15.09.2008
Jornal "Folha de S. Paulo"
Caderno: Mundo
Com medo, bolivianos fogem de conflito em Pando para o Brasil
Famílias bolivianas estão atravessando a fronteira em direção ao Brasil para fugir dos conflitos iniciados na última semana na capital do departamento de Pando, Cobija, que faz divisa por uma ponte com as brasileiras Epitaciolândia e Brasiléia, no Acre.
Por telefone, o secretário de Meio Ambiente de Epitaciolândia, José Menezes, disse que a maioria vêm de Cobija e também de Porvenir, palco de um massacre que deixou pelo menos 30 mortos, segundo o governo, na última quinta-feira.
Não há um número exato de famílias "refugiadas". Com malas e trouxas nas mãos, elas viajam de ônibus, carroças, motocicletas e bicicletas. Segundo Menezes, ela ficam em hotéis ou em casa de parentes.
Dono de uma pousada em Brasiléia, José Luiz Revollo afirma que 70% dos leitos estão ocupados por bolivianos. "Uns 40 estão aqui desde quinta. Eles têm medo de represália, de vandalismo e até de serem seqüestrados", disse Revollo.
Um boliviano disse, por telefone, que visitava amigos em Cobija e veio ao Brasil por segurança -só volta ao país quando a crise estiver solucionada.
A delegacia da Polícia Federal em Epitaciolândia informou ter concedido, desde o início dos conflitos, vistos de trânsito para ao menos 30 funcionários do governo boliviano que trabalhavam em órgãos públicos tomados pelos manifestantes.
Jornal "Folha de S. Paulo"
Caderno: Mundo
Brasil pode enviar membros do governo para negociação entre Morales e oposição
SIMONE IGLESIAS
O Brasil poderá enviar integrantes do governo para ajudar a negociação entre Evo Morales e a oposição. A oferta será feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião da Unasul, marcada para as 15h (16h em Brasília) em Santiago.
A informação é do assessor de assuntos internacionais de Lula, Marco Aurélio Garcia. Oferta semelhante havia sido feita na semana passada, quando o próprio Garcia iria chefiar uma missão a La Paz, mas Morales recusou a oferta. De todo modo, não havia garantias para encontro com os dois lados em conflito naquele momento.
Durante o fim de semana, chanceleres dos países-membros da Unasul trocaram informações sobre a situação na Bolívia e traçaram as linhas gerais para a reunião (ver texto acima). O Brasil quer um texto que afaste qualquer possibilidade de ingerência na Bolívia, mas ainda não há um consenso.
O governo brasileiro não quer tomar nenhuma decisão sem a concordância do governo boliviano e da oposição, posição bem diferente da de Hugo Chávez, que sugeriu a reunião de emergência e já ofereceu a Evo Morales "apoio armado".
Sobre as declarações de Morales feitas sábado, acusando "pistoleiros brasileiros e peruanos" pelo massacre em Pando, onde morreram 25 pessoas na última quinta-feira, Garcia disse não ter causado problemas diplomáticos.
"Não temos nenhum informação concreta do que aconteceu. O fato é que há criminosos em qualquer parte. Não há sentido em fazer comentários porque o criminoso pode ser boliviano, brasileiro ou francês e vai ser criminoso em qualquer lugar do mundo", comentou.
Jornal "Gazeta Mercantil"
Caderno: Internacional
Lula participa de reunião da cúpula da Unasul
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará, hoje, da reunião de cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) sobre a crise boliviana. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa do Palácio do Planalto na tarde de ontem. O presidente viajará do Rio de Janeiro direto para a capital chilena, com saída prevista para o meio-dia de hoje e participa da reunião da Unasul às 15h30, horário de Brasília. Lula passou o fim de semana em Mangaratiba, no litoral fluminense, na residência de praia do governador Sérgio Cabral.
A agenda do presidente previa que ele fosse hoje ao Paraná, onde inauguraria a expansão da fábrica da Klabin Monte Alegre. Pela manhã, Lula deve manter os seus compromissos no Rio, que inclui cerimônia de inauguração do Centro Logístico da Volkswagen Caminhões e Ônibus em Resende. O presidente deve retornar ainda hoje à Brasília às 20h. A reunião da Unasul foi convocada pela presidente chilena, Michelle Bachelet em caráter de urgência para discutir a situação política da Bolívia.
O presidente Lula afirmou no sábado que a melhor solução para o conflito na Bolívia é a negociação e citou que os contratos do Brasil com o país vizinho precisam ser respeitados. "Eu queria fazer um apelo ao povo boliviano, aos empresários, aos trabalhadores, ao governo e à oposição, que permitam que a Bolívia encontre seu próprio destino, fortalecendo sua própria democracia, fortalecendo as instituições e, ao mesmo tempo se desenvolvendo", disse Lula. "O que o Brasil pode fazer? É um apelo à Bolívia que temos acordos, temos contratos, e que, portanto, esses contratos precisam ser respeitados."
Jornal "Correio Braziliense"
Caderno: Mundo
Unasul debate solução
Os presidentes de Chile, Venezuela, Equador, Argentina, Uruguai, Brasil, Colômbia e Paraguai se reunirão em caráter de urgência hoje em Santiago para discutir a crise política na Bolívia, no âmbito da recém-criada União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que viverá sua prova de fogo. A reunião foi convocada no sábado pela presidenta chilena, Michelle Bachelet, que exerce a secretaria pro tempore do grupo, institucionalizado em 23 de maio passado em Brasília.
Bachelet decidiu reunir seus pares latino-americanos para definir posições em relação à Bolívia, onde uma onda de violentos protestos matou pelo menos 30 mortos. O objetivo é "ver como, a partir da Unasul, podemos tomar uma atitude positiva e construtiva, que permita aproximar as partes, apoiar os esforços do povo e do governo boliviano para ir em busca de uma garantia de seu processo democrático, da estabilidade e da paz na Bolívia", declarou Bachelet. Ela explicou ter decidido convocar a reunião depois de longas conversas com o presidente boliviano, Evo Morales, que não participará do encontro.
A assessoria de imprensa do Palácio do Planalto confirmou a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião. Ele embarcará do Rio de Janeiro para Santiago ao meio-dia. Lula deixará uma clara mensagem contra uma possível ingerência da Unasul no conflito interno boliviano. Em conversa com Bachelet, ele ponderou sobre a necessidade de Morales concordar com a ajuda dos vizinhos. "Deve ficar claro que não temos o direito de tomar nenhuma decisão sem que o governo e a oposição da Bolívia estejam de acordo", declarou Lula.
Na quinta-feira, o governo brasileiro já havia oferecido a Morales que o ministro de Relações Exteriores interino, Samuel Pinheiro Guimarães, e o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, embarcassem com outros representantes diplomáticos da região para tentar mediar o diálogo entre governo e opositores. Na ocasião, Evo recusou a oferta, pedindo para que o grupo esperasse mais tempo.
Correio Braziliense
Caderno: Mundo
Brasivianos estão sob pressão
Política de ocupação das terras ociosas em departamentos do interior do país, como Pando, deve provocar conflito agrário com imigrantes brasileiros. Precavidos, alguns mudam de nacionalidade
Edson Luiz
A colonização das fronteiras da Bolívia, incentivada no governo Evo Morales, vai atingir diretamente as cerca de 8 mil famílias de brasileiros que vivem entre os departamentos de Pando e Beni. Pesquisadores avaliam que a ocupação dos espaços, até então vazios desde a década de 1970, vai causar sérios conflitos agrários e muitos brasivianos — denominação dada aos brasileiros residentes no país vizinho — podem ser expulsos de suas terras. Com medo que isso ocorra, vários deles mudam de nacionalidade e alguns jovens até já se alistaram nas Forças Armadas bolivianas.
A falta de um censo recente impede que se saiba exatamente quantos brasileiros estão hoje na Bolívia. O Itamaraty calcula em 14.400 o número de pessoas, mas pesquisadores acreditam que somente na floresta haja entre 30 mil e 40 mil. Muitos deles chegaram ao país vizinho durante a colonização do Norte brasileiro pelos sulistas, a partir de 1970, quando começaram os conflitos agrários. Dos que atravessaram a fronteira, poucos voltaram.
"Hoje, temos uma questão social muito grave que está chegando à fronteira", diz a historiadora da Universidade Federal do Acre Geórgia Pereira Lima, pesquisadora do assunto. Ela está completando um trabalho que vai mostrar a identidade e a cultura dos povos que vivem na região. Segundo Geórgia, a política de Morales atrai mais bolivianos para o interior do país, principalmente uma população antiga que não tinha cobertura social do governo. "Eles estão vindo para ocupar os espaços", acrescenta a especialista.
Com isso, a pressão sobre os brasivianos sem documentos vai aumentar. "Pode acontecer uma crise política na região e até chegar a conflitos agrários", prevê Geórgia. Como não havia a necessidade de regularização na Bolívia, apenas a terceira geração de brasileiros residentes naquele país cuidou de se legalizar, assim como suas terras. "Havia uma resistência quanto à necessidade dos documentos. Mas com a mudança de política todos estão procurando a regularização. Alguns inclusive se naturalizando bolivianos", observa o pesquisadora, ressaltando que existem casos em que jovens brasileiros servem ao Exército do país vizinho.
A regularização não muda muito a vida do brasiviano. Eles continuam morando em taperas, casas precárias no meio na floresta, vivem principalmente da extração do látex ou trabalhando em derrubadas de árvores. Três dos quatro brasileiros feridos no confronto da semana passada entre governistas e opositores, no vilarejo de Porvenir, tinham esse perfil. Um pequeno número conseguiu adquirir terra para criar poucas cabeças de gado. "Eles vivem em uma certa indigência. No entanto, se recusam a sair disso alegando que nos seringais ainda conseguem viver da caça e da pesca", explica Geórgia.
Jornal do Senado
Caderno: Internacional
Conselho de Defesa do Parlasul discute crise na Bolívia e Paraguai
A instabilidade política na Bolívia e no Paraguai deverá ser um dos principais temas em debate durante a 13ª Sessão Ordinária do Parlamento do Mercosul, que começa nesta segunda-feira, em Montevidéu. No segundo dia da sessão, o ministro brasileiro da Defesa, Nelson Jobim, fará uma exposição sobre a proposta de criação do Conselho de Defesa da América do Sul, anunciada paralelamente ao anuncio dos Estados Unidos de recriação da Quarta Frota da Marinha (leia ao lado), que também vem mobilizando o Parlasul.
O presidente da Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), pretende apresentar na sessão plenária um projeto de declaração em defesa da manutenção da democracia na Bolívia – país que passa por uma forte crise política (veja página 11) – e de repúdio às ameaças à integridade territorial do país. A proposta deverá conter uma advertência de que o Mercosul se oporá a qualquer tentativa golpista na Bolívia.
Quanto ao Paraguai, caberá a integrantes da própria bancada do país apresentar um projeto de declaração em apoio à democracia e ao novo presidente Fernando Lugo. A suposta preparação de um golpe de Estado no país vizinho foi denunciada por Lugo há uma semana, depois que soube de reunião realizada na casa do general reformado Lino Oviedo, com a participação de militares e políticos de oposição ao novo governo.
A agenda da delegação brasileira em Montevidéu começará às 8h de segunda-feira, com um café da manhã com a participação do embaixador Regis Arslanian, delegado do Brasil junto ao Mercosul e à Associação Latino-Americana de Integração (Aladi). Às 9h, terão início reuniões das comissões permanentes do Parlamento do Mercosul.