06/12/2012 22:04 - Educação
Radioagência
Centenas participam do velório de Niemeyer em Brasília
Um talento admirado por pessoas de diferentes idades, classes sociais, partidos e pensamentos, não apenas pelo conjunto da obra arquitetônica que deixa para o mundo, mas também pelo seu lado humano. Essa síntese do que representa Oscar Niemeyer pôde ser vista na fila que se formou na Praça dos Três Poderes, em Brasília, daqueles que pretendiam se despedir do mestre da arquitetura. Debaixo do sol forte que brilhou na capital federal nesta quarta-feira, centenas de pessoas fizeram questão de chegar perto do corpo do arquiteto, que foi velado durante a tarde e o início da noite no Salão Nobre do Palácio do Planalto. Gente como Tomé Mendes Vieira, de 76 anos.
"Por que eu vim prestigiar? Porque eu sou pioneiro. Cheguei aqui em 1958, no dia 11 de abril de 58, e conheci o Niemeyer fiscalizando as obras, junto com o presidente Juscelino Kubitschek. A gente trabalhava 24 horas. Quando dava assim três, quatro horas da manhã, chegavam Israel Pinheiro, Juscelino e ele, fiscalizando. Uma vez ele perguntou assim, não sabia meu nome. Eu estava trabalhando de pedreiro e ele perguntou: 'E aí, irmão, vamos inaugurar em 21 de abril?' Eu disse: 'Vamos, pode contar com o trabalho deste piauiense'. (Repórter: Como é a emoção, então, agora?) A emoção agora é irresistível, irresistível."
Em Brasília para participar de um projeto da escola, a estudante Daielly Sabrina Vieira da Silva, de 15 anos, do Mato Grosso, também quis escrever seu nome neste momento histórico.
"É um grande talento, um homem muito maravilhoso, que ajudou a construir esta linda cidade aqui do Brasil."
De fato, a cidade que o arquiteto desenhou e que se tornou conhecida em todo o mundo por seus traços modernos não poderia deixar de prestar esta homenagem. A presidente Dilma Rousseff telefonou para a viúva de Niemeyer, Vera Lúcia, oferecendo para o velório a sede do governo federal, projetada pelo arquiteto. O gesto emocionou a família, de acordo com a neta, Ana Lúcia. A presidente e a viúva receberam o caixão, coberto com a bandeira do Brasil, do alto da rampa do Palácio do Planalto. Lá embaixo, na Praça dos Três Poderes, cenário de outras obras do mestre, como o Palácio do Congresso e o Supremo Tribunal Federal, as pessoas que aguardavam na fila para acompanhar o velório aplaudiam. O caixão chegou em carro aberto do Corpo dos Bombeiros e subiu a rampa do palácio levado por cadetes da Guarda Fúnebre da Polícia Militar e acompanhado pela guarda presidencial.
Niemeyer morreu na noite de quarta-feira, no Rio de Janeiro, onde estava internado desde o início de novembro. Ele completaria 105 anos no próximo dia 15. Para o deputado Ivan Valente, do Psol de São Paulo, Oscar Niemeyer foi uma das maiores referências do Século 20 para o Brasil, como artista, humanista e também por sua coerência política e ideológica ao longo de mais de 100 anos.
"Ele produziu uma obra monumental de arquitetura, nacional e internacional; mais do que isso, pensou o ser humano, a igualdade social, a transformação da sociedade. Hoje todos têm de reverenciá-lo como uma referência de homem que construiu uma imagem da qual todo brasileiro pode se orgulhar."
O deputado Carlos Brandão, do PSDB do Maranhão, ressaltou que Niemeyer deixa um extraordinário exemplo de vida e de trabalho.
"Ele foi uma pessoa que se destacou na arquitetura brasileira e merece o nosso respeito e a nossa admiração. Além disso, um homem humano, que se preocupava com as causas sociais. Ele não só deixou esse legado aqui, com este trabalho extraordinário, mas também no exterior, onde teve a oportunidade de realizar projetos importantes, mostrando que no Brasil tem pessoas capazes."
O deputado Amauri Teixeira, do PT da Bahia, lembrou que a homenagem ao arquiteto, que lutou contra a ditadura, coincidiu com uma outra, de forte significado, realizada no Plenário da Câmara: a devolução simbólica dos mandatos dos deputados cassados pelo regime militar. E se emocionou ao falar da obra e do legado de Niemeyer.
"Niemeyer não é só um grande arquiteto, não é só um revolucionário da arquitetura mundial. Niemeyer é uma grande personalidade, querida pelo povo, pela sua simplicidade, pela sua ética extrema, pela sua humildade. Era humano, era simples. Niemeyer morreu sem nada."
Revolucionário da arquitetura também foi o termo usado por outro deputado petista presente ao velório: Jorge Bittar, do Rio de Janeiro, que teve o prazer de conviver com o grande arquiteto.
"Tem um outro lado do Niemeyer que é igualmente importante: o seu compromisso com a luta contra a desigualdade social. Ele foi comunista, como eram todos aqueles que lutavam por igualdade na primeira metade do século passado e chegou a ser filiado ao Partido Comunista, e manteve esse seu compromisso com a igualdade social até o último segundo da sua vida. E por conta disso foi um exemplo para todos nós que queremos construir um Brasil e um mundo que seja mais igual, que seja mais equilibrado, que tenha menos guerras."
Os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal, além de ministros de Estado, parlamentares, governadores e prefeitos compareceram ao velório no Palácio do Planalto. A presidente Dilma Rousseff decretou luto oficial de sete dias. Por volta das nove horas da noite, o corpo deixou a Base Aérea de Brasília, no avião presidencial, rumo ao Rio de Janeiro.