Política e Administração Pública

Prisão dos condenados no mensalão repercute no Plenário da Câmara dos Deputados

Petistas chamam condenados de presos políticos. Para oposição, são políticos presos.

19/11/2013 - 18:50  

Gustavo Lima / Câmara dos Deputados
Sessão Deliberativa Ordinária. Dep. José Guimarães (PT-CE)
José Guimarães: PT não comprou apoio no Congresso.

A prisão dos dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT) –  o ex-ministro José Dirceu, o deputado licenciado José Genoino (PT-SP) e o ex-tesoureiro Delúbio Soares – condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão repercutiu no Plenário da Câmara dos Deputados nesta terça-feira.

Até agora, foram presos 11 condenados pelo STF, entre integrantes do PT e de outros partidos, banqueiros e donos das empresas de publicidade que coordenaram os repasses de dinheiro do escândalo do mensalão. O ex-diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, está foragido. Também foram condenados os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar da Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT).

Enquanto petistas reafirmaram o apoio aos companheiros de partido, chamados de presos políticos, a oposição afirma que o julgamento foi democrático e justiça foi feita. Já o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, reclamou que a Casa não foi notificada oficialmente pelo STF sobre a prisão do deputado licenciado José Genoino. “A Casa não recebeu nenhuma comunicação a respeito da prisão de um parlamentar, independente do mérito”, disse.

Caixa dois
O líder do PT, deputado José Guimarães (CE), falou por cerca de 20 minutos contra a condenação dos dirigentes petistas: o deputado licenciado José Genoino e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Os dois foram condenados pelo Supremo por formação de quadrilha e corrupção ativa.

Guimarães, que é irmão de Genoino, disse que o PT não comprou apoio no Congresso, como diz a condenação. “Esse crime o PT não cometeu, porque o PT não é corrupto, e muito menos aqueles presos são corruptos. Se cometeram erros, foram erros da política brasileira, porque ela gera caixa dois e ninguém quer discutir o financiamento público de campanha”, disse Guimarães, que reforçou a tese da defesa de que os petistas cometeram crime eleitoral, não corrupção.

O deputado disse que esteve no Complexo Penitenciário da Papuda (DF) hoje visitando o irmão que, segundo ele, está sendo tratado com desumanidade. Genoino passou por uma cirurgia cardíaca neste ano e já pediu a prisão domiciliar por questão de saúde. “Ele não pode comer, porque tem problemas de coagulação. Não adianta medicamento sem dieta. Estão praticando as mais altas brutalidades”, disse.

Os deputados Reginaldo Lopes (PT-MG) e Sibá Machado (PT-AC) também manifestaram solidariedade aos petistas. “Assistimos a um escândalo jurídico no País, quando o presidente do STF [Joaquim Barbosa] rasga a Constituição e abusa da autoridade para condenar pessoas inocentes”, disse Sibá.

Políticos presos
A oposição, no entanto, contestou a tese de julgamento político levantada pelos petistas. O líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado (GO), lembrou que oito dos onze ministros do STF responsáveis pela prisão dos réus do mensalão foram indicados pelo governo do PT.

Caiado disse que os presos não podem ser tratados como heróis, já que foram condenados por corrupção ativa e formação de quadrilha. “Não cabe o PT vir aqui enaltecer condenados e os tratar como presos políticos. São políticos presos pela prática da corrupção. Não são heróis, mas prestam desserviço à politica nacional”, disse.

Mensalão mineiro
O líder da Minoria, deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), disse que o partido está pronto para discutir o escândalo de Marcos Valério na campanha do PSDB ao governo de Minas Gerais em 1998, o chamado mensalão mineiro. “Eu sei que já tentaram trazer à baila o debate sobre Minas Gerais, sobre outros assuntos. O PSDB está pronto”, disse. Esse escândalo deverá ser julgado pelo STF em 2014.

Leitão ressaltou que o mensalão foi um “instrumento para fazer que o Governo Lula funcionasse do jeito que ele queria”. “Não precisa tripudiar sobre os condenados, mas não vamos aceitar que venham dizer que não há culpados e que tudo são ações políticas”, condenou.

Ampla defesa
O deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP) também criticou a tentativa de se chamar os condenados do mensalão de presos políticos. “Dizer que houve julgamento político é distorcer a história dos presos políticos do passado. Eles eram pegos por autoridades sem saber por que tinham sido presos, sem conhecimento da imprensa. Nesse caso, no entanto, foram seis anos de ação judicial, com contraditório, conhecimento da imprensa e ampla defesa”, afirmou.

Reportagem – Carol Siqueira
Edição – Newton Araújo

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