Direitos Humanos

Deputadas e especialistas querem fortalecer Procuradoria da Mulher

23/03/2010 - 15:09  

Brizza Cavalcante
A Câmara promoveu nesta terça-feira o seminário "Mulheres do futuro: a formação de uma geração consciente".

Deputadas e participantes de seminário realizado nesta terça-feira na Câmara defenderam o fortalecimento e a estruturação da Procuradoria Especial da Mulher. No encontro “Mulheres do futuro: a formação de uma geração consciente”, promovido pela procuradoria e pela bancada feminina, representantes da Polícia Civil, da Justiça, da área de saúde e de movimentos sociais traçaram linhas gerais de ação para o órgão instalado em junho de 2009 pelo presidente da Câmara, Michel Temer.

Composta por quatro deputadas, a Procuradoria Especial da Mulher foi criada para ser um órgão de fiscalização e defesa, destinado a receber, examinar e encaminhar às autoridades competentes denúncias de violência e discriminação contra a mulher. Mas é preciso ir além, na avaliação da procuradora especial, deputada Solange Amaral (DEM-RJ), e para a procuradora-adjunta deputada Emilia Fernandes (PT-RS).

“A Procuradoria da Mulher foi uma conquista, mas deve se fortalecer e avançar. Não pode partir apenas do pensamento das parlamentares. Queremos a participação de homens, mulheres, estudiosos e pesquisadores”, disse Emilia Fernandes. Segundo ela, a procuradoria deve ser instituída na estrutura da Câmara como órgão independente da Mesa Diretora, para que não haja riscos de ser dissolvida com mudanças políticas.

Veja trecho de programa Palavra Aberta em que a deputada Solange Amaral fala sobre o combate à violência doméstica.

Para Solange Amaral, é importante conceber uma estrutura que tenha a participação de todas as interessadas. “Quando tivermos a proposta bastante definida, poderemos conceber uma pauta de interesse das mulheres”, disse.

Estudos sobre violência
A procuradora de Justiça Ivana Farina, do Ministério Público de Goiás, também defendeu a ampliação da atuação do órgão e sua conexão com comissões da Câmara, como a de Direitos Humanos e Minorias, e organizações nacionais e internacionais.

Além disso, a Procuradoria Especial da Mulher deve, na visão de Ivana Farina, promover estudos sobre a violência contra a mulher e divulgar os resultados. Segundo ele, a legislação brasileira relativa a direitos femininos é muito boa, mas precisa ser aplicada, o que justifica o papel fiscalizatório da procuradoria criada na Câmara. “Vamos dar luzes para as violações, para as omissões, para as iniciativas que ainda estão no papel”, afirmou.

A delegada-chefe da Delegacia da Mulher de Brasília, Sandra Gomes Melo, também pediu a aplicação da legislação e reclamou da falta de estrutura das delegacias especializadas e de um padrão nacional para esses órgãos. Na sua opinião, também é preciso formar melhor os profissionais que lidam com o assunto. “O grande problema da atualidade é o perfil dos profissionais que atuam nesse enfrentamento. Muitas vezes, são profissionais que não internalizam de verdade a questão. E não são apenas homens, mas também mulheres”, disse Sandra Melo.

'Briguinhas de casais'
No seminário, a delegada explicou que a identidade de gênero é construída no sentido de definir papéis. “À mulher cabe proteger a família e apaziguar os conflitos. Por isso, qualquer interferência externa nos problemas familiares é visto como intromissão em briguinha de marido e mulher.”

As gerações do futuro, disse Sandra Melo, são criadas em meio a uma violência familiar silenciosa, que devasta a sociedade. E a mídia, segundo a antropóloga Tânia Mara, reforça a visão estereotipada da mulher. As novelas e a publicidade, disse, retratam o feminino como objeto sexual, localizado fora das posições decisórias.

A formação das futuras gerações, afirmaram as palestrantes, é importante, mas as gerações atuais também devem ser conscientizadas, uma vez que são elas que começam dentro de casa a praticar violência contra as jovens mulheres.

Reportagem – Noéli Nobre e Tiago Miranda
Edição - Newton Araújo

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