23/04/2014 08:00 - Política
Radioagência
Há 30 anos, a Câmara estava reunida para votar a Emenda Dante de Oliveira
"Declaro aberta a sessão."
"Ordem do dia: continuação da discussão em primeiro turno da proposta de emenda à Constituição número 5 de 1983, que dispõe sobre eleição direta para presidente e vice-presidente da República".
No dia 25 de abril de 1984, toda a atenção dos brasileiros estava voltada para o Congresso Nacional, que votaria a emenda Dante de Oliveira.
Brasília estava sob estado de emergência. Eram proibidas manifestações públicas e aglomerações populares. Mesmo assim, a população tentava acompanhar de perto a votação.
Dentro do Congresso, os ânimos estavam acirrados. Oposição e Governo se revezavam na tribuna, com discursos contra e a favor das diretas.
O deputado Wilmar Callis, que era do PDS, partido de sustentação do regime militar, anunciava em Plenário seu voto, contrário à determinação da sigla.
"Fiel pois, às tradições democráticas do meu país, e portanto do povo brasileiro, de que somos representantes por delegação de votos no Congresso Nacional, declaro enfaticamente: voto pelas eleições diretas já."
O então senador Fernando Henrique Cardoso declarou que o Congresso não poderia negar o pedido de milhões de brasileiros: o direito de eleger seu presidente.
"Se nós sairmos daqui hoje sem termos cumprido com o nosso dever, mesmo aqueles que vamos votar sim às eleições diretas, sairemos chamuscados, porque estaremos pertencendo a um corpo social que não foi capaz de se sensibilizar com os milhões de brasileiros que, de alto a baixo, sem distinção de classes, sem distinção de ideologias, pede uma só coisa. E nós temos a responsabilidde histórica de tornar ato aquilo que já é na vontade constituinte do povo a exclamação, o grande brado contido do na expressão: eleições diretas já."
Já o líder do governo, Nelson Marchezan, repetia o discurso do regime militar: o país ainda não estava preparado para uma eleição direta.
"Não se pode buscar na Argentina inspiração democrática para o Brasil. O que tem acontecido na Argentina? Nós vimos uma eleição direta, feita às pressas, sem as precauções. Cair numa ditadura que levou à desgraça dezenas de milhares de pessoas daquele país. E vimos uma outra eleição implantada num clima de emoção ter dificuldades que nós não queríamos que tivesse. Nós somos a favor da eleição direta. Mas porque não negamos a nossa história - e pelo contrário, a conhecemos - queremos implantá-la aqui permanentemente, sem sobressaltos, sem obstáculos, sem riscos de retorcessos."
A Argentina, que um ano antes elegera diretamente Raul Alfonsin, estava mergulhada em crise econômica.
Os parlamentares passaram o dia discutindo em Plenário as eleições diretas para presidente. No fim da noite, começou a histórica votação:
"Como vota o deputado do PMDB Ulysses Guimarães?"
"Sim, sr. Presidente, voto sim".
"Sim é o voto de Ulysses Guimarães"
Já na madrugada de 26 de abril, o resultado foi proclamado.
Foram 298 votos a favor das eleições diretas, 65 contrários e 3 abstenções.
Faltaram 22 votos para atingir o quórum mínimo.
O grande número de deputados ausentes - 112 - contribuiu para sepultar as esperanças de eleições diretas para presidente da República.
Coube ao presidente da sessão, Moacyr Dalla, anunciar o resultado:
"Os votos favoráveis, embora majoritários, não alcançaram o quórum constitucional necessário à aprovação da matéria. A proposta foi rejeitada pela Câmara. Deixa assim de ser submetida ao Senado, ficando prejudicadas as emendas de número 6, 8, 20, 93, constante do item 2 e 3 da pauta. A Mesa quer silêncio."
O resultado frustrou os brasileiros. O país caminhava para o Colégio Eleitoral.
A eleição direta só viria 5 anos depois, com a escolha de Fernando Collor para a Presidência.