22/10/2013 21:20 - Saúde
Radioagência
Doutora em obesidade infantil ataca dieta que deixa criança com fome
Crianças obesas não devem fazer dietas restritivas, com proibição total de certos alimentos. Pesquisas demonstram que quando se orienta alguém a "fechar a boca" para perder peso, os efeitos são o oposto do desejado: há aumento do apetite, diminuição do metabolismo e a pessoa fica mais obcecada por comida.
Essa informação foi divulgada pela nutricionista Sophie Deram, doutora em obesidade infantil e genética pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ela participou, nesta terça-feira (22), de seminário sobre obesidade infantil promovido pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara. Sophie Deram explica que as dietas restritivas são aquelas que deixam as pessoas com fome:
"O fato de ele sentir fome vai desencadear, no cérebro, um mecanismo de adaptação que vai fazer o quê? Vai aumentar o apetite. Claramente, o que acontece? Quando você está com fome, o corpo quer que você coma. Então ele vai fazer o quê? Vai mandar mais sinais de fome. Se você não responde porque você está de dieta, o cérebro vai mandar mais ainda e seu apetite vai ficar maior. Mostraram em pesquisas que até quando você para essa dieta, o seu apetite fica maior depois e durante pelo menos um ano”.
O presidente do Departamento de Endocrinologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, Paulo César Alves da Silva, concorda com a nutricionista:
"Não gosto nem de usar a palavra dieta. Na verdade, quando a pessoa engorda, ela tem um distúrbio metabólico e ela tem que passar a comer correto para o metabolismo dela. Então pode usar todos os grupos alimentares, mas com orientação médica ou com orientação do nutricionista. Mas não fazer dieta restritiva jamais. É um equívoco até porque a criança está em fase de crescimento”.
Paulo César da Silva destaca que a alimentação das crianças é normalmente fornecida pelos pais. São eles que compram o que se consome em casa e pagam as despesas nas cantinas das escolas, por exemplo. Por isso, segundo o endocrinopediatra, é fundamental que os pais sejam conscientizados sobre a necessidade de prover a casa com alimentos saudáveis e de verificarem o que as crianças estão comendo nas escolas.
A Pesquisa de Orçamentos Familiares realizada pelo IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2008 e 2009, mostrou que, enquanto a desnutrição entre crianças vem diminuindo gradativamente, a obesidade infantil está aumentando. Em 2008, uma em cada três crianças de 5 a 9 anos tinha excesso de peso. Também a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher, realizada em 2006, mostrou que 7% das crianças menores de 5 anos já apresentavam excesso de peso.
A obesidade é uma doença crônica provocada pelo acúmulo excessivo de gordura no corpo das pessoas. Entre as consequências da obesidade infantil, podem-se citar a diabetes do tipo 2, a hipertensão, lesões na pele, alterações psicológicas, e obesidade na vida adulta. Isso sem falar que, em geral, as pessoas obesas vivem menos. A OMS, Organização Mundial da Saúde, já considera que há uma epidemia de obesidade, por causa do grande número de casos em vários países.
A endocrinologista Maria Edna de Melo destaca que, além de uma alimentação adequada, a atividade física é fundamental para evitar e combater a obesidade. Segundo ela, a educação física nas escolas do Brasil, por exemplo, é muito restrita e isso precisa mudar.
O médico e deputado Alexandre Roso, do PSB do Rio Grande do Sul, foi quem sugeriu a realização do seminário sobre obesidade infantil. Ele afirma que a forma de combater esse problema é a integração de esforços de toda a sociedade, com envolvimento da família, das escolas, da indústria de alimentos e do governo. Alexandre Roso destaca que campanhas educativas e a mudança de hábitos também são fundamentais para prevenir a doença.