As semente da gameleira (Ficus doliaria) são espalhadas pelas fezes dos animais que se alimentam de seus frutos, em especial os morcegos frutívoros – que são, de um modo geral, os maiores dispersores de sementes, superando até mesmo os macacos nesse quesito.

Um pequena muda da figueira mata-pau começa a nascer, então, sobre o tronco de outra árvore, com seus ramos procurando a luz do sol (fototropismo) e as raízes descendo em direção ao solo (geotropismo). Aos poucos, a nova árvore vai envolvendo e sufocando a antiga, que termina morrendo sufocada. Com o apodrecimento da árvore envolvida, sobra um grande oco em seu lugar, que vai servir de abrigo para inúmeras espécies de animais.



Na Câmara

Na Câmara dos Deputados, podemos ver, além de diversas mudas se desenvolvendo sobre outras árvores, apenas um exemplar adulto, localizado no estacionamento do Complexo Avançado, junto ao viveiro de mudas da Seção de Manutenção de Jardins. Ele cresceu sobre um pé de sibipuruna (Caesalpinia peltophoroides), que já sucumbiu ao sufocamento.

  Esse exemplar existe desde 2002 e  é filho de um outro, assassinado covardemente, no ano de 2004,  pelo método de cintamento, no qual se retira um anel superficial do tronco, impedindo a circulação da seiva. Uma sindicância foi aberta para punir o culpado, uma vez que matar árvores sem autorização é crime previsto tanto pela legislação distrital, quanto pelas leis federais.

Uma árvore sagrada

O povo yorubá costuma cultuar uma outra árvore, a irôco (Cholropho excelsa), como parte de seus rituais e crenças. É uma árvore majestosa, chamada "amoreira africana" na África de língua portuguesa, encontrada da Serra Leoa à Tanzânia, que atinge 45 metros de altura e até 2,7 metros de diâmetro.

No Brasil, como tal planta não existe, diz-se que Irôco, a entidade, costuma habitar a gameleira. Segundo bibliografia da Fundação Pierre (Fatumbi) Verger,

“Nos terreiros, costuma-se manter uma dessas árvores como morada de Iroko, assinalada por um "ojá" (laço de pano branco) ao seu redor.
Iroko representa a ancestralidade, os nossos antepassados, pais, avós, bisavós etc, representa também o seio da natureza, a morada dos Orisas.
Desrespeitar Iroko (a grande e suntuosa árvore) é o mesmo que desrespeitar a sua dinastia, os seus avós, o seu sangue.  Iroko representa a história do Ylê (casa), assim como do seu povo, protegendo-o sempre das tempestades”.

Usos

A figueira-mata pau ou gameleira é usada, como o nome diz, para fabricação de gamelas - vasilhames de madeira muito usados no interior. Seu leite também serve como vermífugo,  mas apenas por aqueles que conhecem bem os segredos das terapias fitoterápicas, uma vez que seu uso incorreto pode ser perigoso. Sua madeira é usada ainda para caixotaria leve e para miolo de portas e painéis.
Trata-se de uma árvore  bastante utilizada na arborização de grandes áreas urbanas e rurais, devido à sua sombra densa, assim como para recomposição de matas ciliares e áreas degradadas. Os frutos são consumidos por macacos, morcegos, aves e outros animais, que disseminam largamente suas sementes. O plantio na beira dos rios é especialmente recomendável, pois, além de servir alimento à fauna terrestre, seus frutos são bastante consumidos também pelos peixes.

Outras características

Quando adulta, a gameleira atinge até 20 metros de altura e dois metros de diâmetro, destacando-se na paisagem. Sua casca é espessa e dura e possui folhas ovais, de bordas lisas e verde-escuras,  glabras na  face superior  e  com minúsculos pêlos na face inferior. As  nervuras destacam-se pelo  tom amarelado sendo salientes na face inferior.

                 Seu processo reprodutivo é  muito particular. As flores são diminutas, unissexuais, reunidas em inflorescências especiais denominadas sicónios (um receptáculo fechado) com as flores inseridas no lado de dentro. Os siconios nascem nas axilas das folhas, geminados (2 a 2), globosos , recobertos por pelos, verdes com ponto  claros  mesmo quando maduros. Os frutos, chamados aquênios, que amadurecem dentro do próprio sicónio, após sua  polinização por diminutas vespas que ingressam  no sicônio  por um minúsculo oríficio em sua base, para fertilizar as fores.

Ficha da árvore

Espécie: Ficus doliaria

Nome comum: cerejeira, doliária, figueira, figueira-branca, figueira-brava, figueira-grande,gameleira, gameleira-de-cansaço, gameleira-de-pinga, gameleira-de-purga, guaporé, ibapoi, pau-bicho-amarelo, gameleira-branca

Distribuição: do Amazonas até o Paraná, passando pelos estados centrais do Brasil

Reino: Plantae

Divisão: Magnoliophyta

Classe: Magnoliopsida

Ordem: Rosales

Família: Moraceae

Gênero: Ficus