Educação, cultura e esportes

Especialistas defendem gestão profissional de clubes para resolver endividamento

12/02/2014 - 21:18  

Especialistas em marketing cobram novo modelo de gestão dos clubes de futebol para resolver o endividamento do setor. O tema foi discutido nesta quarta-feira (12) em audiência pública da comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa a criação do Programa de Fortalecimento dos Esportes Olímpicos, o Proforte (PL 6753/13).

Estudos preparados por duas consultorias em administração e marketing (Marketing e Gestão Esportiva e Pluri Consultoria) traçam um quadro crítico do futebol brasileiro que, em princípio, não poderia ser resolvido apenas pelo reescalonamento das dívidas fiscais com a União proposto no Proforte.

Enquanto a receita acumulada dos 100 maiores clubes brasileiros foi de R$ 3,5 bilhões de 2003 a 2012, o endividamento chegou a R$ 5,5 bilhões no mesmo período. O especialista em marketing Amir Somoggi lembra que boa parte dessa dívida vem de empréstimos bancários e de compromissos acima da capacidade de pagamento, como a compra de jogadores caros, por exemplo.

Aumento das dívidas
Além do Proforte, Somoggi afirma que é necessário um modelo de gestão mais profissional para os clubes. "Especialmente nesse primeiro período até a Timemania, houve, sim, um aumento das dívidas em função dos ajustes fiscais. Entretanto, de 2009 para cá, essa dívida (fiscal) não vem crescendo muito. A dívida que mais está crescendo é a dívida que os clubes contraem com bancos, por exemplo, que geram uma despesa financeira superior a R$ 300 milhões por ano.”

Na opinião do especialista, o Proforte vai resolver uma parte desse problema. “Se o clube continuar pegando dinheiro no banco para tentar financiar a sua atividade e sobreviver, ele vai continuar pagando juros bancários".

Segundo a Pluri Consultoria, os clubes apresentam um quadro de "finanças descontroladas". Hoje o patrimônio líquido dos 25 maiores clubes brasileiros é negativo, ou seja, se todos fossem fechados, ainda seria necessário encontrar no mercado mais R$ 62 milhões para cobrir dívidas com credores diversos.

Os parlamentares, em geral, elogiaram os estudos das consultorias. O deputado Romário (PSB-RJ) chegou a propor mudanças drásticas no projeto do Proforte. "Do que a gente acabou de ouvir sobre a realidade do futebol, eu gostaria de pedir para que seja feita uma revisão total do Proforte. Na minha opinião, só continuaria o nome. O resto - todos os artigos - realmente não serve para uma ajuda no futebol, pelo contrário".

Romário acrescentou que "a incompetência e a desonestidade reinam nesse meio e o resultado é o aumento do endividamento. Os clubes têm saída, sim, à medida que se reorganizarem e colocarem pessoas competentes (na administração)".

Quanto à sugestão de "revisão total" do Proforte, o presidente da comissão especial, deputado Jovair Arantes (PTB-GO), lembrou que o projeto de lei é uma coletânea das propostas apresentadas por vários deputados na tentativa de solucionar o endividamento dos clubes.

Ele ressaltou que o propósito da comissão é produzir um substitutivo que contemple as contribuições de especialistas e de outros setores da sociedade ouvidos nas audiências públicas.

Responsabilidade fiscal
O relator do Proforte, deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), também reconheceu a gravidade da situação dos clubes, mas reafirmou a intenção de fazer do programa uma espécie de "lei de responsabilidade fiscal" do futebol, com contrapartidas claras para os clubes beneficiados. "O programa que se apresentará será oferecido aos clubes que, para obterem os benefícios, terão de aderir às obrigações que vão ser estabelecidas. Esse é o desenho. Quanto ao valor, os juros, a quantidade de parcelas etc, isso tudo está se discutindo porque, pelos números que temos, o quadro é muito pior do que a gente supunha do ponto de vista da capacidade de os clubes honrarem isso aí."

Depois de promover audiência pública com clubes do sudeste, no Rio de Janeiro, na semana passada, a comissão especial do Proforte vai debater o tema com representantes das regiões Norte e Nordeste, no dia 14, em São Luiz; e com clubes do Sul, no dia 21, em Florianópolis.

Proposta dos clubes
Em audiência pública realizada na última quarta-feira (5) pela comissão, representantes de clubes de futebol apresentaram proposta para quitar dívidas com a União.

Pela proposta dos clubes, 5% do total da dívida seriam pagos até 2015, 25% até 2021, 35% até 2027 e o restante até 2034.

Reportagem - José Carlos Oliveira
Edição – Regina Céli Assumpção

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