Rádio Câmara

Reportagem Especial

SAMBA - Os primeiros batuques em terras brasileiras

21/11/2016 - 00h01

  • SAMBA - Os primeiros batuques em terras brasileiras (bloco 1)

  • SAMBA - O ritmo se irradia pelo subúrbio (bloco 2)

  • SAMBA - O flerte com outros ritmos e o tradicional Zicartola (bloco 3)

  • SAMBA - O ritmo “agoniza, mas não morre” (bloco 4)

  • SAMBA - O lirismo, o humor e a crítica social (bloco 5)

Trilha: "Canto dos Escravos"

O tráfico de escravos trouxe cerca de 70 milhões de africanos para o Brasil entre os séculos XVI e XIX. Os canaviais, cafezais, garimpos e fazendas da colônia portuguesa receberam os mais variados grupos étnicos. Para cá vieram, por exemplo, os bantos de Angola, Congo e Moçambique; os iorubás, os jejes e os malês do Sudão, Nigéria e Daomé, atual Benin. Aqui, o negro usou a música, a dança e a religiosidade para suportar a labuta, o tronco e o açoite. Das senzalas e terreiros, ecoavam ritmos genuinamente africanos que, com o passar do tempo, receberam influências locais até se transformarem em sons legitimamente brasileiros, como é o caso do samba.

Trilha: "Bebadosamba" (Paulinho da Viola)

Livres da escravidão, mas sem acesso aos meios próprios de sobrevivência, os negros ocuparam as periferias urbanas. No Rio de Janeiro do início do século 20, eles se concentravam principalmente nos arredores do centro da cidade. Na Praça 11, berço do samba, mães-de-santo vindas da Bahia abriam suas portas para os apreciadores de quitutes e batuques. O jornalista Luiz Fernando Vianna diz que as mais famosas eram as tias Ciata, Amélia e Prisciliana.

Luiz Fernando Vianna: "E nas casas delas, organizavam-se grandes reuniões musicais. Reuniões que também eram diversificadas, pois havia um ritmo mais duro, mais próximo do que a gente identifica depois como partido alto. E na sala principal da casa, havia o que depois se convencionou a chamar mais de choro, quer dizer, uma música com flauta, com um tipo de sofisticação maior. Aquele início ainda é um samba mais amaxixado, quer dizer, mais próximo do maxixe, ritmo que, então, predominava nessa região."

E é exatamente o maxixe "Pelo telefone", de Donga e Mauro de Almeida, que passou a ser historicamente apresentado como a primeira gravação de samba no Brasil. Foi em novembro de 1916. Estudiosos garantem que outras músicas mais representativas do ritmo já haviam sido registradas antes, mas é a partir de "Pelo telefone" que o samba ganha popularidade. A composição, hoje centenária, surgiu quase espontaneamente em uma dessas reuniões musicais no terreiro de Tia Ciata.

Trilha: "Pelo telefone" (Donga e Mauro de Almeida)
"O chefe da polícia / Pelo telefone manda me avisar / Que com alegria / Não se questione para se brincar..."

"Pelo telefone" faz uma sátira com o então chefe da polícia carioca Aurelino Leal. Mas a relação dos sambistas com policiais e demais autoridades foi sempre conflituosa. O jornalista e pesquisador cultural Sérgio Cabral afirma que a perseguição aos sambistas refletia o racismo da época.

Sérgio Cabral: "Era o racismo que se manifestava com o preconceito não só contra a música dos negros como também contra a religião dos negros. Várias vezes a polícia andou fechando templos religiosos, assim como a polícia perseguiu e prendeu muitos sambistas."

O cantor e compositor Elton Medeiros conta que muitas autoridades perseguiam as manifestações culturais e religiosas do negro publicamente, mas sempre recorriam aos serviços das mães-de-santo secretamente. Segundo Elton, João da Baiana foi um dos sambistas que soube lidar com esse paradoxo para se livrar da perseguição.

Elton Medeiros: "João da Baiana foi várias vezes preso com pandeiro, até que uma vez, um senador, sabendo que João foi preso porque estava com pandeiro, o senador Pinheiro Machado deu um pandeiro novo ao João e escreveu uma dedicatória de que aquele pandeiro era do senhor João Machado Guedes, que servia como uma identidade dele. Nunca mais ninguém prendeu João da Baiana porque estava com pandeiro na mão."

Trilha: "Samba da bênção" (Vinícius de Moraes e Baden Powell)
"Pois o samba nasceu lá na Bahia / E se hoje ele é branco na poesia / Se hoje ele é branco na poesia / Ele é negro demais no coração..."

Já falamos de João da Baiana, das tias baianas e de outras referências à Bahia nos primeiros passos do samba no Rio de Janeiro. Mas será que isso é suficiente para dizer que "o samba nasceu lá na Bahia", como escreveram Vinícius de Moraes e Baden Powell no "Samba da bênção"? Com a palavra, o pesquisador Sérgio Cabral.

Sérgio Cabral: "Isso é discutir o chamado sexo dos anjos porque, na verdade, o samba veio da Bahia, do Maranhão, de Pernambuco. Ele é uma contribuição do Brasil inteiro. Só que, no Rio de Janeiro, ele ganhou uma forma que foi essa forma que nós conhecemos. O samba, como nós conhecemos – de Ismael Silva, de Noel Rosa e de tantos outros –, é do Rio de Janeiro, é carioca. Não tenho a menor dúvida."

Trilha: "A voz do morro" (Zé Ketti)
"Eu sou o samba / Sou natural aqui do Rio de Janeiro / Sou eu quem levo a alegria / Para milhões de corações brasileiros..."

Ainda no Rio de Janeiro, no finalzinho da década de 20, surgiram as primeiras escolas de samba que se tornariam fundamentais para o reconhecimento cultural do ritmo no país.

Mangueira, Portela e Império Serrano entram na "Avenida da História", no segundo capítulo da Reportagem Especial sobre o samba.

Produção – Lucélia Cristina e Mônica Lion
Edição – Aprígio Nogueira e Mauro Ceccherini
Reportagens – José Carlos Oliveira

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h

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