Segurança

Comissão externa vai acompanhar investigações sobre assassinato de Marielle Franco

Medida foi anunciada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em sessão solene em homenagem à vereadora do Psol, morta a tiros na noite de quarta-feira (14) no Rio de Janeiro

15/03/2018 - 14:06   •   Atualizado em 15/03/2018 - 16:50

Gilmar Félix/Câmara dos Deputados
Homenagem à vereadora do PSOL, Marielle Franco, morta ontem no Rio de Janeiro
Parlamentares e convidados durante a homenagem a Marielle Franco

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, anunciou nesta quinta-feira (15) a criação de uma comissão externa para acompanhar as investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco, morta com quatro tiros na cabeça na noite de quarta-feira (14), no Rio de Janeiro. No carro estavam o motorista Anderson Pedro Gomes, que morreu, e uma assessora, que ficou ferida.

A comissão externa foi proposta pelos deputados Jean Wyllys (Psol-RJ), Erika Kokay (PT-DF), Luiza Erundina (Psol-SP) e Wadih Damous (PT-RJ). A criação do colegiado foi autorizada pelo presidente da Câmara durante sessão solene em homenagem à vereadora.

Jean Wyllys se emocionou ao falar de Marielle Franco. “Estamos aos pedaços agora, mas vamos nos juntar e não vamos esquecer: as ideias são à prova de bala”, disse, ao pedir ao presidente da Câmara a criação da comissão externa sobre o crime. “Não vai ficar impune, nem a memória dela será esquecida”, afirmou.

“Acho importante a Câmara participar, já que foi um assassinato brutal de uma parlamentar. É nosso papel fiscalizar os atos, mesmo porque os órgãos de segurança estão sob responsabilidade federal e cabe, sim, uma comissão externa para tratar desse assunto”, disse Rodrigo Maia em entrevista após a sessão solene.

Coordenadora adjunta da bancada feminina na Câmara, a deputada Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO) afirmou que o caso Marielle é um exemplo de feminicídio e de violência política contra a mulher. “Que o caso seja simbólico e que a Casa se envolva na comissão externa com a participação de todos os parlamentares, em especial da bancada feminina”, disse.

VÍDEO: Wyllys e Maia na sessão solene

Protestos
Socióloga, Marielle Franco foi assessora parlamentar do deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) antes de se eleger vereadora em 2016, como a quinta mais votada entre todos os candidatos. Na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, presidia a Comissão de Defesa da Mulher. Era contrária à intervenção federal no Rio. 

Nesta manhã, durante a sessão solene no Plenário, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) cobrou a votação de proposta que trata do abuso de autoridade. Quatro dias antes de ser assassinada, Marielle Franco fez denúncias contra a violência policial em Acari, comunidade na zona norte do Rio de Janeiro. As primeiras investigações incluem a hipótese de execução.

Chinaglia também criticou o discurso de ódio nas redes sociais contra a pauta dos direitos humanos, defendida por Marielle Franco. “Já há ratos nas mídias sociais tentando passar a ideia de que a mobilização de indignação e de solidariedade é em decorrência do assassinato de uma das nossas”, afirmou. “Tentam desqualificar o conteúdo da pauta dos direitos humanos.”

A deputada Luiza Erundina também se manifestou neste sentido. “Não vão conseguir calar a voz da Marielle, que vai se reproduzir, aos milhares e aos milhões, por este País afora, junto com as outras vinte vítimas idênticas a Marielle, que colocaram suas vidas a serviço de direitos até hoje não assegurados pelos sucessivos governos deste País”, disse.

Durante a sessão solene, militantes e defensores dos direitos humanos protestaram no Plenário contra o assassinato da vereadora e gritaram palavras de ordem contra o presidente da República, Michel Temer; contra a Polícia Militar do Rio de Janeiro; contra a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro; e contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Intervenção
A segurança pública no estado do Rio de Janeiro está sob intervenção federal desde fevereiro último. A Presidência da República informou que acompanhará o caso Marielle, e o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, colocou a Polícia Federal à disposição para as investigações.

Criada no último dia 5, uma comissão externa formada por 42 deputados e deputadas monitora as operações no estado. A Câmara também criou o Observatório Legislativo da Intervenção Federal na Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (Olerj), para acompanhar a intervenção.

Reportagem - Luiz Gustavo Xavier
Edição - Ralph Machado

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