Cidades e transportes

Motoristas de caminhões-pipa reclamam de dificuldades para comprovar serviço prestado no Ceará

Pipeiros transportam água para a área rural do estado para combater a seca, e o trabalho deles é controlado por sistema eletrônico e monitorado pelo Exército. Ceará tem 97 municípios em estado de emergência

21/06/2017 - 18:28  

Alex Ferreira/Câmara dos Deputados
Audiência Pública e Reunião Ordinária
Comissão Externa da Câmara dos Deputados sobre a Situação Hídrica dos Municipios do Ceará procura uma solução para o problema dos motoristas dos caminhões-pipa

Motoristas de caminhões-pipa do Ceará reclamaram de dificuldades e falhas na Operação Carro-Pipa, do Ministério da Integração Nacional. Eles pediram mais segurança no processo de comprovação do serviço prestado.

Em audiência pública da Comissão Externa sobre a Situação Hídrica dos Municípios do Ceará, na terça-feira (20), os pipeiros, que transportam água para a área rural do estado, disseram que estão sendo prejudicados por falhas no sistema eletrônico, que não registra de forma completa o trajeto percorrido por eles.

O Ceará é um dos nove estados atendidos pela Operação Carro-Pipa, que distribui água nos municípios mais afetados pela escassez hídrica, que já supera 5 anos. O estado é o que mais possui caminhões-pipa a serviço, com 97 municípios em estado de emergência atendidos pela operação. Em um ano, o investimento chegou a R$ 250 milhões, somente no Ceará.

Evitar fraudes
Para evitar fraudes, um sistema chamado G Pipa registra, por meio de um cartão previamente cadastrado, as "carradas", trajetos percorridos desde a captação da água até a entrega para comunidade. Todo o monitoramento e controle da operação é feita pelo Exército, cujos representantes foram convidados, mas não puderam comparecer à audiência.

No evento, os motoristas disseram que os cartões não funcionam e que a falta de sinal em alguns locais impede o registro de todo o trajeto percorrido pelo caminhão. O presidente do Sindicato dos Pipeiros do Estado do Ceará, Eduardo de Aragão, relatou que, em maio, 75% dos pipeiros não prestaram conta de todo o serviço, devido a erros no sistema.

"Não somos contra o aparelho G Pipa; nós somos a favor porque é mais uma prova para nós. Mas nós queremos um aparelho que funcione plenamente, 100%, para que a gente coloque a 'carrada' e receba, colete a água e receba o valor que foi colocado. É isso que queremos, só isso e nada mais. Todos os pipeiros queriam parar a Operação Pipa no Ceará porque não estão recebendo dinheiro, por conta de erros no sistema falho", disse Aragão.

Momento de transição
Antes da audiência na comissão externa, o assunto já havia sido discutido em reunião na Assembleia Legislativa do Ceará e com o Ministério da Integração.

Alex Ferreira/Câmara dos Deputados
Audiência Pública e Reunião Ordinária. Dep. Odorico Monteiro (PSB - CE)
Odorico Monteiro, coordenador da comissão externa da Câmara: "Nosso objetivo é melhorar a qualidade de vida da população do Ceará, garantido água para os atingidos pela seca"

O deputado Odorico Monteiro (PSB-CE), que pediu a audiência na Câmara, acredita que se trata de um momento de transição: de um sistema de registro manual para um que é 100% informatizado. Para ele, é preciso se chegar a um acordo.

"Nosso objetivo é único, é melhorar a qualidade de vida da população do Ceará através da garantia de água, e essa garantia hoje é através do carro-pipa que, com certeza, tem um serviço prestado grande à população: 1 milhão de pessoas e no Nordeste inteiro são mais de 4 milhões de pessoas; são mais de 6 mil caminhões-pipa em todo o Nordeste e só no Ceará, são 1700", disse Odorico.

"Então, eu acho que a reunião foi muito proveitosa e não tenho dúvida que essa nossa comissão já está construindo uma agenda da questão da segurança hídrica dos municípios cearenses", ressaltou o parlamentar.

Otimização do processo
O Consórcio TBK, que gerencia o sistema G Pipa, disse na audiência que vai trabalhar na otimização do processo. Buscando a atualização técnica e a redução de fraudes, para comprovar a entrega da água para a população, o sistema G Pipa registra as carradas, trajetos percorridos desde a captação da água nos mananciais, até a entrega aos beneficiários por meio de um cartão previamente cadastrado. A transmissão dos dados é feita via rede GPRS, e ficam disponíveis na internet e em smartphones.

Andre Simões, Gerente de Operações do Consórcio TBK, afirmou que está "à disposição para que todos os estados e todos os quartéis atinjam também o índice de 100% pelo sistema. Claro que há uma evolução, alguns ajustes a fazer, mas o consórcio não medirá esforços para superar os obstáculos e atingir os objetivos".

Alternativas complementares
A Associação dos Prefeitos do Ceará reconheceu a importância do caminhão-pipa, mas propôs que alternativas complementares sejam desenvolvidas, a exemplo de projetos de dessalinização de água.

Os parlamentares e os palestrantes também relembraram a transposição do Rio São Francisco como mais uma solução para amenizar a crise hídrica no semiárido.

A Comissão Externa sobre a Situação Hídrica dos Municípios do Ceará deve se reunir com o comando do Exército, em Fortaleza, no dia 30 de junho.

Reportagem – Leilane Gama
Edição – Newton Araújo

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