Entrevista: Diretor do Detec fala sobre o departamento e o plano sustentável para Câmara
Confira na íntegra a reunião entre o EcoCâmara e o Departamento Técnico (Detec). Na entrevista, o diretor do departamento, Mauro Moura, fala sobre as atividades desempenhadas pelo departamento e cita os planos de gestão sustentáveis:
Mauro Moura é servidor da Câmara dos Deputados no departamento técnico (Detec) há 11 anos. Diretor do Detec há um ano, é formado em Engenharia Elétrica e Administração e concluiu mestrado e doutorado em áreas da engenharia elétrica e MPA (Cefor) na área de governança coorporativa.
Trabalho do Detec:
Tenho bastante orgulho do trabalho que vem sendo desenvolvido no Detec nos últimos anos. Há de se louvar o trabalho anterior, pois o Detec conseguiu, apesar dos pesares, manter a Casa funcionando com um grau de qualidade muito bom. E é o que estamos tentando fazer também.
Nossa equipe atualmente é grande, porém, não dá conta de cumprir todas as demandas, em um tempo razoável dentro do prazo exigido pelos solicitantes. Há muito trabalho a ser feito, e não há recursos suficientes para realizadas, com a qualidade desejada, num prazo que seria o ideal. Isso nos leva a um segundo momento que é o da melhoria da gestão. É preciso priorizar. Em um ano como este, há priorização não somente pelas atividades, mas também pelo custo, que tem que ser reduzido em função dos cortes orçamentários.
Mas, de qualquer forma, o DETEC é um departamento muito grande, um dos maiores da Casa, que tem a missão de, com o apoio de outros órgãos, como o Departamento de Material e Patrimônio (Demap) e o Centro de Informática (Cenin), prover a infraestrutura da casa. A infraestrutura que se vê, e se usa, é provida basicamente pelo Detec. O Cenin na área de informática, e o Demap na área de fornecimento de materiais. Então se costuma dizer que o Detec é uma espécie de prefeitura de uma pequena cidade de cerca de 30 mil habitantes e com um grau de exigência muito grande”.
Temos essa missão, bem complexa, e que realmente demanda muita criatividade, muita competência e muito esforço. Estamos estruturados hoje basicamente em função de especialidades. São seis coordenações. Três coordenações de engenharia basicamente, uma coordenação de arquitetura, uma de atendimento as edificações, cooperação e administração e zeladoria do prédio (Caede) e uma coordenação recém criada, que é de planejamento e gestão. Acreditamos que seja uma boa divisão de especialidades, e dentro de cada coordenação, nós temos a setorização por atividades, em função da característica de cada coordenação.
O Detec é um departamento focado em espaço físico, mas o espaço físico tem a ver com a qualidade de vida das pessoas, e principalmente com a produção. Espaço físico muito inadequado tira a produtividade, e no fim das coisas, acaba atrapalhando o desempenho no trabalho. Eu considero que o DETEC, na maioria de suas ações, não é nem atividade meio. É atividade básica. Nós damos apoio à atividade meio e fim, nós apoiamos todo mundo. Temos buscado realizar essa função da melhor forma possível.
Dentro da nossa linha de atuação, o Detec é o departamento que mais inicia processos de aquisição da Casa, é o que mais compra, é o que mais gasta dinheiro. É o que cuida da maior fatia da parcela de investimentos do orçamento da Câmara. Então é um departamento que gerencia muitos recursos, financeiros inclusive. Se contar todo mundo que trabalha gerenciado pelo Detec, somos o maior departamento da Casa. Gerenciamos metade dos terceirizados da Câmara, tem uma boa quantidade de servidores efetivos, que não é a maior, mas que no conjunto da obra acaba sendo o departamento que mais gerencia mão de obra.”
É um departamento complexo. Mas muito bom de trabalhar.
Principais ações
Combater desperdício é algo fundamental pro meio ambiente. Porque combater desperdício significa você postergar uma exploração natural. Você posterga uma aquisição, você acaba postergando uma fabricação. Você diminui a demanda em um curto prazo. É muito importante comprar menos. Não só pelo dinheiro. Em todas as especificações que nós fazemos, seguimos as legislações. Portanto, nossas especificações procuram seguir uma modernidade jurídica e relativa à necessidade ambiental, e tentar adquirir produtos ecologicamente melhores.
Se você apura uma técnica construtiva, melhorando o treinamento do pessoal, fiscalização dessa execução, você consegue de um modo bem simples combater desperdícios.
Pensando pelo lado de que as instalações da Câmara dos Deputados são antigas, é difícil se pensar em ideias inovadoras, que venham revolucionar a atividade na Casa como um todo. Porém, varias ações em andamento vem sendo desempenhadas pelo Detec para melhorias nas atividades desempenhadas no local.
São ações que levam anos para serem concluídas, e quando são concluídas, já tem alguma outra tecnologia. Então é um processo cíclico. Não é manutenção. É um processo de retrofite das instalações de uma forma geral.
1) Ar-condicionados
A maior de nossas ações, que tem maior relevância no ponto de vista ecológico, é a modernização do sistema de ar-condicionado da Casa. O consumo de energia elétrica pelo ar- condicionado é cerca de 40% do total utilizado pela Câmara. Nós estamos focando nesse projeto da troca dos ar-condicionados porque é a maior ação de eficiência energética que podemos fazer. É uma ação que foi planejada em várias etapas. Algumas já foram executadas. O plano geral é eliminarmos algumas centrais de água gelada dos prédios e ficarmos com apenas duas. Uma no anexo II e uma no anexo IV. A do anexo II, no final das contas, ela vai atender o anexo I, II e o edifício principal. A do anexo IV vai atender o anexo III, IV e o anexo IV - (B), que ainda não foi construído.
O que já foi feito: as máquinas resfriadoras, grandes e pesadas, já foram adquiridas e instaladas. Tanto no anexo II quanto no anexo IV. As trocadoras de calor das maquinas do anexo IV, nós estamos mudando de posição por causa da obra que será iniciada para construção do anexo IV - (B). As definitivas serão instaladas quando o anexo IV – (B) estiver pronto.
Prevemos uma redução de cerca de 40% em energia elétrica gastos em ar-condicionado. O que vai dar ai uns 15% do consumo total de energia elétrica.
É um projeto muito interessante, que torna o sistema como todo mais eficiente e que é muito bom para a sociedade como um todo, além de reduzir nosso gasto de energia a tal ponto que ele tem taxa interna de retorno positiva. Ou seja, ao longo do tempo, todo dinheiro investido voltará para a Câmara. Levará alguns anos para a conclusão deste projeto.
2) Equipamentos de Escritório:
Temos trabalhado na aquisição de equipamentos, em que o Cenin tem colaborado bastante, para compra de equipamentos que sejam mais eficientes, dentro de cada categoria, no que se diz respeito ao gasto de energia elétrica. Com o passar do tempo, pretendemos ter apenas equipamentos de eficiência excelente dentro da Casa. Quanto à utilização de energia elétrica, temos trabalhado também, com o apoio do EcoCâmara, em projetos de conscientização quanto ao uso correto dos equipamentos eletrônicos.
Temos também uma sistemática de desligamento dos prédios. Tudo é manual, mas funciona bem, onde o desligamento dos equipamentos eletrônicos acontece em horários programados. Ou seja, mesmo que o servidor ou contribuinte esqueça algum equipamento ligado, como o computador, não passa a noite ligado, devido a esse sistema.
3) Iluminação
Dentro desse conjunto, a iluminação é a que possui menor peso, apesar de ser o que mais aparece. Para iluminação, nós temos grandes problemas na Casa. Não em relação a eficiência, mas em relação a qualidade da iluminação. Mudar tudo, de modo universal na Casa é complicado, por que demanda projeto em cada um dos ambientes físicos. A gente sempre teve dúvida entre fazer uma ação básica de melhoria, ou fazer um projeto para mudar a iluminação dos ambientes como um todo. Como o projeto demora muito, nós tomamos uma decisão no ano passado de fazer algo a favor da eficiência em pouco tempo de atuação e de baixo custo administrativo. Então decidimos substituir as lâmpadas fluorescentes tubulares que usávamos aos montes, por lâmpadas tubulares de LED.
Aderimos a uma ata. Hoje praticamente não existem mais lâmpadas do tipo fluorescente na Câmara. Grande parte das lâmpadas já foram substituídas. O fluxo luminoso se manteve praticamente o mesmo, mas com a vantagem de se utilizar lâmpadas que gastam cerca de 40% menos de energia elétrica.
Começamos um processo de aquisição destas lâmpadas no final do ano passado, que ainda não se concluiu. Esse ano essa é uma das ações que nós estamos tentando bancar. Nós estamos comprando essas lâmpadas em associação com sensores de presença, que nos ajudaram a desligar os ambientes na ausência de pessoas. Em nosso plano, temos uma previsão de redução do consumo em 50% do total gasto anteriormente com as lâmpadas fluorescentes. É uma medida relativamente simples, com baixo custo, mas com um impacto significativo. A instalação, basicamente, é a troca das lâmpadas e um sensor de presença. Coisas simples, que não demandam obras, e que são realizadas pelos nossos contribuintes internos.
4) Gestão de água potável
Nós temos uma luta enorme, talvez até maior que a eletricidade, por um motivo simples. A água fura o cano, e acaba vazando. A eletricidade costuma não vazar. Quando vaza, costumamos perceber de maneira mais fácil. Como nós temos prédios antigos, tubulações antigas, a água costuma vazar com maior facilidade. É um processo lento, que nós temos procurado combater. Uma ação bem pragmática que foi feita recentemente foi compra de hidrômetros parciais, que já foram instalados. Com eles, temos condição de monitorar não só pelo hidrômetro da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB), mas acompanhar através dos nossos também.
Se a soma dos hidrômetros dentro do prédio, dependendo da posição onde eles estão, der muito diferente dos nossos ramais de alimentação, conseguimos detectar o vazamento. É um trabalho de prospecção miúdo, que é muito importante não só para reduzir o dinheiro gasto na conta, mas também para reduzir o consumo de água potável.
A outra providência é a substituição de parte do fornecimento de água mineral de garrafas pets por filtros de água. Com isso, eliminarmos boa parte do plástico usado. Essa ação ainda está em andamento. Muitos filtros já foram instalados pelas copas da Casa.
Outra ação fácil de prever, e que está sendo implantada, é a substituição das torneiras convencionais dos banheiros por torneiras de fechamento automático. Elas garantem uma boa economia de água. Evoluímos também na questão de controle da água utilizada em nossos vasos sanitários, por meio de instalação de válvulas de controle.
O reuso de águas pluviais é um projeto que também está sendo realizado. Nos projetos novos, isso já está mais ou menos consolidado. Nos apartamentos funcionais, desde o primeiro prédio, já existia o projeto, que só não entrou em operação imediatamente porque a CAESB não autorizou por restrições técnicas. Ela não aprovou aquilo lá. Hoje, a tentativa com a CAESB está avançando no sentido dela autorizar a utilização. Todos os blocos de apartamentos funcionais já tem previsão de reuso de águas cinza e de águas pluviais.
Importância das ações pensando na sustentabilidade
Acho que nós temos que procurar colaborar nessa área. O impacto do ser humano no meio ambiente acontece individualmente. Cada um destrói um pouco, cada um polui um pouco. Está na hora de resolver o problema, não adianta o governo querer resolver o problema, que não vai conseguir. É uma questão de cidadania e conscientização. Nem sempre a gente consegue fazer tudo que é preciso, mas é importantíssimo que sempre tenhamos a consciência de que a gente pode melhorar.
Nós temos profissionais dentro da Casa que tem bastante consciência disso, outros nem tanto. Entretanto há sempre uma decisão estratégica na tentativa de convencimento de que todas as ações tem que levar esse fator em conta. Afinal, não adianta uma pessoa vestir a camisa, e o resto não se importar com nada disso.
Com isso, nós temos que trabalhar em bloco. Acredito que essa diretriz seja muito forte dentro do DETEC. Quem se forma em engenharia e arquitetura hoje em dia já vem pensando nisso. Como fazer algo mais eficiente. É uma questão de reduzir o impacto da nossa ação no meio ambiente. É essencial a adesão da cadeia superior de decisão, porque sem isso, a coisa acaba não andando. Nós procuramos que essa decisão não seja meramente formal.
O papel do EcoCâmara é esse, de procurar nos ajudar nessa prospecção, porque nem sempre nosso dia-a-dia nos permite ter esse olhar. Vir aqui, propor, instruir. Para que aumente a probabilidade de que as coisas aconteçam da maneira correta. Essa é a ideia.