Política e Administração Pública

João Santana e Mônica Moura admitem caixa dois, mas dizem desconhecer atividades do BNDES

Em depoimentos à CPI, casal reafirma que todos os candidatos - do governo e da oposição - usavam recursos ilícitos, mas não puderam colaborar com informações sobre empréstimos que o banco estatal teria feito a países sul-americanos e africanos

10/07/2019 - 10:00  

Will Shutter/Câmara dos Deputados
Audiência pública para tomada de depoimentos. Publicitário, João Cerqueira de Santana Filho
O marqueteiro João Santana disse estar arrependido de ter recebido dinheiro via caixa dois, mas não soube informar sobre empréstimos do BNDES

A CPI do BNDES ouviu nesta terça-feira (9) o publicitário João Santana e a jornalista Mônica Moura. O casal foi convocado para prestar esclarecimentos sobre empréstimos que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social fez a países sul-americanos e africanos entre 2003 e 2015. O marqueteiro disse que gostaria de colaborar, mas que não tinha qualquer tipo de informação sobre o banco.

Arrependimento
Sobre as campanhas políticas, João Santana admitiu que todos os candidatos usavam caixa dois, mas disse que, mesmo assim, se arrepende de ter aceitado o pagamento do seu trabalho vindo desse dinheiro. Os marqueteiros fizeram as campanhas presidenciais dos ex-presidentes Lula e Dilma.

“Me sinto profundamente arrependido sim em algumas coisas, na parte específica do método de financiamento, isso sim eu não me perdoo por isso. Eu acho que mesmo sabendo que era uma prática que todos faziam, pela minha própria formação, por uma série de valores que eu trazia e ainda tento realimentar e trazer da minha família e de todos, eu realmente me arrependo profundamente. Agora, não me arrependo de ter exercido a profissão de consultor, de marqueteiro”, disse Santana.

Mônica Moura também disse que não tem qualquer conhecimento sobre as atividades do BNDES porque tratava direto com as empresas e nunca perguntou de onde vinha o dinheiro que ela estava recebendo. Moura se limitou a confirmar que todas as campanhas recebiam dinheiro via caixa dois.

Governo e oposição
“Só como exemplo. Na Venezuela, onde nós fizemos a campanha do Hugo Chávez e que a Odebrecht colaborou com uma boa parte do caixa dois, a outra parte foi a Andrade Gutierrez. Eu sabia, nós sabíamos, todos sabiam, e depois foi noticiado pela (Operação) Lava Jato, que o candidato Capriles, que era o candidato opositor ao Chaves, que o marqueteiro que fazia a campanha dele, Renato Pereira, um marqueteiro brasileiro, a Odebrecht colaborou com o Capriles, pagou caixa dois para o Capriles. O caixa dois sempre existiu, não sei se tem a ver com o BNDES, não tenho ciência disso, sempre existiu, e não existia só para uns. Várias empresas doavam para o candidato, no caso se fosse presidente ou candidato que estivesse na frente, e para os outros candidatos também. Aqui no Brasil, nós sabemos, a Odebrecht doou para a Dilma e doou para o Aécio”, explicou Mônica Moura.

O presidente da CPI, deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP), disse que os depoimentos foram importantes para apontar que dinheiro de empréstimos do BNDES foi repassado para empresas que financiaram campanhas políticas via caixa dois.

“O BNDES cada vez mais vai se tornando um instrumento de realização de interesses eleitorais e políticos de um partido. Isso não deve acontecer, não pode acontecer, e com certeza o relatório final haverá de dar novas diretrizes para o funcionamento do BNDES como banco de fomento”, observou.

Nesta quarta-feira (10), a CPI vai ouvir Luiz Eduardo Merlin, ex-diretor do BNDES.

Ouça esta reportagem na Rádio Câmara

Reportagem – Marcelo Westphalem
Edição – Roberto Seabra

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara Notícias'.