08/06/2017 11:01 - Meio Ambiente
Radioagência
Especialistas defendem turismo sustentável em áreas de preservação ambiental
Um seminário sobre as unidades de conservação realizado na Câmara trouxe um debate enriquecedor sobre a gestão de áreas protegidas no Brasil. Na abertura do evento, o presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, Deputado Nilto Tatto, do PT de São Paulo, deu o tom do encontro: o desafio de promover o turismo sustentável em áreas protegidas e dinamizar as economias locais. Tatto questionou o compromisso do governo federal e da Câmara com as questões ambientais:
"Todo mundo acompanha esse momento que nós estamos vivendo agora, dos projetos de lei que estão sendo discutidos e avançando aqui dentro desta Casa, nós estamos vivendo um retrocesso da política ambiental muito grande. No momento que a gente vive uma crise econômica com 14 milhões de desempregados, para ter base para votar essas reformas, a agenda ambiental está entrando como moeda de troca nesse processo, nesse debate."
O ICMBio, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, é o órgão responsável pela gestão das 327 unidades de conservação federais, que são organizadas em doze categorias, dentro de dois modelos básicos: as UCs de proteção integral à natureza, e as UCs de uso sustentável dos recursos naturais. A visitação pública, permitida em algumas Unidades, como os Parques Nacionais, pode trazer resultados econômicos às comunidades locais. O Diretor de Criação e Manejo de Unidades de Conservação do ICMbio, Paulo Henrique Carneiro, apresentou vários dados sobre o potencial econômico das unidades de conservação:
"Sete mil voluntários em mais de 130 unidades; geração de emprego e renda para 50 mil famílias extrativistas; hoje existem as concessões florestais com mais de um milhão de hectares de floresta no Norte, isso gera mais de 170 mil metros cúbicos de madeira legal por ano. O turismo em unidades de conservação gera 23 mil empregos, isso gera uma renda de R$ 4 bilhões."
Paulo Henrique também comemorou o decreto presidencial que, no dia 5 de junho, ampliou a área do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, uma das unidades de conservação mais importantes do Centro Oeste. O parque agora tem 240 mil hectares de Cerrado preservados, quase quatro vezes o tamanho original.
Grande parte dos especialistas concorda em dois pontos: o turismo é a melhor alternativa para conciliar desenvolvimento econômico e preservação ambiental nas unidades de conservação e em seu entorno. O maior desafio é o combate ao desmatamento. O pesquisador do Instituto Imazon, que faz o monitoramento extraoficial do desmatamento no Brasil, Heron Martins, trouxe novos dados sobre o perfil do desmatamento:
"Hoje em dia, a grande fronteira do desmatamento é a BR-163, sul do Amazonas, onde nós temos grandes áreas de unidades de conservação e, com isso, gera os grandes conflitos."
Mas na opinião do superintendente do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade, Manoel Serrão, a política ambiental brasileira continua bem-sucedida:
"Sem medo de parecer Poliana, eu vou ter a grata satisfação de contar um caso de sucesso. O Brasil, apesar dos pesares, continua sendo um exemplo global de sustentabilidade, de conservação, em particular quando a gente trata de unidades de conservação."
Alguns especialistas acreditam que a visitação também ajuda a formar uma corrente de opinião a favor do direito à vida dos seres humanos e da preservação dos animais e da vegetação. Mas os recursos recebidos por meio das taxas de visitação dos parques e das multas por crimes ambientais devem ser aplicados no próprio manejo de fauna e flora.
Em relação ao desenvolvimento sustentável no entorno das UCs, uma voz dissonante foi a do Conselheiro da Rede Pró Unidades de Conservação, Clóvis Borges:
"Eu queria fazer uma consideração sobre o uso de recursos de multas e compensação e etc. Há uma percepção prática que muitos desses recursos acabem tendo uma destinação equivocada, e que deveria existir por parte do poder público uma discussão mais aprofundada sobre isso. Estou falando de recursos utilizados para a execução de projetos. Indicador de conservação não é avanço social. Indicador de conservação não é quanto que rendeu a floresta. Fazer avanço social com dinheiro de conservação deveria ser crime."
O Seminário aconteceu nesta quarta, 7 de junho, como parte da programação da Câmara dos Deputados para a Semana do Meio Ambiente.