Relações exteriores

Para deputado, Mercosul está estagnado e Argentina se comporta como “criança difícil”

07/05/2014 - 19:54  

O deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ) questionou o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, se não seria adequado no momento atual ampliar o campo de ação do Brasil para além do Mercosul, bloco que estaria, em sua opinião, estagnado. O chanceler participou de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (7).

Antonio Augusto / Câmara dos Deputados
Audiência pública para discutir temas afetos à formulação e à execução da política externa brasileira. Dep. Alfredo Sirkis (PSB-RJ)
Para Sirkis, Brasil deveria expandir sua atuação para toda a América Latina, não ficar restrito ao Mercosul.

“A Argentina é, como alguns diplomatas já me confidenciaram, um enfant terrible [criança difícil], que o Brasil precisa ficar administrando. Não seria o caso de ampliar nossa atuação para toda a América Latina e pensarmos mais nos outros países, inclusive aqueles da banda do Pacífico, como México e Costa Rica?”, indagou Sirkis.

O ministro negou que a integração entre as nações do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela) esteja mais atrasada que aquela encontrada pelos países da recém-formada Aliança do Pacífico (México, Colômbia, Peru e Chile). Para ele, a integração do Mercosul está até mais adiantada e continua avançando.

O chanceler acrescentou que a relação entre Brasil e Chile chegou ao ponto de 98% das importações e exportações entre os dois países estarem liberadas, enquanto entre o Chile e os países que compõem a aliança esse percentual seria de 90%. "Temos hoje livre comércio com o Chile. Isso é impressionante."

No caso do Mercosul, ele sustentou que o comércio no bloco continua crescendo. "O futuro da América do Sul será de uma maior aproximação entre todos. Queremos um continente forte", disse.

Já o deputado Emanuel Fernandes (PSDB-SP) contestou a informação de que o comércio dentro do Mercosul teria aumentado sensivelmente. Para ele, o dado precisa ser comparado com a evolução do comércio que se dá fora do bloco. “Se não há aumento, mas apenas substituição de comércio externo por comércio dentro do bloco, isso não é vantagem nenhuma”, explicou.

Brics
Sirkis criticou também o posicionamento do Brasil quanto à crise que ocorre na Ucrânia. Além disso, defendeu que seja diferenciada a relação do País com os outros membros dos Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). “A relação com a China é extremamente estratégica, com a Rússia, nem tanto”, declarou.

Figueiredo Machado lembrou então que o Brics realizará sua 6ª cúpula em breve, quando deverá ser discutida a criação de um banco de investimentos formado para promover o desenvolvimento dos países que compõem o grupo e de outros países de baixa e média renda.

Irã
Em resposta a pergunta do deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP) sobre o Irã, Figueiredo respondeu que o atual governo do país pérsico busca resolver todas as suas questões internacionais relacionadas à energia nuclear. Também perguntado sobre a crise na Ucrânia, o chanceler justificou que o Brasil se absteve de censurar o plebiscito realizado pela população de origem russa da Crimeia por questões de redação do texto. “Nós apoiamos a Ucrânia, independentemente de qualquer resolução”, comentou.

Duarte Nogueira havia dito mais cedo que houve opções políticas equivocadas na política externa do governo Dilma Rousseff. Segundo o parlamentar, o Itamaraty ficou “a serviço do humor da presidente”. Além do Irá, o parlamentar também citou a relação com a Síria e a parceria frustrada com a Venezuela para a construção da refinaria Abreu Lima, em Pernambuco.

“Enquanto outras regiões estão se integrando, estamos vendo o Brasil ficar para trás”, afirmou. Ele acrescentou que reportagem recente do jornal Financial Times apontou uma decadência na projeção internacional do País. Segundo o periódico, “tentar ser amigo de todos já não é mais uma opção”, relatou Nogueira.

Respostas

Leonardo Prado
Henrique Fontana
Henrique Fontana refutou críticas à política externa: "Não há este caos que a oposição tenta criar nos debates".

O deputado Nelson Pellegrino (PT-BA), respondeu, no entanto, que é inegável a evolução que o Brasil obteve no campo internacional. “Antes, o País era ignorado e suas opiniões não eram sequer ouvidas. Hoje, essa realidade mudou completamente”, argumentou.

Na mesma linha, o deputado Henrique Fontana (PT-RS) considerou exageros da parte da oposição ao apontar possíveis falhas na condução das relações exteriores do Brasil. “Um país que estivesse na situação pintada pelos deputados da oposição não estaria atraindo os investimentos externos e obtendo o crescimento econômico que temos conseguido. Não há este caos que a oposição tenta criar nos debates”, destacou. Fontana acrescentou que, enquanto o mundo perdeu 68 milhões de empregos, o Brasil gerou 11 milhões de postos de trabalho entre 2003 e 2009.

Figueiredo Machado salientou que o Brasil é hoje referência mundial como uma nação que foi capaz enfrentar a pobreza e distribuir renda, com crescimento econômico e em um contexto democrático. “Fui informado que 68 países já procuraram informação sobre nosso programa de distribuição de renda.”

CPLP
Já a deputada Janete Rocha Pietá (PT-SP) demonstrou preocupação com o crescimento do xenofobismo e do racismo em vários países do globo, principalmente com relação a correntes migratórias. Ela lembrou também que os países africanos têm cobrado uma atuação maior do Brasil no campo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Reportagem – Juliano Machado Pires
Edição – Marcelo Oliveira

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