Audiência Pública reforça importância da educação do campo e da luta pela democracia no país

A Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) realizou hoje (15.09), audiência pública sobre o direito à educação do campo. Reunindo representantes de movimentos sociais e educadores do campo, a iniciativa demarcou a importância da educação nas escolas em assentamentos e acampamentos, construindo um modelo educacional que compreenda as particularidades e necessidades dos povos camponeses.
15/09/2016 16h25

Lucio Bernardo Junior / Câmara dos Deputados

Audiência Pública reforça importância da educação do campo e da luta pela democracia no país

Atualmente, o diagnóstico de educadores é que há um movimento de tentar reduzir ou até mesmo extinguir o papel de uma educação voltada aos interesses do campesinato. É o que aponta o professor Roberto Leher, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Recentemente contabilizamos 40 mil escolas fechadas no país, muitas delas no campo. Há uma política óbvia de apagamento da memória de que existe educação no campo, e, em consequência, de quem reivindica um modo de vida que se confronta com o agronegócio”, disse.

 

Este discurso, inclusive, tenta ser validado como um campo do conhecimento, ressalta o reitor da UFRJ. “O discurso contra o camponês, tratando-o de forma pejorativa, se autointitula como científico”, explica.

 

Essa dualidade entre modos de vida e modelos de educação deu a tônica do debate. A mercantilização do ensino, que tende a homogeneizar o ato de educar, deve ser combatida pelos trabalhadores da educação, mantendo uma bandeira histórica do movimento, ressalta Cândida Rossetto, da Confederação Nacional da Educação. “Desde os mecanismos de financiamento, há um círculo vicioso que favorece o ensino privado. Mesmo nos governos progressistas, tivemos muitos embates na defesa de uma perspectiva de ensino emancipadora”, ressalta.

 

Fabiano Faria, da Coordenação da Frente Nacional da Escola sem Mordaça, salientou o retrocesso presente no projeto Escola sem Partido. “Avançamos em muitas coisas no país nos últimos anos, desde o acesso à educação até a inclusão de jovens na universidade, mas precisamos impedir que se imponha esse modelo que pretende impor o conservadorismo e a mordaça na escola, que pretende anular o pensamento crítico e reforçar o preconceito contra as diferenças”. Em que pese este caráter regressivo do Escola sem Partido, Farina saudou a reação dos movimentos que lutam pela educação. “O lado positivo é que este projeto conseguiu reunir pela primeira vez todos os movimentos sociais da educação em torno de uma mesma bandeira, a educação inclusiva, emancipadora e contra o Escola sem Partido”, saudou.

 

Matilde Araújo, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), lembrou da necessidade de manter alerta permanente por nenhum direito a menos. “Não podemos aceitar discursos que querem nos convencer ser melhor ter nossos direitos arrancados em nome de uma recuperação que está pensada para proteger somente a elite”, disse.

 

O representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), José Wilson Gonçalves, defendeu que a luta pela educação está sempre conectada a desafios maiores. “Precisamos fazer o enfrentamento do atual modelo de produção. E cobrar de forma permanente do Congresso o apoio à educação pública e com recorte diferenciado à educação do campo”, contou.

 

Perspectivas pedagógicas inovadoras e adaptadas às especificidades da população campesina são elementos de resistência dessa tradição. É o caso da Rede CEFFAs – Centros Familiares de Formação por Alternância. Segundo Joel Duarte Benísio, representante da rede, a metodologia opera como uma “contra-escola“, uma vez que os processos não se resumem aos padrões tradicionais formativos, desenvolvendo uma pedagogia crítica social e libertadora, freiriana.

 

Educação Não é Mercadoria

 

A audiência marcou o lançamento da campanha “Educação É Direito, Não É Mercadoria”, do Fórum Nacional de Educação do Campo. A coordenadora do Fórum, Clarice dos Santos, denunciou ações do governo golpista de, por meio do Ministério da Educação, enfraquecer o órgão.

 

Resistência

 

O presidente da CDHM, deputado Padre João (PT-MG), entende que a resistência deve ser a palavra de ordem nos movimentos sociais. “Hoje está colocado um projeto de retrocesso, de ataque às políticas públicas, às conquistas do povo pobre deste país. Mais do que garantir o acesso à educação pública, temos que lutar para que ela se mantenha gratuita. A CDHM será aliada na garantia deste direito humano fundamental”, assegurou.