Direitos Humanos

Integrantes de CPI da Funai-Incra divergem sobre depoimento de sociólogo

07/03/2016 - 21:37  

O sociólogo e jornalista Lorenzo Carrasco afirmou, na última quinta-feira (3), que organizações internacionais têm colaborado para a manutenção da condição de pobreza de países subdesenvolvidos. Ele participou de audiência pública da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a atuação da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na demarcação de terras indígenas e quilombolas.

Em um debate acalorado, Carrasco caracterizou como neocolonialista o movimento de instituições europeias e norte-americanas de caráter religioso e ambiental que, segundo ele, promovem políticas de apoio às reservas indígenas e quilombolas para se manterem no controle de recursos naturais e agrícolas brasileiros.

Lucio Bernardo Junior/Câmara dos Deputados
O jornalista e sociólogo Lorenzo Carrasco em depoimento à CPI da Funai-Incra
Lorenzo Carrasco: "Não há dúvida de que não é para os índios, que são mantidos em cativeiro, e o País não pode utilizar os recursos naturais que estão nessas regiões ricas"

"Essas terras ficam como reservas estratégicas para o futuro das potências que criaram essas políticas. Não há dúvida de que não é para os índios, que são mantidos em cativeiro, e o País não pode utilizar os recursos naturais que estão nessas regiões ricas", criticou.

"É uma política inteligente, muito sofisticada: apoiam-se movimentos sociais de ideologia, podemos dizer de esquerda, porém, apoiados por interesses financeiros e de poder hegemônico, que poderíamos dizer, de direita", ironizou.

O autor do requerimento e sub-relator da CPI, deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), justificou a oitiva de Lorenzo Carrasco.

"O depoimento foi esclarecedor. Tudo com comprovação, o que realmente traz clareza a uma CPI que quer levantar toda a situação e levar soluções para o conflito, em três vertentes: tentar resolver a questão fundiária, tratar da questão dos índios e, realmente, dar cidadania a eles e ver possíveis desvios de verbas públicas quando não são bem aplicadas pela Funai."

Críticas
Mas os argumentos apresentados pelo jornalista não agradaram alguns dos parlamentares. O deputado Nilto Tatto (PT-SP) sugeriu, ironicamente, a criação de um filme de ficção e considerou a história "uma viagem".

O deputado Edmilson Rodrigues (Psol-PA) criticou o deputado Valdir Colatto pela escolha do palestrante, que na visão dele, diminuiu o nível do debate.

"O que eles querem? A tese principal da bancada do agronegócio é que tem que levar o progresso e qualidade de vida para os indígenas. Para isso, eles têm que fazer uma lei e permitir consórcios entre ruralistas e indígenas para utilizar terra indígena levando máquina e agrotóxico para produzir soja e cana. Mas nós dizemos que o indígena tem que ter autonomia para decidir. Então eles querem fundamentar essa tese na CPI, e todos os convidados deles vêm para repetir que isso deve ser feito."

A CPI da Funai e do Incra volta a se reunir, nesta quinta-feira (10), para ouvir o ex-professor da Escola Superior do Ministério Público Jacques Alfonsin e o advogado Jeferson Rocha.

Reportagem - Ana Gabriela Braz
Edição – Adriana Resende

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