16/04/2014 18:57 - Economia
Radioagência
Cerveró afirma que compra de refinaria no exterior estava nos planos da Petrobras e foi bom negócio
Deputados da oposição e do PT ficaram com opinião contrária sobre o depoimento do ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró com relação à compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Para os parlamentares da oposição, Cerveró contradisse a presidente da Petrobras, Graça Foster, ao defender a aquisição da refinaria. Já os deputados petistas disseram que as explicações do ex-diretor foram esclarecedoras.
Para o líder do DEM, Mendonça Filho, de Pernambuco, o ex-diretor contradisse a opinião da presidente Dilma Rousseff e da presidente da Petrobras, Graça Foster, ao defender o processo para compra da refinaria.
"Ele veio aqui no limite do ponto de vista do equilíbrio sem querer desmentir o governo e sem querer se comprometer. Evidentemente que não dá para se ter duas verdades. As verdades são contraditórias. Há uma versão dada pela presidente Dilma e outra pelo ex-diretor Cerveró. Uma das duas tem de ser verdade, um dos dois tem de estar mentindo."
Segundo Cerveró, a decisão de expandir o refino de petróleo no exterior já fazia parte do plano estratégico da empresa desde 2000 e foi um bom negócio. De acordo com o ex-diretor, em 2005, comprar uma refinaria nos EUA e adaptá-la para processar petróleo brasileiro pesado, além de ser uma ação alinhada ao planejamento estratégico da Petrobras, era uma boa oportunidade de negócio.
A Petrobras só não quis adquirir a segunda metade da empresa, de acordo com o ex-diretor, depois que uma série de fatores alterou o cenário de planejamento da estatal. Ele listou três questões como centrais para a mudança no investimento em Pasadena: a descoberta das reservas de pré-sal, a construção de refinarias no Brasil e a crise econômica nos Estados Unidos, que diminuiu o consumo naquele mercado.
Nesta terça-feira (15), a presidente da Petrobras, Graça Foster, repetiu a versão de Dilma de que a aquisição de 50% das ações de Pasadena fora autorizada pelo conselho de administração, em fevereiro de 2006, com base em resumo executivo elaborado por Cerveró. Foster, que participou de audiência no Senado, reconheceu que a compra da refinaria "não foi, definitivamente, um bom negócio".
O resumo executivo feito pela área internacional, na versão de Graça Foster e de Dilma Rousseff, omitia qualquer referência às cláusulas Marlim e put option que integravam o contrato. A primeira garantia à empresa belga Astra Oil, sócia da Petrobras, rentabilidade mínima de quase 7% ao ano. Já a segunda obrigava a Petrobras a comprar a participação da Astra em caso de conflito entre os sócios na condução do negócio.
A presidente Dilma Rousseff afirmou em nota que a compra da refinaria não seria aprovada se o resumo executivo tivesse informação sobre as cláusulas. De acordo com o texto, divulgado em março, o resumo era técnica e juridicamente falho.
Parlamentares da oposição e também do PMDB questionaram o ex-diretor se o conselho administrativo da Petrobras, do qual Dilma era a presidente em 2006, teve acesso ou não às cláusulas. Ele não respondeu diretamente, mas disse que a direção da empresa teve acesso a todas as informações do contrato, inclusive as cláusulas, e era de praxe as informações serem repassadas ao conselho.
Deputados do PT defenderam o ex-diretor e disseram que ele deu esclarecimentos técnicos suficientes. Para o deputado Amauri Teixeira, do PT baiano, as explicações de Cerveró e de Foster não são conflitantes.
"A explanação de Cerveró foi a mesma explanação de [Sérgio] Gabrielli [ex-presidente da Petrobras] no Senado e a mesma explanação que tivemos de Graça Foster no Senado, elas confirmam e afirmam o negócio. Mostram que o negócio foi feito, calcado em consultorias internacionais."
A aquisição da refinaria está sendo investigada pela Polícia Federal, pelo Tribunal de Contas da União e Ministério Público, além de ser alvo de propostas de CPIs no Congresso.
O diretor falou em audiência pública conjunta das comissões de Fiscalização Financeira e Controle; de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; e de Relações Exteriores e de Defesa Nacional.