+, ou seja, pagamentos pelos serviços ambientais de comunidades tradicionais e das boas práticas agroflorestais. O diretor do departamento de florestas do Ministério do Meio Ambiente, Jair Schmitt, citou a queda nos índices de desmatamento na Amazônia, mas também revelou temores:
"Alguns cenários nos preocupam, como esse de Rondônia, onde tivemos uma retomada de crescimento desproporcional ao que a gente vê na tendência da Amazônia; e o cenário do estado do Amazonas, embora, em números absolutos, não seja algo tão elevado, mas também não representa a redução proporcional como a que a gente vê nos demais estados. O desafio é grande. Acreditamos que 95% desse desmatamento seja ilegal."
Entre as demais ações de adequação e de mitigação das mudanças climáticas, os governos federal e do Acre mostraram o atual andamento de programas de regularização fundiária, prevenção de incêndios florestais e recuperação de vegetação nativa.