27.03.2009
Jornal Folha de S. Paulo
Caderno: Dinheiro
OMC vê onda protecionista com a crise
Se a tendência for mantida, será mais difícil países se recuperarem, diz Lamy
Brasil é criticado por elevar financiamento do Proex a empresas de exportação e por conceder US$ 1, 6 bi de crédito a setor automotivo
MARCELO NINIO
O mundo caminha perigosamente em direção ao protecionismo, alertou ontem o diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Pascal Lamy. Se for mantida, essa tendência "sufocará" o comércio global e tornar mais difícil a saída da crise.
Em um relatório enviado aos membros da OMC, Lamy diz que, desde a última avaliação, há três meses, o livre comércio sofreu um "deslize significativo". Tanto países industrializados como em desenvolvimento, disse ele, ergueram barreiras às importações para resguardar a economia doméstica.
O Brasil é elogiado pela decisão do presidente Lula de voltar atrás na aplicação de licenças de importação, mas não fica de fora da lista de países que adotaram medidas de protecionistas. Entre elas, o aumento do financiamento pelo Proex a empresas de exportação, a concessão de crédito de US$ 1, 6 bilhão à indústria automobilística e a redução de impostos na compra de veículos.
Segundo Lamy, ainda não há sinais de uma onda de protecionismo de "alta intensidade", como a que provocou as guerras comerciais da época da Grande Depressão, na década de 1930. Mas alertou que "o perigo hoje é uma escalada de restrições que poderia lentamente sufocar o comércio internacional" e atrasar a retomada., Ele ressaltou que os problemas na área financeira tornam quase impossível avaliar se o fim da crise está próximo. "Ninguém pode prever claramente qual será a profundidade desta recessão, ou quanto ela irá durar, mas não pode haver dúvida sobre a fragilidade da economia mundial", disse.
Lamy fez o relato aos membros da OMC dando claramente um recado aos participantes da cúpula do G20, na próxima semana em Londres. Convidado pelo anfitrião, o premiê britânico, Gordon Brown, Lamy levará a mensagem de que o protecionismo é a pior arma para combater a crise.
Jornal Correio Braziliense
Caderno: Mundo
Presidenta consegue antecipar a eleição
Senado aprova o adiantamento do pleito legislativo de outubro para junho. Com a manobra, o governo evita um impacto maior da crise
Depois de aprovada pela Câmara dos Deputados na semana passada, a proposta de lei do Executivo que adianta as eleições legislativas argentinas para junho passou ontem sem grandes problemas pelo Senado. A votação ocorreu por volta das 20h, depois de mais de nove horas de debate, e terminou com o apoio de 42 senadores, cinco a mais que o necessário (metade mais um dos parlamentares).
Com a nova lei, abre-se uma exceção na legislação para permitir o adiantamento das eleições deste ano para 28 de junho, quase quatro meses antes da data fixada no Código Eleitoral. Em 2004, foi o próprio Néstor Kirchner, então presidente, quem pressionou o Congresso para aprovar a determinação de fixar permanentemente as datas das eleições para que, segundo ele, políticos não manipulassem o processo eleitoral por conveniência.
Em meio a embates com o setor agrícola, que protesta contra tarifas de exportação, e com um índice de popularidade de apenas 30%, Cristina tem na crise econômica mundial seu álibi para antecipar as eleições. A questão levanta polêmica e divide políticos do país. O senador kirchnerista Nicolás Fernández, de Santa Cruz, defende a proposta e pede o fim do "rali político", que, segundo ele, "pode atrapalhar os êxitos conseguidos" nos últimos anos — uma referência ao crescimento econômico argentino no mandato de Néstor. Já o radical Alfredo Martínez ressaltou que nenhum outro país adiantou o processo eleitoral por causa da crise.
Cristina diz que o adiantamento do pleito vai encolher as campanhas e, dessa forma, reduzir os gastos. No entanto, a influente revista britânica The Economist, em artigo publicado ontem, aponta que a iniciativa é uma "astuta, se não desavergonhada, estratégia de um poderoso casal que sabe que o valor de sua marca está afundando". A ideia é dar menos tempo para a oposição se organizar e não conseguir ameaçar a atual situação política dos Kirchner. Os candidatos terão pouco mais de um mês para confirmar sua participação.
Jornal Valor Econômico
Caderno: Especial
Aumenta o lobby pela aprovação no Brasil da adesão do país ao Mercosul
Raquel Ulhôa
Em fase decisiva da tramitação no Senado do projeto de decreto legislativo que aprova a adesão da Venezuela ao Mercosul, o setor empresarial e o governo brasileiro intensificam a pressão sobre os parlamentares para que aprovem o ingresso daquele país ao bloco.
O embaixador do Brasil na Venezuela, Antônio Simões, teve reuniões com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o relator do projeto, Tasso Jereissati (PSDB-CE), e outros senadores, para apresentar dados sobre as relações comerciais entre os dois países. E empreiteiras que têm obras na Venezuela têm enviado recados ao relator de que querem uma audiência.
Tasso Jereissati disse que considera desnecessária uma visita de um grupo de senadores à Venezuela, como sugeriu o prefeito de Maracaibo e ex-candidato a presidente daquele país, Manuel Rosales. Segundo o senador brasileiro, as informações já são conhecidas e o corpo diplomático brasileiro é competente para encaminhá-las ao Senado. Portanto, diz ele, não é preciso haver "verificação in loco" da situação política da Venezuela, como sugeriu Rosales, que faz oposição ao governo do presidente Hugo Chávez.
Tasso não marcou reunião com as empresas, mas está preparando um calendário de audiências públicas para a discussão das questões técnicas que envolvem a adesão. Estão previstas as participações dos embaixadores Sérgio Amaral e Rubens Barbosa e o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores). O PSDB, que sempre manteve posição contrária por considerar que o governo de Hugo Chávez não cumpre a cláusula democrática do Mercosul, agora busca argumentos técnicos e não políticos para definir sua posição.
O senador tucano avalia se há possibilidade de o Senado aprovar a adesão com ressalvas ou metas a serem cumpridas pelo governo da Venezuela.
Jornal O Estado de S. Paulo
Caderno: Nacional
MST se une a paraguaios por ''justiça energética''
Ato na Ponte da Amizade defende ?soberania popular? e reforma agrária
Evandro Fadel
Integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) brasileiro e de movimentos populares do Paraguai uniram-se na manhã de ontem, no meio da Ponte da Amizade, que liga Foz do Iguaçu a Ciudad del Este, para um manifesto pela soberania energética e pela reforma agrária nos dois países. O trânsito no local ficou interrompido por cerca de uma hora e meia. A Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Federal acompanharam a manifestação, que foi realizada de forma pacífica.
"É um momento histórico de integração dos povos", disse um dos líderes do MST no oeste do Paraná, Nildemar da Silva. O grupo brasileiro saiu de Foz do Iguaçu em uma marcha de 5 quilômetros e postou-se no meio da ponte. Do outro lado, integrantes do Conselho Nacional de Organizações Populares, Movimento dos Sem-Teto do Paraguai e Frente Social Popular também fizeram caminhada semelhante. Ao se encontrarem na ponte, os manifestantes cantaram os hinos dos dois países, fizeram a troca de bandeiras e os líderes discursaram. "Com essa crise no mundo inteiro, a saída é a justiça no uso da energia e a reforma agrária", afirmou Silva.
O líder não quis entrar na discussão sobre o pedido paraguaio pela revisão do Tratado de Itaipu - assinado em 1973 e no qual o Paraguai se obrigou a vender o excedente energético ao Brasil até 2023. ."O que queremos é a soberania popular energética", ressaltou. "A energia tem de estar a serviço dos trabalhadores, da grande massa que fica desassistida."