Para especialistas, ciência ainda não provou vantagem de atletas trans

Câmara dos Deputados discute três projetos que determinam o sexo biológico como parâmetro para a participação em atividades esportivas e proíbem a inclusão de mulheres trans em competições femininas. Comissão do Esporte realizou duas audiências públicas para debater o tema.
26/06/2019 10h25

Reynaldo Lima / Acervo CESPO

Para especialistas, ciência ainda não provou vantagem de atletas trans

Tiffany, atleta trans, relatou durante a audiência o preconceito sofrido no esporte profissional

Um consenso na audiência pública sobre a presença de indivíduos transgênero nas competições esportivas foi o de que não existem estudos científicos que comprovem conclusivamente uma vantagem de homens e mulheres trans sobre seus concorrentes cisgênero, aqueles que mantêm o sexo biológico com o qual nasceram.

Os cientistas presentes ao debate da Comissão do Esporte, realizadas na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (25), foram contrários à diretriz do Comitê Olímpico Internacional (COI) que recomendou às federações das várias modalidades que levem em conta o nível de testosterona dos atletas para definir quem pode competir com quem. Alícia Kruger, mestre em Saúde Coletiva, salientou que este não deve ser o único critério.

“A evidência nos mostra que capacidade muscular, capacidade de transporte de oxigênio, padrão de quadril ginecóide ou androide, nós temos diferenças entre pessoas cis e trans. Então, nós precisamos entender muito bem da Biologia, dessa ciência que não é exata, mas é uma ciência rica, para que nós possamos endossar ou mesmo contestar qualquer participação de qualquer pessoa nos esportes”, observou.

Desempenho
O que a ciência tem comparado continuamente é a diferença de desempenho entre homens e mulheres. Participante da audiência pública, o advogado esportivo Marcelo Franklin disse que essa vantagem vai de 10% a 12% para os homens.

A ex-jogadora de vôlei Ana Paula Henkel exibiu vários dados sobre as consequências desta defasagem, relatando casos de atletas norte-americanas que se sentiram preteridas por terem perdido vagas em equipes para mulheres trans. Apesar de ter criticado publicamente o fato de a jogadora Tiffany, que é trans, jogar em um time feminino de vôlei, ela negou discriminação e afirmou querer fazer apenas uma interlocução com as entidades esportivas para que o assunto seja discutido.

Preconceito
Tiffany, também presente ao debate, se emocionou ao lembrar das dificuldades de fazer a transição de gênero. Ela defendeu a permanência dos atletas trans no esporte profissional e relatou que sofre alguns preconceitos em sua atuação nas quadras.

“Um do meu time, porque eles exigem de mim o que eu não posso fazer, porque alguns pensam que eu posso fazer e outros falando que eu faço demais. E eu faço o quê? Esse é meu trabalho, eu tenho que fazer o meu melhor. Aí eu chego em um jogo e faço 28 pontos: ‘Ah, é porque é uma mulher trans’. Mas a mulher que fez 34 (pontos), não é uma mulher trans, ela pode”, disse.

Três projetos de lei sobre o tema estão sendo examinados pelos parlamentares. As propostas (PLs 2200/19,2596/19 e 2639/19) determinam o sexo biológico como parâmetro para a participação em atividades esportivas, e proíbem a inclusão de mulheres trans em competições femininas. Para o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), autor de um dos projetos, o debate na Comissão do Esporte mostrou que o Brasil pode ser exemplo para o resto do mundo nesta discussão.

“Nós não podemos misturar um debate científico, esportivo, com um debate ideológico, porque aí nós vamos ficar brincando de Tom e Jerry a vida inteira. Esse debate aqui hoje começa a mostrar que rumo nós podemos tomar. E acho que ao Brasil vai mostrar ao Comitê Olímpico Internacional que nós temos maturidade suficiente para fazer este debate”, observou.

Em doze estados as assembleias legislativas também estão examinando projetos de lei que tratam da participação de atletas transgênero em competições esportivas.

 Agência Câmara Notícias