Direito e Justiça

Alternativa à redução da maioridade, proposta eleva tempo de internação de infrator

Texto, que já foi aprovado pelo Senado, terá de ser votado ainda na Câmara. Segundo Eduardo Cunha, entretanto, projeto só será pautado após a Casa concluir a análise da PEC da Maioridade Penal.

21/07/2015 - 08:05  

Antônio Augusto/Câmara dos Deputados
José Eduardo Cardozo
José Eduardo Cardozo é favorável à medida aprovada pelos senadores: "Não tem os efeitos colaterais perversos da redução da maioridade penal"

Em meio ao debate sobre a redução da maioridade penal de 18 anos para 16 anos nos casos de crimes mais graves – o texto ainda será votado em segundo turno pela Câmara dos Deputados –, há propostas alternativas para combater a violência juvenil, sem precisar alterar a Constituição.

Atualmente, adolescentes de 12 a 17 anos estão submetidos ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei 8.069/90), que foca na reeducação e, nos episódios mais graves, prevê internação por até três anos dos infratores.

Uma das ideias alternativas é que as mudanças sejam feitas no próprio ECA. A proposta capitaneada pelo governo é um texto originalmente apresentado pelo senador José Serra (PSDB-SP) que aumenta a punição para adolescentes no caso de ato infracional equiparado a crime hediondo. O projeto, já aprovado pelo Senado,também será analisado pela Câmara.

O texto prevê até dez anos de internação para adolescentes que praticarem infrações equivalentes a crimes hediondos, com violência ou grave ameaça. Essa internação se daria em estabelecimentos especiais ou em espaços reservados das unidades prisionais brasileiras. A proposta também estabelece penas duplicadas para os adultos que aliciarem crianças e adolescentes para a prática de crimes.

Quando veio à Câmara falar a respeito de maioridade penal, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu as alterações no ECA. “Acho essa proposta melhor, pois não tem os efeitos colaterais perversos da redução da maioridade penal. O texto [já aprovado no Senado] dá respostas efetivas dentro daquilo que a sociedade deseja”, disse.

Em junho, na Câmara, o govenador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também reivindicou mudanças no estatuto, com pensamento semelhante ao do ministro da Justiça. “Nós acreditamos na recuperação do jovem. Hoje o ECA não dá resposta ao reincidente grave; o infrator pode matar um, dois, três, quatro, cinco, mas a internação não passa de três anos. Nossa proposta é aperfeiçoar a lei”, declarou.

O presidente da Casa, Eduardo Cunha, afirmou que só pautará o texto do Senado quando o Plenário concluir a análise da PEC da Maioridade Penal (171/93). "A mudança no estatuto é relevante e tem de ser feita, mas vamos votar primeiro a PEC”, declarou.

Nova realidade
O promotor de Justiça de São Paulo Thales Cezar de Oliveira reconheceu a necessidade de modificar o Estatuto da Criança e do Adolescente, elaborado com base na realidade dos anos 80.

“Naquele tempo, predominava uma realidade infracional não violenta. Era impensável imaginar um adolescente sair na rua com uma arma na mão e dar um tiro na cabeça de alguém por R$ 2, uma cateira, um relógio ou um celular”, argumentou.

Responsabilização
Para o vereador de São Paulo Ari Friendenbach (Pros), reduzir a maioridade penal não é a solução para inibir e punir os crimes cometidos por menores de 18 anos. Ele é pai de Liana, assassinada aos 16 anos, em 2003, por um jovem que também tinha 16 anos na época.

Friendenbach defende a “responsabilização” do adolescente, independentemente da idade, que praticar atos equiparados a crimes como homicídio, latrocínio, estupro e sequestro. Ele sugere que, nesses casos, o jovem infrator seja avaliado por uma junta de psiquiatras, juízes e psicólogos.

Se for considerado que tinha consciência do ato que cometeu, o vereador propõe que o adolescente responda pelo crime e seja aplicada pena equivalente a 1/3 ou 2/3 da aplicada aos maiores de 18 anos. A sanção seria cumprida separadamente dos adultos, em unidades das fundações e casas de internação, como a Fundação Casa.

Quando constatado que o jovem não tinha consciência do crime, ele deverá ser internado em unidades psiquiátricas. “Atualmente, o ECA é omisso no assunto psicopata juvenil”, observou Friendenbach.

O vereador também criticou um possível aumento do tempo de internação do infrator para dez anos, pois, na avaliação dele, a punição não seria cumprida. “Nem os três anos máximos previstos hoje no estatuto são cumpridos”, sustentou.

Inclusão social
Além das alternativas em debate, especialistas defendem mais programas voltados para a juventude brasileira, com maior e melhor acesso à escola, à cultura e ao mercado de trabalho, além da garantia de tratamento para os dependentes químicos, uma vez que muitos dos atos infracionais estão ligados ao consumo de drogas.

Reportagem – Noéli Nobre
Edição – Marcelo Oliveira

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