Rádio Câmara

Reportagem Especial

Vacinas - movimento antivacinação

19/03/2018 -

  • Vacinas - movimento antivacinação (bloco 1)

  • Vacinas - reações adversas e doenças relacionadas (bloco 2)

  • Vacinas - o coletivo e o individual (bloco 3)

  • Vacinas - febre amarela (bloco 4)

  • Vacinas - gripe, dengue e outras doenças (bloco 5)

Responda rápido: você confia nas vacinas? Segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações, em uma enquete realizada em quase 70 países, mais de 70% dos brasileiros disseram que sim, que acreditam em vacina, 4% disseram não acreditar e os quase 30% restantes disseram ter dúvidas. E são esses grupos do "não" e do "talvez" que começam a preocupar as autoridades de saúde pública, pois, segundo essas autoridades, só foi possível erradicar ou controlar algumas doenças como pólio, sarampo e varíola por meio da vacinação. Como afirma o Akira Homma, do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos BioManguinhos, da Fiocruz.

Akira Homma: "Nós erradicamos a varíola do mundo. Com quê? Vacinação. Eliminados do Brasil há mais de 30 anos a poliomielite. Por quê? Nós fizemos vacinação. A rubéola congênita foi erradicada do país. Por vacinação. Nós temos hoje o menor número de doenças imunopreveníveis notificados na história da saúde pública brasileira."

Nós procuramos, mas não conseguimos entrevistar, pessoas que se dizem contrárias ou temerosas em relação às vacinas. Em geral, elas se reúnem em grupos restritos de redes sociais e evitam expor suas ideias publicamente para não serem tachadas de irresponsáveis, principalmente quando optam por não vacinar seus filhos. Mas a pediatra Carolina Barbieri conversou com diversos desses pais para sua tese de doutorado, defendida em 2014. E, segundo ela, esses pais não estão nas ruas expondo suas ideias, ou mesmo protestando contra vacinas, porque estão, na verdade, inseguros sobre essa decisão.

Carolina Barbieri: "A minha impressão é que esses casais estão muito aflitos em relação à vacina. Há um medo de vacinar, há uma impressão de que vacina não é tão bom, não é o que se falava porque ela também tem efeitos adversos, mas são pessoas que estão muito frágeis de certa maneira. Você ou acha correntes só a favor e só contra."

E é por conta dessa angústia dos pais que a Carolina sugere a abertura do diálogo por parte das autoridades de saúde pública. Ela diz que, em alguns casos, os pais têm bons argumentos para não vacinar os filhos e precisam ser ouvidos, ao invés de receber uma ordem seca: vacine!

Carolina Barbieri: "Por que eu vou vacinar meu filho no dia que nasce contra hepatite B, se eu não tenho hepatite B? Porque hepatite B ou é transmissão da mãe pro bebê ou é por sangue, ou por relação sexual. Então por que não vou vacinar, em vez de quando nasce, quando meu filho estiver iniciando a vida sexual ativa dele, por exemplo? Faz todo o sentido."

Ainda que, individualmente, essa decisão faça sentido, quando se pensa na população como um todo, é mais seguro vacinar todas as crianças quando nascem, explica a Carolina. Afinal, o poder público não tem como garantir que 100% das mulheres fizeram exame de hepatite B no pré-natal. Portanto, o que o estado precisa fazer, na visão da Carolina, é acolher as inseguranças dos pais e dialogar com eles.

A Carla Domingues, do Ministério da Saúde, concorda que esse diálogo com os pais precisa ser reforçado, em especial sobre os efeitos coletivos da vacinação e da não vacinação. No exemplo da hepatite B, ela apresenta outros argumentos que devem ser levados em consideração.

Carla Domingues: "A vacina é recomendada no período em você tem a melhor resposta imunológica. Quando ela chegar na fase adulta, ela pode ir numa manicure e se contaminar, ela pode precisar de utilizar uma seringa em algum momento. Infelizmente, a gente não tem controle sobre os nossos filhos e eles podem inclusive usar drogas injetáveis. Então, é isso que a gente precisa falar para os pais, que independente da minha proteção individual, eu não tenho controle sobre o meio ambiente. Aonde o meu filho vai viver, aonde ele vai estar exposto ao vírus."

A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade defende uma abordagem de saúde que tem como consequência a redução de intervenções, como exames, medicamentos e outros procedimentos médicos. E, como afirma o diretor Rodrigo Lima, está sempre na linha de frente para debater e questionar as decisões governamentais sobre a inclusão de determinadas vacinas no calendário oficial do SUS. Mas, ao avaliar o valor da vacinação de modo geral, Rodrigo não tem meias palavras: considera a vacinação a estratégia da Medicina que produz maior impacto na vida das pessoas.

Rodrigo Lima: "A gente enxerga a vacina como estratégia essencial para oferecer uma vida melhor para as pessoas, uma vida com menos doença e uma vida mais longa também."

O Rodrigo concorda com a Carolina que o problema é a falta de diálogo, principalmente sobre a relação custo-benefício de cada vacina.

Rodrigo Lima: "Quantos por cento das crianças que não tomam vacina adoecem e quantos por cento das crianças que tomam vacina adoecem? Essas informações não são discutidas. É esse tipo de discussão, que a gente, na Medicina de Família, está tentando fazer, tentando levar cada vacina para ser discutida do ponto de vista do impacto que ela traz, dos benefícios, dos malefícios e se ela é necessária ou não. [...] Tem muita disputa em jogo e, claro, não dá para descartar a influência da indústria. Se descobrem vacinas novas, se lançam no mercado, ela vem para as clínicas privadas, começam a acontecer campanhas junto à população para tentar vender essa vacina, inclusive na mídia, em jornais, em revistas, e começa a haver uma pressão por parte de alguns atores da sociedade para que essa vacina seja incorporada no SUS."

Segundo a Carla Domingues, o Ministério da Saúde avalia diversos elementos antes de decidir pela inclusão de uma vacina no calendário oficial. Entre eles, o número de casos e de mortes, a circulação nacional da doença, a possibilidade de surtos, o poder de transmissibilidade, o custo da vacinação e o custo do tratamento.

Confira, no próximo capítulo, os efeitos colaterais das vacinas.

Reportagem - Verônica Lima
Produção - Lucélia Cristina, com colaboração de Cristiane Baker
Edição - Mauro Ceccherini

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h