Saúde

Debatedores apontam afrouxamento em ações e programas de combate à aids

Durante 11º Seminário LGBT do Congresso Nacional, participantes alertaram para a falsa sensação de que a epidemia estaria sob controle com novas drogas.

06/06/2014 - 14:03  

Arquivo/ Alexandra Martins
Direitos humanos e minorias - Homossexuais - IX Seminário LGBT no Congresso Nacional Respeito à Diversidade se Aprende na Infância Sexualidade, Papéis de Gênero e Educação na Infância e na Adolescência
Seminário realizado na Câmara teve como tema "Aids: Formas de saber. Formas de adoecer".

Debatedores do 11º Seminário LGBT do Congresso Nacional apontaram um afrouxamento no conjunto de ações e programas de governo voltados para combater o avanço da aids no País. Segundo eles, paira uma falsa sensação de que a epidemia está controlada, sobretudo por conta de remédios mais eficazes, com menos efeitos colaterais, e que melhoram a qualidade de vida do portador do vírus HIV que já desenvolveu a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (em inglês, aids).

“Hoje em dia, quando tratadas, as pessoas convivem com o HIV e têm uma vida praticamente normal”, destacou o deputado Jean Wyllis (Psol-RJ), um dos organizadores do seminário que teve como tema "Aids: Formas de saber. Formas de adoecer". Para ele, essa nova realidade mudou o discurso público em torno da aids. “Isso trouxe um efeito muito ruim que foi o afrouxamento da prevenção e a invisibilidade da doença no discurso público de saúde”, acrescentou.

Para Wyllis, a falta de campanhas informativas e de prevenção da aids tem feito a doença avançar sobre grupos de homens jovens gays (15 a 25 anos), mulheres, pessoas pobres e moradores do interior do País. “Alguma coisa não está funcionando na política de prevenção à aids. E a gente precisa fazer esse diagnóstico. O que é que mudou?”, questionou.

Médico e coordenador do Programa de Mestrado em DST/aids e Hepatites Virais da UnioRio, Fernando Ferry, afirmou que a sensação de que a epidemia está controlada favorece novos contágios. “Hoje enquanto você está fazendo o tratamento, você tira da mídia toda a questão da morte, incluindo a de pessoas famosas, porque as famílias não permitem que se divulgue”, disse ele, ressaltando que a desinformação é um grande problema, sobretudo entre os jovens.

Segundo Ferry, no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, no Rio, onde ele atua, os pacientes infectados são geralmente pobres, jovens, negros, homossexuais e mulheres. “Como a maioria toma conhecimento do HIV na emergência, muitos já apresentam a doença em estágio avançado”, completou ele, destacando também o aumento de novos casos de outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), como hepatite, sífilis e HPV.

Para a jornalista Roseli Tardelli, a acomodação em relação à epidemia de aids não envolve só governos mas também a mídia e a comunidade científica. “Parece que a ciência já respondeu a uma pergunta importante. Hoje nós temos aí uma série de remédios que permitem conviver com HIV/aids”, disse Tardelli, que atua como diretora-executiva da Agência de Notícias da Aids.

“Mortes e as tragédias que foram a vivência da aids como nós vivemos, como a minha família viveu, como a mãe do Cazuza viveu, e tantas outras viveram, não estão mais sendo retratadas”, completou ela, que criou a agência após perder um irmão para a doença.

Desconhecimento
O deputado Amauri Teixeira (PT-BA), que preside a Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara, afirmou que a atual geração desconhece a dimensão da doença. “Nós somos de uma geração que conhece a aids em sua fase mais cruel. Perdemos amigos, ídolos e pessoas que admirávamos”, afirmou. Para ele, a informação é a base de toda e qualquer política de saúde e deve ser usada como instrumento de prevenção e de esclarecimento.

“É preciso esclarecer para prevenir e para deixar claro que o portador não é nenhum bicho de sete cabeças.”
Para a médica infectologista da Fiocruz, Valdiléa Veloso dos Santos, os avanços da ciência em termos de prevenção e tratamento devem estar acessíveis a todos. “Temos que encontrar uma forma de comunicar o que existe hoje para pessoas de diferentes níveis de escolaridade e de inserção na sociedade e com diferentes necessidades. Porque não podemos ampliar as desigualdades”, disse.

No ano de 2012, foram notificados 39.185 casos de aids no Brasil. A taxa de detecção nacional foi de 20,2 casos para cada 100.000 habitantes. As maiores taxas de detecção ocorreram no Rio Grande do Sul (41,4), em Santa Catarina (33,5), no Amazonas (29,2) e no Rio de Janeiro (28,7).

Reportagem – Murilo Souza
Edição – Rachel Librelon

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