Política e Administração Pública

Texto final da CPMI do Cachoeira não terá mudanças substanciais, diz relator

Hoje foram detalhados os cinco votos em separado apresentados ao relatório de Odair Cunha, pedindo novos indiciamentos e ampliação das investigações. Texto final poderá ser votado na próxima terça-feira.

11/12/2012 - 15:16  

Alexandra Martins
Reunião: discussão e votação do relatório final
Odair Cunha admitiu incluir sugestões feitas durante a reunião desta terça da CPMI do Cachoeira.

O relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), reiterou, nesta terça-feira, que não vai fazer mais mudanças substanciais em seu relatório, ainda que tenha admitido incluir no texto sugestões feitas durante a reunião de hoje.

Uma nova reunião foi marcada para a próxima terça-feira (18), quando o relatório deverá ser votado, apenas quatro dias antes do prazo para o encerramento dos trabalhos da CPMI. "Havendo decisão política, o tempo é o menos importante; neste momento atual, as forças não estão constituídas", afirmou.

Na reunião de hoje, foram detalhados os cinco votos em separado  apresentados ao relatório: do DEM, do Psol, do PSDB, do PPS e do deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF). Esses textos pedem o indiciamento de mais agentes públicos e privados e cobram a investigação mais aprofundada de uma série de empresas, especialmente as que mantiveram relações contratuais com a Delta Construções S/A.

"Muito do que foi apresentado nos votos em separado e sugerido pelos parlamentares já está no meu relatório, que englobou tudo o que foi investigado pela CPMI", disse Cunha.

Relatório “improvisado”

Alexandra Martins
Reunião: discussão e votação do relatório final
Álvaro Dias: relatório de Odair Cunha tem adjetivações maldosas contra o procurador-geral da República.

Havia a expectativa de a votação dos relatórios começar na reunião de hoje, mas a identificação de uma série de "erros materiais" no texto de Odair Cunha fez com que o presidente da CPMI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), adiasse a deliberação.

Primeiro, o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG) apontou o indiciamento do jornalista da Veja Policarpo Junior no relatório final; em seguida, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) declarou que o texto também cita o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, com "adjetivações maldosas", enquanto o relator havia garantido que os nomes de Gurgel e de cinco jornalistas (inclusive Policarpo) seriam retirado.

Depois da decisão de Vital do Rêgo, diversos parlamentares da oposição criticaram a postura do relator, que teria apresentado um documento com mais de 5 mil páginas de "forma improvisada", conforme definiu o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Votos em separado
O primeiro voto em separado apresentado na reunião de hoje foi do líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR). Com 73 páginas, ele pede abertura de inquérito para apurar a relação do bicheiro Carlinhos Cachoeira e da construtora Delta com cinco governadores: Agnelo Queiroz (PT-DF), Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Siqueira Campos (PSDB-TO), Marconi Perillo (PSDB-GO) e Sinval Barbosa (PT-MT). Desses, apenas Perillo foi citado com o pedido de indiciamento no relatório “oficial”.

O voto em separado do Psol foi apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues (AP). Ele também pede o indiciamento dos governadores Agnelo Queiroz, Sérgio Cabral e Siqueira Campos, além do secretário de Relações Institucionais do Tocantins, Eduardo Siqueira Campos, e do deputado federal Sandes Júnior (PP-GO).

Randolfe Rodrigues lamentou também o fato de a comissão não ter realizado a quebra de sigilo de empresas ligadas à Delta. “Este era um direito que a CPMI não tinha: de não quebrar o sigilo das empresas ligadas à empreiteira Delta”, disse.

Investigar o governo do Rio

Alexandra Martins
Reunião: discussão e votação do relatório final
Onyx Lorenzoni: relatório de Cunha é chapa branca e busca proteger o governo federal e o do Rio de Janeiro.

O DEM, entre outras coisas, pediu investigação das relações da Delta com o governo do Rio de Janeiro. O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que apresentou o voto em separado, classificou o relatório de Cunha de “chapa branca”.

“Tenho que, tristemente, chamar o relatório de chapa branca. De maneira clara, buscou proteger e salvaguardar outros interesses, alguns localizados no estado do Rio de Janeiro e relativos ao governo federal, e que acabaram trazendo à luz, no depoimento do senhor Antonio Pagot [ex-diretor do Dnit], o cometimento, na minha visão, de crime.”

Proteção do governo federal
O senador Álvaro Dias, que apresentou o voto em separado do seu partido, afirmou que o relatório de Cunha não trouxe novidades e buscou proteger os interesses do governo federal. “O relatório do deputado Odair Cunha é apenas a compilação do trabalho apresentado pela Polícia Federal no Centro-Oeste do País. Quando chegamos além do Centro-Oeste, a CPMI parou. Ela foi impedida de continuar”, disse.

Dias pediu que o Ministério Público Federal investigue o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu por suposta participação no esquema de desvio de recursos em contratos do governo federal com a Delta.

Depoimentos mudos
Já o deputado Luiz Pitimann reclamou das decisões judiciais que beneficiaram os depoentes com o direito de permanecerem calados na CPMI.

Reportagem – Rodrigo Bittar
Edição – Newton Araújo

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