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Base curricular exigirá esforço nacional em torno de consensos, diz especialista

Professor da Universidade de Sidney participou de ciclo de palestras promovido pela Frente Parlamentar Mista da Educação e pela Comissão de Educação da Câmara

31/03/2016 - 16:44  

O professor Phill Lambert, da Universidade de Sidney, defendeu uma mobilização nacional em torno da construção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Gerente geral do currículo australiano e com experiências na reforma de currículos nacionais na Arábia Saudita, Coréia do Sul, Japão, China e até no Brasil, Lambert explicou que a tarefa vai exigir esforço nacional e a participação dos nossos maiores talentos acadêmicos e políticos.

Gustavo Lima / Câmara dos Deputados
Ciclo de palestras - Educação em Debate. Tema “A experiência australiana na criação de uma base nacional comum curricular”. Professor da Universidade de Sidney, Phill Lambert
Phill Lambert, professor australiano que presta consultoria ao MEC, defendeu investimentos na formação dos professores e monitoramento do desempenho dos alunos e das escolas

Convidado pela Fundação Lemann para dar consultoria sobre o tema, Lambert participou do ciclo de palestras Educação em Debate promovido pela Frente Parlamentar Mista da Educação e Comissão de Educação da Câmara dos Deputados na quarta-feira (30).

“Vamos encontrar lacunas num país tão vasto, com diferentes expectativas. Isso vai exigir esforços múltiplos”, ressaltou ele.

Consulta pública
O Ministério da Educação (MEC) concluiu, no dia 15 de março, a fase de consulta pública sobre o tema, com base em um documento preliminar elaborado por especialistas. A fase de consulta se inciou em setembro do ano passado. Foram recebidas mais de 12 milhões de contribuições de todo o Brasil. 

O texto preliminar recebeu muitas críticas, que foram endossadas durante a palestra pelo deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), ao destacar que a proposta estabelece alfabetização aos oito anos de idade, embora o padrão internacional seja alfabetizar aos seis anos. 

“A proposta para a Língua Portuguesa passou ao largo da gramática, não ensina literatura. Na História, abandonaram a cronologia e, na Geografia, não se estuda relevo. Defendo que a gente caminhe com passos mais tímidos, porém mais consistentes. Língua Portuguesa e Matemática, por exemplo, seriam bases mais importantes. Defendo que a decisão final passe pelo Congresso Nacional”, ponderou.

O deputado Pedro Fernandes (PTB-MA) concordou que um dos objetivos mais importantes da BNCC deveria ser aprender a ler e a interpretar. “Minha experiência como secretário de Educação do Maranhão demonstrou que o domínio da leitura é fundamental para o aprendizado de todas as outras matérias”, acrescentou.

Consensos
Lambert não se surpreendeu com as críticas ao texto preliminar, mas garantiu que a versão final sobre a Língua Portuguesa - que será apresentada em junho - melhorou muito. Ele ressaltou que o Brasil conseguiu obter dois importantes consensos, o ponto de partida definido pelas diretrizes de base da educação e a própria necessidade de criação de uma base nacional. Segundo ele, a BNCC precisa estar acima das preferências pessoais e ideologias, voltada para os interesses do País.

Flexibilidade
O professor sugeriu que o currículo comum deve ser visto como uma aspiração, reconhecendo que algumas escolas podem levar mais tempo que outras para absorver os conteúdos propostos. Por isso, ele defende flexibilidade e autonomia, para que as redes de escolas públicas e particulares façam suas escolhas.

“As escolas devem poder priorizar o que, quando e em qual profundidade a aprendizagem será trabalhada. Na definição do currículo mínimo na Austrália, nós procuramos não detalhar demais o conteúdo. Essa flexibilidade é importante, considerando diversidade de pontos de partida, mas é uma autonomia com padrões, não é cada um por si, de qualquer jeito ”, sustentou.

A definição de uma base nacional vai garantir mais equidade e melhoria do desempenho dos alunos e dos professores. Por isso, o pro preconiza investimento na formação em escala dos professores e monitoramento do desempenho dos alunos e das escolas. As universidades devem focar mais em programas de formação e pesquisa na Educação.

“Não se deve buscar obstinadamente o currículo perfeito - isso não vai acontecer! É melhor deixar os atores do processo de ensino se acostumarem com o currículo mínimo proposto e, por meio de um processo contínuo de monitoramento e consultas, buscar o aperfeiçoamento”, concluiu.

Da Redação - AR

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