04/10/2017 17:39 - Relações Exteriores
Radioagência
Ex-chanceler critica posição do governo brasileiro em relação à Venezuela
O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim condenou a atitude do governo brasileiro que, segundo ele, tem isolado a Venezuela e deixado de buscar uma solução negociada para os conflitos daquele país. Amorim disse aos deputados da Comissão de Relações Exteriores da Câmara (nesta quarta-feira, 4) que isso é uma quebra de paradigma porque o Brasil sempre foi procurado por todos os países da região pela sua atitude moderadora.
Para o ex-chanceler, a posição de mediador normalmente exercida pelo Brasil foi praticamente descartada pelas declarações do atual governo a favor das forças que atuam contra o presidente venezuelano Nicolás Maduro. Para Amorim, o Brasil não deveria ter se posicionado por nenhum dos lados.
Celso Amorim e o sociólogo Marcelo Zero também classificaram como "gravíssimas" as ameaças de intervenção feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a Venezuela:
"Eu não me recordo, desde a invasão de Cuba pelo menos; mas certamente no caso da América do Sul; nenhum caso em que o presidente norte-americano tenha ameaçado um país sul-americano com o uso da força. Isso é uma coisa gravíssima. Muita gente pode dizer que o presidente Trump fala muito, escreve no Twitter... Mas ele é o presidente dos Estados Unidos, né? De qualquer maneira, eu acho algo extremamente grave que teria em si mesmo já justificado uma reunião extraordinária do Mercosul, uma reunião da Unasul."
Outra quebra de paradigma citada por Amorim foi a anunciada participação dos Estados Unidos em manobras militares na Amazônia. Segundo ele, é a primeira vez que o Brasil faz esta concessão para países que não são da região. Ele disse que a justificativa de que as manobras serão apenas humanitárias não é suficiente.
Ainda em relação à Venezuela, o sociólogo Marcelo Zero destacou que o país é importante para o Brasil em termos econômicos porque compra produtos industrializados e não apenas produtos agrícolas. Esse foi um dos motivos para a entrada do país no bloco econômico formado por Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil; o Mercosul; negociada desde os anos 90.
Para o governo brasileiro, porém, o governo venezuelano deu um golpe ao convocar uma Assembleia Constituinte para reformar a Constituição. A assembleia tem poderes superiores ao do Parlamento venezuelano, de maioria oposicionista. O deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) lembrou que a suspensão da Venezuela do Mercosul foi justificada por ruptura da ordem democrática:
"Não há uma profundidade de análise para se chegar à conclusão de assinatura de um documento, por quatro países, condenando a ruptura da ordem democrática interna de um país, participante do bloco, que é previsto no documento assinado por todos os países do bloco? Eu imagino que tenha profundidade de debate, né?
Mas o ex-ministro Celso Amorim defendeu que isolar a Venezuela é pior. Ele afirmou que após as sanções norte-americanas contra o país, a popularidade do presidente Maduro até aumentou. Amorim disse ainda que a internacionalização do conflito pode desestabilizar a região dada as relações próximas da Venezuela com a China e a Rússia.
Outra crítica do diplomata brasileiro foi em relação à aproximação do Brasil com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Segundo ele, o governo brasileiro busca um "selo de qualidade", entrando em acordo com os países mais desenvolvidos; mas abrirá mão de várias coisas sem garantir nada em troca.