19.06.2009

Jornal Folha de S. Paulo

Caderno: Dinheiro

PIB da Argentina tem menor crescimento desde 2002

Economia avança 2% no 1º trimestre, mas analistas colocam números sob suspeita

Em relação ao quarto trimestre, país cresce 0,1% e evita recessão "técnica'; consultorias, no entanto, apontam retração no PIB

THIAGO GUIMARÃES

Sob impacto da crise global, a economia argentina apresentou desaceleração no primeiro trimestre, mas ainda cresceu 2% ante o mesmo período de 2008. Foi o pior resultado, nessa base de comparação, desde o quarto trimestre de 2002, quando o PIB (Produto Interno Bruto) havia contraído 3,4%. Ante o último trimestre de 2008, o país cresceu 0,1% -uma recuperação em relação ao resultado anterior, quando houve contração de 0,5%.

Consultorias privadas apontam, contudo, que o país está em recessão "técnica" -dois trimestres consecutivos de queda- e que as cifras oficiais não refletem a desaceleração de ramos como produção industrial e agropecuária, construção, investimento e comércio exterior. A desconfiança em relação às estatísticas oficiais existe desde janeiro de 2007, quando o governo de Néstor Kirchner, marido e antecessor de Cristina, trocou pessoal e metodologias no Indec (o IBGE local).

Pelos números oficiais, o crescimento foi impulsionado por altas no setor de serviços (4,7%) e nos gastos das famílias (1,5%) e do governo (6,8%). No sentido oposto, o PIB da indústria caiu 1,2%, e o da agropecuária se retraiu em 14,2% ante o mesmo período de 2008.

Jornal Valor Econômico

Caderno: Internacional

Governo deve perder maioria no Congresso argentino, diz pesquisaDe Buenos Aires

A dez dias das eleições legislativas, o governo argentino deverá ter reduzida sua bancada de apoio na Câmara de deputados a apenas 98 parlamentares. É muito menos que 129 necessários para aprovar projetos e que os mais de 160 deputados que formavam a base parlamentar nos áureos tempos do governo Néstor Kirchner (2003-2007). O prognóstico é de Rosendo Fraga, um dos mais respeitados analistas políticos do país. Em uma ampla análise do cenário eleitoral para os correspondentes estrangeiros em Buenos Aires, Fraga e os analistas Graciela Römer e Jorge Giacobbe concordaram que as chances do governo sair vitorioso nestas eleições são mínimas.

No dia 28 os argentinos vão às urnas para renovar metade da Câmara (127 deputados) e um terço do Senado. Pesquisas de intenção de voto realizadas pelas consultorias de Römer e Giacobbe apontam um quase empate entre a chapa da coalizão governista Frente Para a Vitória (FPV), liderada pelo ex-presidente Kirchner, e a opositora liderada pelo empresário Francisco de Narváez, do partido direitista PRO. Questionários aplicados entre eleitores na província de Buenos Aires pela Römer & Associados indicam diferença muito estreita em favor de De Narváez, algo como quatro ou cinco pontos. "Isso não quer dizer nada porque há 20% de indecisos, parte dos quais votaria em qualquer força opositora", diz a socióloga Graciela Römer, responsável pela empresa.

Nas pesquisas da Giacobbe, 81% dos eleitores já se decidiram e Kirchner perde também por quatro ou cinco pontos entre quem já escolheu seu candidato. Os indecisos seriam 19%, dos quais 75% dizem que seu voto será opositor. Para estes eleitores, tanto a nível pessoal quanto de cidadão, "Kirchner deve perder", afirmou Jorge Giacobbe. "Para mim, estas eleições estão mais definidas do que parece" afirmou Rosendo Fraga. Segundo ele, o governo perde 15 pontos no total, comparado ao resultado das eleições de 2005 (ultima legislativa), com a maior parte dessa perda concentrada na capital federal e nas províncias de Córdoba, Mendoza, Santa Fé e Entre Rios. "O conflito com o campo será decisivo na formação deste mapa", afirmou Fraga, referindo-se à disputa aberta pelo governo em março de 2008 com os agricultores, na tentativa de aumentar a tributação sobre as exportações de grãos, e que até hoje não se resolveu. Exceto na capital Buenos Aires, a agricultura é a principal atividade econômica em todas aquelas províncias.

Jornal Valor Econômico

Caderno: Internacional

Economia tem pior desempenho desde 2002.

Agências internacionais

A economia da Argentina cresceu 2% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. Em relação ao quarto trimestre, o avanço foi praticamente nulo: 0,1%. Desde 2002, a economia argentina não registrava um crescimento tão fraco.

Os setores que tiveram o pior desempenho foram o agrícola e o de construção, informou ontem o Instituto Nacional de Estatística. No primeiro, a produção caiu 14,1% em relação ao três primeiros meses de 2008; no segundo, o declínio foi de 3,5%. Há dúvidas quanto à confiabilidade dos dados. Economistas acusam o governo argentino de manipular o dado de inflação no país. Uma inflação menor (o chamado deflator, usado no cálculo do PIB) pode gerar um PIB maior. Segundo estimativas, o PIB real poderia ser até 2 pontos percentuais menor do que o declarado pelo governo.

Desde 2003, a economia argentina cresce ao ritmo de pelo menos 6,8%. Alguns analistas acreditam que a economia terá uma contração de 4% este ano - apesar de uma possível melhora dos preços das commodities no segundo semestre. O orçamento de 2009 prevê um crescimento da economia de 4% este ano.

Jornal O Estado de S. Paulo

Caderno: Economia

Camex rejeita cota para trigo dos EUA e do Canadá

Denise Chrispim Marin

A Câmara de Comércio Exterior (Camex) acatou a posição do Ministério da Agricultura e rejeitou ontem a adoção de uma cota de importação de trigo dos Estados Unidos e do Canadá, com tarifa de importação reduzida de 10% para 0%. A demanda havia sido apresentada pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), sob os argumentos de que haverá déficit de 1 milhão de toneladas do grão até a colheita da próxima safra, em agosto, e de que os moinhos já não podem mais segurar o repasse da elevação do preço da matéria-prima para os produtos finais.

A Abitrigo, que também pede ao governo a prorrogação da isenção do PIS/Cofins, calcula que o preço da farinha de trigo está sujeito a um aumento de 38% e o do pão, de 15% a 18%, se as duas medidas não forem acatadas.

Ao deixar a reunião da Camex, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, deixou claro que a decisão, eventualmente, poderá mudar. Mas, enfatizou que os estoques são suficientes para o abastecimento do mercado brasileiro até a colheita da safra. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o País dispõe atualmente de 2,25 milhões de toneladas - 715 mil toneladas, nos estoques do governo, e mais 1,5 milhão de toneladas, nas mãos das cooperativas, de produtores e da própria indústria. Como o consumo mensal alcança 800 mil toneladas, A Conab calcula haver grãos para mais de dois meses de abastecimento até a colheita da próxima safra, de 5,6 milhões a 6 milhões de toneladas de trigo.