Câmara entrega medalha Mietta Santiago para Marielle Franco in memoriam

19/03/2019 - 12:18  

A Câmara dos Deputados entregou, em sessão solene no Plenário nesta terça-feira (19), a medalha Mietta Santiago. Criada em 2017 por iniciativa da Secretaria da Mulher, a condecoração valoriza iniciativas relacionadas aos direitos das mulheres e é entregue anualmente em março, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher (8).

Neste ano, cinco mulheres foram escolhidas pela bancada feminina para receberem a medalha:

- A vereadora Marielle Franco, que foi assassinada em março do ano passado. Socióloga, militante na área dos direitos humanos, foi presidente da Comissão da Mulher da Câmara Municipal do Rio de Janeiro e integrava a comissão que investigava abusos das Forças Armadas e da polícia durante a intervenção federal no Rio.

- A médica Beatriz Bohrer de Amaral, que realiza trabalho de promoção da saúde da mulher, no diagnóstico precoce do câncer de mama e da osteoporose, no Rio Grande do Sul. Coordena o Projeto Mulher & Saúde, que tem o objetivo de informar as mulheres sobre hábitos e cuidados necessários para promover a sua saúde.

- A professora Gina Ponte, que idealizou o Projeto Mulheres Inspiradoras, adotado em mais de 40 escolas públicas do Distrito Federal, no qual incentiva a leitura de grandes autoras da literatura mundial e brasileira, o estudo da biografia de grandes mulheres e promove dinâmicas com mulheres inspiradoras das comunidades dos alunos.

- A cientista Gabriela Lemos, que desenvolveu uma pesquisa inovadora, que permite a captação de fotografias através da reprodução de pequenos feixes de partículas, possibilitando a construção de uma imagem que não é visível a olho nu (como um ferimento interno ao corpo humano).

- A doutora em Bioquímica Debora Foguel, que tem se dedicado ao estudo dos mecanis

responsáveis por doenças como Alzheimer, Parkison e Polineuropatia Amiloidótica Familiar.

Homenagem em vida

A viúva de Marielle, Monica Benicio, que recebeu o prêmio em nome da vereadora, disse que a homenagem ajuda a tornar Marielle um símbolo de referência, de inspiração e de luta. Mas ressaltou que é importante que as mulheres sejam homenageadas ainda em vida. “É fundamental que a gente tenha nessa Casa paridade para que a gente tenha as mulheres legislando pelas mulheres, para que a gente possa eliminar as violências a que somos submetidas, o machismo e o racismo”, acrescentou.

Já a professora Gina Ponte destacou que as mulheres são alijadas dos espaços de poder, retirando das meninas modelos de conduta, pessoas que lhes sejam fonte de inspiração. “O meu desejo é que cada vez mais meninas possam ser alcançadas pelo Projeto Mulheres Inspiradoras, para que, assim como Marielle, possam viver a máxima que Dona Djanira, minha mãe, repetiu para mim durante toda minha vida: ‘Quando disserem que você não cabe em um lugar é para lá que você vai.’”

A cientista Gabriela Lemos, por sua vez, cobrou investimentos do governo em ciência e em educação, além de programas para atrair meninas para as ciências exatas.

História
Mietta Santiago nasceu em Varginha (MG), foi escritora, poetisa, advogada sufragista e feminista. Ela questionou, por meio de um mandado de segurança em 1928, a proibição do voto feminino no Brasil, afirmando que isso violava a Constituição então vigente, que não vetava esse voto. Conseguiu assim o direito de votar e o de concorrer ao cargo de deputada federal, tornando-se a primeira mulher brasileira a exercer plenamente seus direitos políticos.

“Foi uma desbravadora dos direitos das mulheres brasileiras”, resumiu o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em discurso lido no Plenário. Para ele, a premiação ajuda as brasileiras a conhecer a história de Mietta e pode estimular as mulheres a participar do processo político nacional.

Reportagem – Lara Haje
Edição – Roberto Seabra