Agropecuária

Deputado quer que Brasil amplie para 2,5% do PIB o investimento em tecnologia

03/10/2011 - 19:46  

Beto Oliveira
Dep Paulo Piau (PMDB-MG) - Seminário Internacional de Inovação Agropecuária
Paulo Piau pediu a votação o quanto antes de um novo Código de Ciência e Tecnologia.

O presidente da Frente Parlamentar da Pesquisa e Inovação, deputado Paulo Piau (PMDB-MG), afirmou nesta segunda-feira que o País precisa mais que dobrar os investimentos em ciência e tecnologia. Atualmente, o Brasil aplica apenas 1% do Produto Interno Bruto (PIB), quando, na avaliação do deputado, seriam necessários pelo menos 2,5%. "O fosso de conhecimento entre o Brasil e os países desenvolvidos, e até os em desenvolvimento, como é o caso da Índia na área de medicamentos, está aumentando a cada dia. Se o Brasil aumentar 10% da sua aplicação nos próximos nove anos, alcançaremos o percentual de 2,5%, o que considero razoável", disse.

A declaração foi dada durante a abertura do Seminário Internacional de Inovação Agropecuária, no auditório Nereu Ramos. O evento será concluído nesta terça-feira (4), como parte da programação da Semana da Pesquisa e Inovação na Agropecuária, realizada pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), pelo Conselho Nacional dos Sistemas Estaduais de Pesquisa (Consepa) e pela Associação Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer), com o apoio das frentes parlamentares da Pesquisa e Inovação e da Assistência Técnica e Extensão Rural (confira a programação).

Piau lembrou que os Estados Unidos aplicam 2,8% do PIB nessa área, e reforçou ainda que, além de aumentar a aplicação de recursos, é preciso não fazer cortes no orçamento no setor. "Os burocratas do nosso país não sabem que um trabalho de pesquisa não pode ter interrupção. Caso isso ocorra, podemos perder cinco, dez anos de um trabalho de melhoramento genético, por exemplo. Temos que fazer como os Estados Unidos, que, em plena crise financeira, contingenciaram recursos em vários setores, menos em ciência e tecnologia”, enfatizou.

O parlamentar também destacou a importância de o Congresso debater e votar o quanto antes uma proposta de novo Código de Ciência e Tecnologia. "Essa discussão vai permear todas as instituições públicas e privadas envolvidas no setor. Queremos fazer audiências públicas e trazer não apenas uma compilação de projetos que estão tramitando nesta Casa, mas bases estruturantes para que a ciência e a tecnologia não sejam algo temporário, mas sim permanente no nosso país", afirmou.

Ele citou as dificuldades causadas ao setor por regras da Lei de Licitações (8.666/93). Hoje, as instituições de pesquisa estão submetidas a essa legislação, e, no caso de compra de algum reagente ou equipamento de precisão, a espera pode ser longa, de acordo com Piau. "Do jeito que está, a demora pode chegar a um ano para que a instituição de pesquisa possa efetuar uma compra. Nós precisamos destravar essa situação, desburocratizar. Isso com certeza será um dos assuntos tratados no código."

Beto Oliveira
Mauricio Lopes (EMBRAPA) - Seminário Internacional de Inovação Agropecuária
Maurício Lopes destacou que acaba de ser aprovado um feijão transgênico desenvolvido pela Embrapa.

Inovação
O diretor-executivo de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Mauricio Antônio Lopes, disse no seminário que acaba de ser lançado o primeiro tipo de feijão geneticamente modificado do mundo, sem utilização de tecnologias de empresas multinacionais ou importadas. O produto transgênico foi desenvolvido pela Embrapa. "O feijão passa a ser resistente a uma doença chamada ‘mosaico dourado’, transmitida por um inseto. O grão é modificado para que se torne resistente a essa doença, evitando que os produtores tenham que fazer pulverizações com agroquímicos, como pesticidas, por exemplo. Esse feijão acabou de ser aprovado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para ser comercializado nos próximos anos. É um feito extraordinário", destacou. Ele garantiu que as sementes estarão disponíveis para os agricultores nos próximos três anos.

Lopes ainda assinalou que no início dos anos 70 o Brasil ainda importava alimentos e não era um país seguro do ponto de vista alimentar. "O progresso que fizemos de lá pra cá foi espetacular. O Brasil conseguiu desenvolver tecnologia compatível com os desafios de fazer agricultura num país tropical. E alcançou uma posição reconhecida hoje de líder em agricultura tropical do mundo."

Apesar dos avanços, o País ainda têm muitos desafios a vencer, na opinião do diretor da Embrapa, e um deles é levar tecnologia, informação e capacitação a um grande contingente de pequenos agricultores e àqueles que fazem a agricultura familiar. "O Brasil é muito grande e diverso. Temos ao mesmo tempo uma agricultura pujante que se projeta no cenário internacional, que se tornou uma grande exportadora de alimentos, mas temos também muitos agricultores pobres que ainda vivem à margem do mercado. Essa parcela precisa de mais suporte", afirmou.

Reportagem – Jaciene Alves
Edição – Marcos Rossi

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