Meio ambiente e energia

Debatedores alertam para agravamento de crise hídrica no Vale do São Francisco

Em audiência da Comissão de Mudanças Climáticas, representantes da ANA e da Chesf admitiram possível uso do volume morto da barragem de Sobradinho

19/04/2017 - 22:03  

Diógenes Santos
Meio Ambiente - Água -  Rio São Francisco
O Rio São Francisco e seus afluentes banham a região do vale

Participantes de audiência pública da Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas manifestaram preocupação nesta quarta-feira (19) com o risco de agravamento da crise hídrica na região do Vale do São Francisco.

De acordo com o diretor de Operação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), João Henrique de Araújo Franklin Neto, a vazão da barragem de Sobradinho baixou de 1.300 metros cúbicos por segundo em 2013 para 700 em 2017.

Franklin Neto disse ainda que com as poucas chuvas deste ano, uma nova redução deve ocorrer, agora para 600 metros cúbicos por segundo. “Nunca utilizamos o volume morto de Sobradinho, mas, se precisar, vamos usar da melhor maneira possível, se continuar com pouca chuva”, disse.

O superintendente de Operações e Eventos Críticos da Agência Nacional de Águas (ANA), Joaquim Guedes Correa Gondim Filho, admitiu que, talvez em outubro, seja necessário o uso do volume morto de Sobradinho. “Estamos enfrentando uma crise histórica e é preciso que todos tenham consciência para esse enfrentamento”, afirmou.

O deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) questionou a viabilidade da dessalinização e do uso das águas subterrâneas. Gondim Filho respondeu que, hoje, os custos do processo não são proibitivos e o estado do Ceará já tem estudos para um projeto em Fortaleza.

Em relação às águas subterrâneas, o superintende da ANA disse que é preciso prudência no seu uso, já que os aquíferos alimentam os rios e ajudam no equilíbrio do meio ambiente.

Gestão de recursos
Para o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata Ferreira, é preciso unir esforços em relação a uma melhor gestão dos recursos do Rio São Francisco. Ele disse que é possível ter convicção da segurança de fornecimento de energia ao Nordeste, já que há várias usinas coligadas capazes de garantir esse fornecimento.

Barata Ferreira acrescentou, no entanto, que os últimos anos têm sido considerados os piores da série hidrológica do Nordeste em um período de mais de 80 anos – o que pode piorar as condições de fornecimento de água.

A presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Kênia Régia Anasenko Marcelino, detalhou uma série de medidas implantadas pela companhia para minorar a crise e defendeu a revitalização das bacias hidrográficas. Segundo Kênia, será preciso construir mais poços artesianos em algumas regiões, para viabilizar o abastecimento humano.

Pouca chuva
Presidente do Conselho de Administração do Distrito de Irrigação Nilo Coelho (Dinc), Amauri José Bezerra da Silva pediu a atenção de todos os órgãos para a situação, já que as previsões apontam em direção a pouco volume de chuva também para o próximo ano. “É preciso uma ação de Estado para não chegarmos a uma situação muito triste para a região”, declarou.

O senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), que propôs a audiência, manifestou preocupação com o risco de colapso do sistema da barragem de Sobradinho. Ele disse que há um ano o sistema tinha 34% do seu volume útil e, agora, tem apenas 15%. “Queremos encontrar caminhos para atravessar este momento difícil com o menor prejuízo possível.”

O Vale do São Francisco é a região banhada pelo rio de mesmo nome e seus afluentes e abrange do estado de Minas Gerais até Sergipe e Alagoas, passando por Bahia e parte de Pernambuco.

Da Redação/RN, com informações da Agência Senado

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