15/10/2013 20:47 - Saúde
Radioagência
Ministério anuncia transplante pelo SUS para quem sofre de anemia falciforme
Uma notícia aguardada há anos por brasileiros que sofrem de anemia falciforme foi dada nesta terça-feira durante um debate sobre saúde da população negra na Câmara dos Deputados. A partir do ano que vem, quem for portador da doença e tiver indicação médica de transplante de medula óssea poderá fazer o procedimento de graça pelo SUS, Sistema Único de Saúde. A perspectiva é do Ministério da Saúde. Hoje, esse tipo de transplante só é feito experimentalmente, atendendo menos de 100 pessoas. Elvis Silva Magalhães foi uma delas.
"Convivi com doença falciforme durante 38 anos, sei tudo o que uma pessoa com doença falciforme sofre. A gente nasce já muito consciente do que é dor. Sofremos durante toda a nossa vida com úlceras de região de tornozelo que não cicatrizam, internações que nem dá para enumerar. Em 2005, fizeram meu transplante de medula óssea e minha vida foi mudada completamente. Deixei de ter olho amarelo, pele pálida, sofrer preconceito por causa disso..."
Por causa dos bons resultados, já existe consenso no governo de que o transplante de medula óssea deve ser oferecido pelo SUS a quem tem doença falciforme, segundo a representante da Coordenação do Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, Patrícia Gonçalves Freire. Antes disso, as regras devem ser colocadas em consulta pública em dezembro. Ela fala da expectativa de atendimento:
"A população negra brasileira é maioria, a prevalência da anemia falciforme na população negra é muito grande. Não posso te dar esse número com muita precisão, mas a gente acredita que pelo menos 100 pessoas por ano devam se beneficiar com essa indicação”.
A medida vem ao encontro do que cobraram representantes de movimentos negros e os deputados da Comissão de Seguridade Social: de que é preciso tirar do papel a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, que existe desde 2006. Maria Aparecida Patroclo, da ONG Criola, reivindica que as especificidades dos negros sejam consideradas em todos os tratamentos de saúde:
"É necessário que a gente faça uma revisão e dê a ele uma conotação concreta e prática onde o negro adentra a nossa política de saúde em todas as suas dimensões. E não fazer um puxadinho dele, numa política específica, restrita, com orçamento pequititinho”.
Deputados concordam que é preciso dar mais atenção à saúde da população negra. Erika Kokay, do PT do Distrito Federal, que está entre os parlamentares que pediram a realização do debate, fez uma sugestão para acompanhar as melhorias na área:
"Criar mecanismos de monitoramento da implementação e de auxílio à implementação no conjunto dos municípios que é onde se efetivam as políticas”.
A anemia falciforme é uma doença hereditária e atinge principalmente a população negra. Os sintomas vão desde a anemia até o comprometimento da circulação do sangue, além de dores. Como os portadores estão mais sujeitos a infecções, se não receberem tratamento adequado podem até morrer. O Ministério da Saúde estima que cerca de 3500 crianças nasçam todos os anos com a doença.