Rádio Câmara

Reportagem Especial

Terceira Idade - O Brasil está envelhecendo

16/11/2016 - 00h01

  • Terceira Idade - O Brasil está envelhecendo (bloco 1)

  • Terceira Idade - Veranópolis, a terra da longevidade (bloco 2)

  • Terceira Idade - os projetos em tramitação que promovem os direitos dos idosos (bloco 3)

Trilha: Velhos e Jovens, Adriana Calcanhotto
“Antes de mim vieram os velhos / Os jovens vieram depois de mim / E estamos todos aqui / No meio do caminho dessa vida / Vinda antes de nós / E estamos todos a sós / No meio do caminho dessa vida / E estamos todos no meio / Quem chegou e quem faz tempo que veio / Ninguém no início ou no fim”

O Brasil está envelhecendo. E mais rápido do que se pode imaginar. A Organização Mundial de Saúde estima que em 35 anos um em cada três brasileiros seja idoso. De acordo com relatório divulgado, até 2050, o número de pessoas com mais de 60 anos no mundo vai duplicar. E, no Brasil, este número vai triplicar. O país poderá ter a sexta população idosa do planeta, ou seja, seremos considerados uma nação envelhecida, de acordo com classificação da OMS, que atualmente é dada para países como França, Inglaterra e Canadá.

De acordo com o diretor Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUC do Rio Grande do Sul, Newton Luiz Terra, o cuidado com envelhecimento começa bem antes dos sessenta anos.

Newton Luiz Terra: "O processo de envelhecimento, do ponto de vista biológico, começa entre os 25 e 30 anos. Biologicamente falando, e a partir daí uma série de alterações morfológicas, enzimáticas, bioquímicas vão se sucedendo e transformando esse indivíduo mais vulnerável, mais fragilizado e mais propensos a doenças. E essas doenças, em última análise, vão matá-lo. Existe uma grande preocupação de começar esses cuidados preventivos em idades bem anteriores aos 60 anos. É uma maneira de conseguir com que envelheça o mínimo possível de doenças, com o mínimo possível de incapacidade e com autonomia. Esse é o objetivo"

Newton Terra destaca a importância de se fortalecer políticas públicas para a terceira idade. Um dos projetos é o Cidade Amiga do Idoso, a ser desenvolvido no estado do Rio Grande do Sul e que pode ser exemplo para todo o País.

Newton Luiz Terra: "É a cidade que adapta suas estruturas e serviços para que fique mais acessíveis para pessoas idosas com diferentes necessidades. Essa é a proposta, vamos tentar que a Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos e a comissão nos ajude a implementar esse programa no Rio Grande do Sul. Passa projeto, analisa, vê o que está necessitando e, a partir dali, a gente consegue ajudar o município, para que tenha ações voltadas para o processo de envelhecimento."

A coordenadora de saúde da pessoa idosa do Ministério da Saúde, Maria Cristina Hoffman, afirmou que o envelhecimento da população requer desafios econômicos, sociais e culturais a serem enfrentados:

Maria Cristina Hoffman: "As pessoas vivem mais em razão de melhorias na nutrição, nas condições sanitárias, nos avanços da medicina, nos cuidados com a saúde, no ensino e no bem-estar econômico. Mas a população e o envelhecimento também apresentam desafios sociais, econômicos e culturais para indivíduos, para famílias e para sociedade em geral. É fundamental a união de esforços entre Executivo, Legislativo e o Judiciário e a sociedade em geral, pois precisamos planejar ações que respondam às reais necessidades desta população, que garantam os direitos e as conquistas das pessoas idosas."

Trilha: Tocando em frente, Almir Sater
“Ando devagar / Porque já tive pressa / E levo esse sorriso / Porque já chorei demais / Hoje me sinto mais forte / Mais feliz, quem sabe / Só levo a certeza / De que muito pouco sei / Ou nada sei / Conhecer as manhas / E as manhãs / O sabor das massas / E das maçãs”

O Estatuto do Idoso, sancionado em 2003, tramitou no Congresso por sete anos, e garante uma série de direitos à população idosa, como atendimento preferencial no Sistema Único de Saúde, transporte público coletivo gratuito para os acima de 65 anos, meia entrada em atividades de cultura, esporte e lazer, obrigatoriedade de reserva de 3% de unidades residenciais em programas habitacionais subsidiados por recursos públicos.
O autor do projeto de lei que deu origem ao Estatuto do Idoso, o senador Paulo Paim (PT-RS), afirmou que a legislação possui avanços, mas há muitos desafios a enfrentar.

Paulo Paim: "Eu diria que uma das coisas mais avançadas do Estatuto, eu diria, foi quando conseguimos introduzir um artigo que diz que todo idoso com mais de 60 anos que provar que não tem condições de se manter, terá o direito ao auxílio correspondente a um salário mínimo. Avançamos, sem sombra de dúvida, na questão de que haja uma integração maior entre gerações em relação ao idoso e os crimes contra os idosos. Devido à legislação dura que fizemos, no meu entendimento, diminuiu, embora ainda seja muito alto o índice de agressão ao idoso por parte da própria família."

Paulo Paim destacou que é importante que a sociedade valorize mais os idosos

Paulo Paim: “Eu, quando estava produzindo o Estatuto do Idoso, tive uma experiência de um mês no Japão. Fui convidado, como autor do Estatuto, para ver a experiência deles. Lá, o idoso é visto como um mestre, como um sábio. Tanto que ele se aposenta e passa a ser um consultor em outras empresas, para que sua sabedoria, que só o tempo nos dá, seja transmitida para os mais jovens. Essa cultura, que nós aqui não temos, é que percebi que lá eles têm e que o estatuto sinaliza nesta linha. Agora, é importante que o nosso povo incorpore na íntegra o estatuto, que as pessoas conheçam o estatuto e aí, com certeza, vamos valorizar mais os idosos."

O Disque 100, canal da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos responsável pelo recebimento de denúncias de violações de direitos, registrou mais de 12 mil denúncias de violência contra a pessoa idosa nos quatro primeiros meses de 2016 (de janeiro a abril). Os dados mostram que a maior parte das violações acontece dentro da casa das vítimas, cometida por filhos, netos ou outros familiares. Comparado ao mesmo período do ano anterior, o número de denúncias cresceu 20,54%.

A delegada Ana Lívia Batista Paiva, da Delegacia de Proteção do Idoso de Goiânia, destacou que é importante proteger o idoso de violência, que, segundo ela, ainda ocorrem no País. Segundo ela, as medidas de proteção previstas no Estatuto do Idoso são tímidas.

Ana Lívia Batista Paiva: "É de extrema relevância a existência de delegacias especializadas na proteção aos idosos. Nós vivenciamos que os idosos são vítimas dos diversos tipos de violência, tais como violência física, violência psicológica da qual pouco se fala, exploração financeira e abandono. O Estatuto do Idoso dispõe de um rol de medidas de proteção tímido quando comparado com medidas protetivas de urgência elencadas na lei Maria da Penha. Infelizmente, não conseguimos alcançar ao idoso do sexo masculino a mesma proteção que é dada à idosa mulher, com base na Lei Maria da Penha."

Trilha: Vira Virou, Kleiton e Kledir
“Vou voltar na primavera / E era tudo que eu queria / Levo terra nova daqui / Quero ver o passaredo / Pelos portos de Lisboa / Voa, voa que eu chego já / Ai se alguém segura o leme / Dessa nave incandescente / Que incendeia minha vida / Que era viajante lenta / Tão faminta da alegria / Hoje é porto de partida / Ah! Vira virou / Meu coração navegador /Ah! Gira girou / Essa galera”

No entanto, há experiências exitosas no País de políticas públicas implementadas para a pessoa idosa, que garantem o envelhecimento ativo. Para buscar informações aprofundadas sobre o envelhecimento ativo, a Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa, da Câmara dos Deputados, visitou o Rio Grande do Sul para conhecer práticas e experiências que garantem maior qualidade de vida a essa parcela da população. O destaque é a cidade de Veranópolis, na serra gaúcha, que é conhecida como a terra da longevidade.

Conheça, no segundo capítulo da Reportagem Especial, a terra da longevidade brasileira.

Reportagem – Luiz Gustavo Xavier
Edição – Mauro Ceccherini
Trabalhos Técnicos – Marinho Magalhães

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h