15.04.2009

Jornal Folha de S. Paulo

Caderno: Mundo

Morales susta jejum e abre campanha

Acordo no Congresso sobre Lei Eleitoral abre caminho à reeleição do presidente boliviano em dezembro

Nova legislação estabelece voto de bolivianos no exterior e reserva cadeiras para representantes dos vários grupos indígenas

FABIANO MAISONNAVE

Após dias de intensa disputa entre governistas e oposição, o Congresso boliviano aprovou na madrugada de ontem a nova Lei Eleitoral do país. O fim do impasse abre o caminho para a realização de eleições gerais em 6 de dezembro, nas quais o presidente Evo Morales aparece como favorito para um novo mandato de cinco anos.

A aprovação foi comemorada em clima de campanha eleitoral por Morales, que encerrou uma greve de fome de cinco dias. Nesse período, mascou folha de coca, bebeu água e comeu doces. Ele encerrou o jejum às 4h20, cerca de 15 minutos depois do fim da sessão parlamentar.

O presidente boliviano acusou a maioria opositora no Senado de ter "chantageado" o governismo para mudar a legislação eleitoral.

A legislação regulamenta as alterações eleitorais contidas na nova Constituição, aprovada em referendo em janeiro. O principal impasse se referia à realização de um novo censo eleitoral. Num recuo de Morales, os governistas concordaram no sábado em fazer um registro biométrico dos eleitores, incluindo a impressão digital, desde que não atrase a eleição.

 

Jornal do Brasil

Caderno: Economia

Protecionismo: ameaça mais distante

Apesar de queda de 9% no comércio global e estímulos a mercados internos, OMC ameniza discurso

Gabriel Costa

Mesmo com queda prevista de 9% no comércio global em 2009 – a maior em 60 anos – não há ameaça iminente de medidas protecionistas do tipo olho por olho, concluíram diplomatas em reunião ontem na sede da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Genebra. Enquanto isso, países afetados pela turbulência contam com os mercados internos como sustentação frente ao futuro incerto das trocas internacionais, embora os efeitos dessa tendência ainda sejam motivo de controvérsia entre especialistas.

Um levantamento da instituição destacou que os mais de 40 pacotes de estímulo já anunciados ao redor do mundo podem ter impacto positivo e promover o comércio, mas alguns discriminam produtos estrangeiros e nacionais. – É uma tendência natural dos programas de recuperação nacional voltarem-se à geração de emprego e renda no próprio país. O importante é manter isso em dimensões que não afetem o comércio internacional de forma desproporcional, o que está sendo feito – destacou o professor Giorgio Romano Schutte, do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (Gacint/USP), ao Jornal do Brasil.

 

Jornal Valor Econômico

Caderno: Brasil

Relação da AL com a China deve mudar

João Carlos de Oliveira

A China será um dos temas mais relevantes do Fórum Econômico Mundial para a América Latina, que começa hoje, no Rio. Amanhã, em plenário, será debatida a atração de investimentos para os países da Ásia e Oriente Médio; à tarde, haverá um painel sobre a China como parceiro comercial. No centro do programa do fórum estão a crise global e suas implicações para a América Latina. Na plateia, mais de 500 pessoas de 37 países, entre empresários, políticos, acadêmicos, líderes sociais e do mundo dos negócios. A ideia dos organizadores é reafirmar a aposta de que a América Latina pode transformar-se, agora, em parte da solução para o problema.

A China já ocupa essa posição. Depois de lançar um pacote interno de estímulo de cerca de US$ 600 bilhões (como proporção do PIB, o pacote chinês é três vezes maior do que o americano), Pequim tem procurado ampliar sua influência nas decisões que pretendem redesenhar o mapa da economia mundial. Com um cacife de US$ 2 trilhões em reservas, o país coloca em questão o papel do dólar, defende a reforma das instituições multilaterais, mostra disposição para financiar projetos em qualquer ponto do planeta e, para manter ativo o comércio bilateral com países emergentes, faz acordos para adoção de um sistema de pagamento em moeda local.

Um exemplo foi o acordo recente firmado com a Argentina. Na prática, a autoridade monetária chinesa coloca 70 bilhões de iuanes (equivalentes a 37 bilhões de pesos ou US$ 10 bilhões) disponíveis para as operações comerciais argentinas com o país asiático. Além disso, a China anunciou a assinatura de um contrato de exportação de petróleo com a Petrobras e afirmou estar disposta a criar uma joint-venture para atuar na exploração de petróleo no pré-sal e na produção de etanol.

 

Jornal O Estado de S. Paulo

Caderno: Internacional

Chávez quer usar cúpula para pressionar EUA

Venezuelano pretende aproveitar presença de Obama no encontro regional de Trinidad e Tobago para fazer campanha pelo fim das sanções a Cuba

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, tem dado sinais de que pretende usar a Cúpula das Américas, que será realizada entre sexta-feira e domingo, em Port of Spain, capital de Trinidad e Tobago, para orquestrar um coro antiamericano e pró-Cuba. "Estamos preparando nossa artilharia", advertiu Chávez ontem, referindo-se ao encontro. "Por que Cuba não estará na cúpula? Essa será uma das primeiras perguntas que ressonarão em Trinidad", completou, após defender que os EUA levantem o embargo à ilha.

A cúpula, da qual participarão representantes de 34 países, será o primeiro encontro do presidente dos EUA, Barack Obama, com a maior parte dos líderes da região. Segundo fontes da Casa Branca, Obama decidiu anunciar o fim das restrições às viagens e remessas de cubano-americanos à Cuba na segunda-feira numa tentativa de evitar que as relações com a ilha sejam o principal tema da reunião.

Em dezembro, durante um encontro do Grupo do Rio, na Costa de Sauípe, no Brasil, presidentes de diversos países da região pediram o fim do embargo à ilha. Alguns também vêm defendendo sua reinclusão na Organização dos Estados Americanos (OEA). "Vamos ver o que nos traz o presidente dos EUA (em Port of Spain)", disse Chávez. "Queremos ver se é verdade que ele vem com uma nova visão sobre a América Latina e o Caribe e pretende respeitar nossos povos."

Chávez promete "fechar posições" com seus aliados num outro encontro que ocorrerá em Cumaná, na Venezuela, um dia antes do início da cúpula em Trinidad e Tobago. Segundo ele, estarão presentes na reunião paralela os presidentes de Cuba, Raúl Castro; o de Honduras, Manuel Zelaya; o da Nicarágua, Daniel Ortega, e o primeiro-ministro de Dominica, Roosevelt Skerrit.

A última Cúpula das Américas ocorreu há quatro anos em Mar del Plata, na Argentina. Na ocasião, Venezuela e Brasil ajudaram a enterrar o projeto da Área de Livre Comércio para as Américas (Alca), impulsionado pelos EUA. Desde então, os americanos têm negociado acordos bilaterais com vários países da região, enquanto Chávez vem se empenhando em angariar adeptos para seu bloco antiamericano.