Trabalho, Previdência e Assistência

Comissão defende ampliação dos direitos dos empregados domésticos

Representantes do Ministério da Fazenda e dos empregadores alertam para risco de desemprego e informalização. Segundo eles, o aumento dos benefícios representa um alto crescimento das despesas dos patrões com os empregados domésticos.

05/10/2011 - 21:12  

Leonardo Prado
Mário Avelino (diretor do Instituto Doméstica Legal), Tânia Mara Costa (coord. Geral de Fiscalização do Trabalho Ministério do Trabalho e Emprego), dep. Benedita da Silva (PT-RJ), Arnaldo de Lima Jr. (coordenador-Geral da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda), dep. Marçal Filho (PMDB-MS), André Gambier Campos (técnico de Planejamento e Pesquisa IPEA), Antônio de Oliveira Lima (procurador do Ministério Público do Trabalho), Creuza Maria Oliveira (presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas),  Ângela Nascimento (diretora de Programas da Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas -  SEPIR/PR)
Debatedores defenderam uma mudança na mentalidade do brasileiro em relação ao empregado doméstico.

A equiparação dos direitos dos empregados domésticos aos dos demais trabalhadores foi defendida nesta quarta-feira por representantes de diversos órgãos e entidades públicas. O debate ocorreu durante audiência pública na comissão especial da Câmara que discute a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 478/10, que amplia os direitos dos trabalhadores domésticos.

O técnico em planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) André Gambier Campos defendeu a internalização, pela legislação brasileira, dos avanços da Convenção 189 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Entre estes avanços estão a definição de jornada de trabalho idêntica à dos demais trabalhadores; a estipulação de ambientes de trabalho seguros, com o pagamento de adicionais para atividades insalubres; a atribuição de liberdade de organização e negociação coletiva; a exigência de inspeção laboral; FGTS e seguro desemprego.

Campos acredita que não é necessário modificar a Constituição Federal para que os direitos passem a valer para os empregados domésticos. "O caput da Constituição já abre a possibilidade de novos direitos para os trabalhadores. Se a convenção for aprovada pelo Congresso Nacional, vira lei ordinária", sugeriu.

Adicional noturno
Defendendo uma mudança na mentalidade do brasileiro em relação ao empregado doméstico, a presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), Creuza Maria de Oliveira, lamentou o fato de existirem patrões jovens, na faixa dos 20 anos, que acham que eles e seus filhos devem ter empregados domésticos e não pagar bem pelo serviço.

A dirigente contou o caso de um empregador que foi ao sindicato das domésticas de Salvador (BA) para rescindir o contrato com sua empregada porque ela se recusara a servi-lo às 22 horas. "Tem que ter carga horária, adicional noturno. Só desta forma os empregadores vão respeitar o empregado", afirmou.

Creuza reclamou ainda do fato de o Ministério do Trabalho e Emprego repassar questões como as horas extras para a negociação entre empregador e empregado. "Que organizem um sindicato patronal, então", reclamou, arrancando aplausos do plenário cheio.

Discriminação
Para o procurador do Ministério Público do Trabalho Antônio de Oliveira Lima nada explica o fato de a Constituição de 1988, que faz aniversário nesta quarta-feira (5), ter discriminado os empregados domésticos, dando a eles menos direitos do que aos demais trabalhadores. "Defendemos a cidadania fora da nossa casa, mas esquecemos de defendê-la dentro do nosso próprio lar", afirmou o procurador.

Respondendo ao procurador, a relatora da comissão e defensora dos direitos das domésticas, deputada Benedita da Silva (PT-RJ), que foi constituinte em 1988, disse que, naquela época, o puro e simples reconhecimento da categoria já foi “um movimento histórico”. “Era o máximo que conseguiríamos naquela correlação de forças, mesmo existindo nossos sindicatos”, relembrou Benedita.

O procurador do Ministério Público disse não acreditar que a concessão de novos direitos vá causar desemprego entre os empregados domésticos, 93% deles mulheres e 57% mulheres negras. "Quem descumpre hoje vai continuar descumprindo, quem cumpre, vai continuar cumprindo, independentemente de os direitos aumentarem", afirmou.

Reportagem – Mariana Monteiro
Edição – Marcelo Westphalem

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