POR QUE OS CARROS BRASILEIROS SÃO OS MAIS CAROS DO MUNDO?

No próximo dia 23 de novembro, a Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio realizará, no Plenário 5 do Anexo II da Câmara dos Deputados, Audiência Pública com vistas a debater os motivos que levam os carros brasileiros a serem os mais caros do mundo.
16/11/2011 14h00

Para o evento, que se dará em função da aprovação do Requerimento nº 28/2011, de iniciativa dos Deputados  Miguel CorrêaLuis Tibé, e  Felipe Bornier, foram convidados o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio – MDIC, Senhor Fernando Pimentel, o Ministro da Fazenda, Senhor Guido Mantega, o Presidente da Morgan Stanley do Brasil, Senhor Daniel Goldberg e o Presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores – ANFAVEA, Senhor Cledorvino Belini.

A discussão do referido tema não é novidade no país, e as "razões" apontadas para o alto preço do carro nacional referem-se à alta carga tributária, ao custo do capital, além do que costuma ser chamado de "Terceira Folha", ou seja, despesas com funcionários – assistência médica e outros benefícios – que deveriam fazer parte do papel do Estado.

No entanto, de acordo com os autores do Requerimento, alguns estudos, seminários e outros eventos relacionados ao setor podem vir a concluir que talvez o grande vilão não sejam exatamente os apresentados.

De acordo com o Guia Quatro Rodas, há casos em que, mesmo com o imposto de importação integral, alguns modelos estrangeiros conseguem chegar ao país com mais acessórios e preço mais atraente que os nacionais equivalentes.

Em outros casos, o valor do carro no Brasil simplesmente não tem explicação. Podemos citar o Chevrolet Captiva como exemplo. Em seu país de origem – o México – custa o equivalente a R$48.800,00 (quarenta e oito mil e oitocentos reais), aqui não sai por menos de R$92.990,00 (noventa e dois mil, novecentos e noventa reais), diferença que não se compreende, tendo em vista que, por conta de acordo existente entre Brasil e México, não há, sequer, imposto de importação que justifique tamanha discrepância.

Para Mauro Zilbovicius, professor de custos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, “a carga tributária é uma parte do custo. No caso do Brasil, o mercado está em crescimento e os preços não recuaram, apesar do ganho de escala. Ao contrário, subiram bastante”. Ressalta que, "se os impostos são responsáveis pelo valor do carro, as montadoras também são. Muitas delas, como Ford, Fiat e GM, enfrentaram dificuldades no mundo e se seguraram, em parte, graças aos resultados obtidos no Brasil.” Exemplifica com o caso da GM que, com prejuízo global de 38,7 bilhões de dólares em 2007, alcançou no Brasil um terço do crescimento mundial das vendas da marca.

Já na avaliação de Letícia Costa, vice-presidente da consultoria Booz Allen, "os preços de commodities, como aço e resina, tiveram alta acentuada, fenômeno observado no mundo todo, que refletiram no preço dos carros”.

O presidente da Abeiva (associação das importadoras), Jörg Henning Dornbusch, por sua vez, considera que "a indústria automobilística brasileira tem como vender seus carros por preços mais baixos: com o aumento da escala por conta das vendas em alta, deveria haver uma redução no custo de produção, e não é o que se vê”.

Já o presidente da Anfavea (associação das montadoras), Jackson Schneider, defende que, “quando se fala de preço e margem, cada montadora cuida da sua casa.” Concorda, no entanto, que o Brasil tornou-se atraente para as matrizes, o que implica o volume tão grande de recursos esperados para os próximos anos.

Por outro lado, Paulo Cardamone, vice-presidente da consultoria CSM, considera que uma boa fonte de lucro das montadoras brasileiras são os chamados “conteúdos”, ou opcionais, como ar-condicionado, freio ABS e airbag. “É aí que a indústria cobra caro". Sendo esse um volume baixo de produção – diferentemente de outros países, em que tais itens podem ser considerados standard, - "por ser opcional, custa muito”, afirma. Para ele, se houver uma redução gradual de impostos, pode-se chegar à metade do atual valor atual dentro de seis anos. Desta forma, acredita, "as empresas vão poder diminuir os preços e aumentar a produção.”

Poderíamos continuar a descrever inúmeros pontos de vista, mas aguardemos a Audiência Pública para ver o que ela nos reserva.

O assunto promete gerar polêmicas discussões.