Economia

Debatedores defendem fim da tributação sobre ganho de capital do investimento em startups

Assunto foi discutido em comissão especial da Câmara que analisa projeto para aperfeiçoar o Estatuto das Micro e Pequenas Empresas

31/08/2017 - 16:01  

Deputados, investidores e empreendedores defenderam nesta quinta-feira (31), na Câmara dos Deputados, a redução ou mesmo o fim da tributação sobre o ganho de capital do chamado “investimento-anjo” em startups brasileiras.

Billy Boss - Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre os mecanismos de incentivo aos festivais de música independente e dialogar sobre a importância desses eventos para a cultura local, nacional e para o turismo gerado pelos mesmos. Dep. Otavio Leite (PSDB-RJ)
Otávio Leite, relator da comissão especial, apresentou projeto para suspender a instrução normativa da Receita que tributa esses investimentos com alíquotas que variam entre 15% e 22,5% sobre ganho de capital

Esses investimentos destinam-se a incentivar as atividades de inovação e os investimentos produtivos em sociedade enquadrada como microempresa ou empresa de pequeno porte.

Uma instrução normativa (1.719/17) da Receita Federal, publicada em julho para regulamentar esses contratos, acabou por tributar esses investimentos com alíquotas que variam entre 15% e 22,5% sobre o ganho de capital.

O assunto foi tratado em audiência pública promovida pela comissão especial da Câmara que analisa um projeto de lei (PLP 341/17) que busca aperfeiçoar o Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (Lei Complementar 123/06).

Operação de risco
O investidor-anjo é uma pessoa física ou jurídica que resolve aplicar recursos próprios em empreendimentos que estão começando, em geral pequenas empresas de inovação, as startups. A instrução da Receita foi criticada justamente por tributar alguém que está investindo dinheiro em uma operação de risco, quando poderia aplicá-lo em fundos de renda fixa ou em ações.

“Uma instrução normativa que não considera o fato de que esse investidor-anjo tem uma chance de perda infinitamente maior que a chance de ganho, e que tributa exatamente a oportunidade que ele tem de retornar o investimento, faz com que o dispositivo perca a eficiência prática”, avaliou Juliano Seabra.

Ele é presidente da Endeavor Brasil, uma organização de apoio ao empreendedorismo. “Nenhum investidor-anjo vai topar ter uma tributação tão alta para um investimento de risco tão alto, que é investir em empresas que ainda não existem”, afirmou Seabra.

Juliano Seabra defendeu a redução da tributação ou, então, uma tributação sobre o conjunto de investimentos-anjo feitos por uma pessoa. “Tributar o resultado final dos investimentos parece mais inteligente do que tributar cada um dos que deram certo. Pode ser mais justo”, avaliou.

Desconto
A proposta da Anjos do Brasil, outra organização de apoio ao empreendedorismo, é para que o investidor-anjo tenha 50% de desconto no Imposto de Renda devido, quando ele aplica em startups, e que também o ganho de capital não seja tributado no caso de essas empresas darem certo.

Segundo a diretora-executiva da organização, Maria Rita Spina Bueno, esses investimentos não podem ser tributados da forma que são hoje porque ajudam empresas nascentes e trazem desenvolvimento para o País.

“O dinheiro investido normalmente em um título financeiro, como a renda fixa, não gera emprego e não gera tanta renda diretamente. Além disso, o governo vai receber uma tributação muito pequena sobre o ganho de capital. Na hora que o investidor coloca esse dinheiro em uma empresa, essa empresa gera emprego, contrata o serviço de outra empresa e gera uma arrecadação muito maior”, explicou a diretora.

Ainda segundo Maria Rita, citando estudo feito pela consultoria internacional Grant Thornton, para cada R$ 1 de investimento-anjo são gerados quase R$ 6 em resultados de desenvolvimento econômico para o Brasil. São gerados R$ 2,21 em impostos arrecadados e R$ 2,89 em salários.

Na contramão da história
O assessor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Carlos Baião, mencionou experiências internacionais de incentivo ao empreendedorismo. Em Portugal, por exemplo, existe uma compensação no Imposto de Renda de 20% do total investido. “Estamos absolutamente na contramão da história. É taxar pessoas que se dispõem a aportar o próprio capital em investimentos de altíssimo risco”, disse Baião.

Maria Rita acrescentou que, na Europa, mais de 6 bilhões de euros já foram investidos, gerando 184 mil empregos. Nos Estados Unidos, são 21,3 bilhões de dólares e 264 mil empregos gerados. Já no Brasil, os investimentos-anjo de R$ 851 milhões equivalem a 0,9% da média mundial.

Pedido de suspensão
O relator da comissão especial, deputado Otavio Leite (PSDB-RJ), já apresentou um projeto de decreto legislativo (PDC 719/17) para suspender os efeitos da instrução normativa da Receita. A proposta está tramitando na Câmara, e o parlamentar defende a não tributação do ganho de capital do investidor-anjo para que ele se sinta estimulado a aplicar mais.

“O caminho é nos equiparar de maneira bem equilibrada ao que outros países já adotam em termo de apoio tributário aos investidores-anjo. Nós estamos em uma economia globalizada. O investidor-anjo busca startup, busca iniciativas de negócio conectadas com o mundo do século 21”, declarou o deputado.

Outros participantes do debate também reclamaram da burocracia brasileira no que diz respeito à abertura de empresas. Para o presidente da Confederação Nacional de Jovens Empresários (Conaje), Guilherme Gonçalves Pereira, o Brasil precisa pautar uma política de desenvolvimento que passe pelo acesso a crédito mais facilitado.

Reportagem – Noéli Nobre
Edição – Newton Araújo

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