Política e Administração Pública

Presidente do BC acredita em inflação no centro da meta no fim de 2016

Em audiência na Comissão Mista de Orçamento, Alexandre Tombini admitiu, porém, crescimento do índice no curto prazo; ele também negou pressão política para aumento da taxa de juros somente após as eleições.

09/12/2014 - 16:49  

Tombini fala sobre a perspectiva de inflação para os próximos meses.

O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, afirmou nesta terça-feira (9) que o órgão trabalha para conseguir uma redução a ponto de chegar ao centro da meta de inflação estabelecida pelo governo, de 4,5%, até o final de 2016. “Não haverá complacência por parte do Banco Central”, disse, em audiência conjunta da Comissão Mista de Orçamento (CMO) e de cinco comissões da Câmara e do Senado.

Tombini admitiu, porém, que a inflação deverá crescer no curto prazo. “A inflação vai ser elevada nos últimos 12 meses, pelo realinhamento dos preços domésticos e dos administrados [como energia e combustível] em relação aos livres [definidos pelo mercado]”, afirmou.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 6,56% em 12 meses, acima do teto da meta (6,5%). No acumulado do ano, até novembro, o índice é de 5,58%.

O fortalecimento da política fiscal para cumprir, por exemplo, a meta do superavit primário deverá facilitar a convergência da inflação para a meta de 4,5%, de acordo com Tombini.

Para o deputado Amauri Teixeira (PT-BA), as avaliações do presidente do BC indicam uma perspectiva favorável para 2015. “Há um cenário internacional bastante difícil, mas em 2015, segundo o próprio presidente [do Banco Central], vai haver uma mudança, vai crescer novamente.”

Zeca Ribeiro - Câmara dos Deputados
Audiência conjunta das comissões Mista de Orçamento (CMO), de Finanças e Tributação (CFT), de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio (CDEIC), de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC) da Câmara e de Assuntos Econômicos (CAE), de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) do Senado para avaliação do cumprimento dos objetivos e metas das políticas monetária, creditícia e cambial, evidenciando o impacto e o custo fiscal de suas operações e os resultados demonstrados nos balanços - segundo semestre do exercício de 2013 e do primeiro semestre do exercício de 2014. Dep. Mendonça Filho (DEM-PB)
Para Mendonça Filho, declarações do presidente do BC indicam mais arrocho e dificuldades no ano que vem.

A análise do líder do DEM, deputado Mendonça Filho (PE), é oposta. Para o parlamentar, Tombini ratificou a dificuldade econômica enfrentada pelo Brasil. “Inflação crescente, praticamente estamos estagnados, parados. O Brasil crescendo 0%, 0,18% neste ano. E a perspectiva para 2015 é de mais arrocho e de mais dificuldades”, afirmou.

Juros
O presidente do BC negou que os dois aumentos da taxa Selic após as eleições ocorreram por pressão política. Os juros básicos da economia aumentaram em 0,75 ponto percentual no final de outubro, dois dias após o segundo turno, e no início deste mês.

“No início de setembro, o dólar estava a R$ 2,25. Tivemos uma desvalorização nominal da ordem de 10% do Real. Houve uma valorização generalizada do dólar. A nossa estratégia, que era válida, foi mudada ao longo do mês de outubro”, disse Tombini, em resposta a parlamentares da oposição.

Mendonça Filho criticou o aumento dos juros. “O BC sucumbiu à pressão da presidente Dilma de tirar aumento de juros da disputa presidencial? A presidente se elegeu com a tese de que a taxa de juros deveria cair, mas subiu, e muito.”

O deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR) também questionou o aumento de juros somente após as eleições, já que, tecnicamente, o Banco Central sabia que teria de reajustar a taxa.

Tombini lembrou que as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) são remarcadas com um ano de antecedência e não houve mudanças por questões eleitorais. “Os sinais estavam ali. Não é porque está ocorrendo eleição que vamos remarcar a reunião do Copom.”

Superavit
A meta de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) para o superavit primário de 2015, estabelecida pelo governo, é dura, mas possível de ser alcançada, na opinião do presidente do BC. “Creio que é um número duro, mas é, sim, factível, e o governo conseguirá atingi-lo”, disse, em resposta a parlamentares da oposição, que questionaram se o governo alteraria a meta fiscal de 2015, como pretende fazer na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano com o PLN 36/14, que teve seu texto-base aprovado na última quinta-feira (4) pelo Congresso Nacional, restando apenas a votação de uma emenda, prevista para ocorrer na sessão de hoje.

No fim de novembro, Tombini foi confirmado à frente do BC por mais quatro anos, ao mesmo tempo em que foram apresentados os novos ministros da Fazenda (Joaquim Levy) e do Planejamento (Nelson Barbosa). Na cerimônia, o governo se comprometeu a buscar um superavit primário de 1,2% do PIB no ano que vem e de 2% nos dois anos seguintes.

Reportagem – Tiago Miranda
Edição – Marcos Rossi

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