Reportagem Especial
50 anos do golpe militar: tropas em direção ao Rio para depor Jango
29/03/2014 - 14h03
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50 anos do golpe militar: tropas em direção ao Rio para depor Jango (bloco 1)
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50 anos do golpe militar: o poder da caserna meio século depois (bloco 2)
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50 anos do golpe militar: o papel da grande imprensa no movimento (bloco 3)
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50 anos do golpe militar: Congresso devolve simbolicamente mandato a Jango (bloco 4)
O golpe militar de 1964 está fazendo 50 anos. Em 31 de março de 1964, tropas rebeladas sairam de Minas Gerais para prender, no Rio de Janeiro, o presidente João Goulart. O Congresso Nacional declarou o cargo vago mesmo sabendo que o presidente estava no Rio Grande do Sul. Dias depois, elegeu o marechal Castello Branco, primeiro de uma lista de cinco presidentes militares da ditadura que durou 21 anos. Confira agora o primeiro capítulo, com João Arnolfo.
Há cinquenta anos, as Forças Armadas brasileiras derrubaram o presidente João Goulart. Com o argumento de que estavam evitando uma ditadura de esquerda, os militares implantaram em 1964 outra ditadura, que durou até 1985, quando o poder foi devolvido aos civis.
Em 1960, o Brasil sai dividido das eleições: com menos da metade dos votos ganha para presidente o conservador Jânio Quadros, apoiado pela UDN. O vice é João Goulart, do partido trabalhista, aliado da esquerda.
Jânio assume no Brasil na mesma época que Kennedy vira presidente dos Estados Unidos. Em plena guerra fria com a União Soviética, a preocupação americana é impedir a expansão do comunismo. Aqui, Jânio proíbe briga de galo e biquini. Para passar a imagem de independente, condecora Che Guevara, herói de Cuba.
Em agosto, Jânio renuncia.
Trecho do repórter Esso
Deveria assumir o vice João Goulart. Os militares não aceitam. Assume o presidente da Câmara, deputado Ranieri Mazzilli.
O então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, organiza - pelo rádio - a rede da legalidade, movimento de resistência para garantir a posse de Goulart.
O Congresso adota o parlamentarismo, mas um plebiscito restabelece o presidencialismo e Jango volta presidente. A inflação em alta assusta a classe média. A mudança na lei de remessa de lucros atinge as multinacionais. Para distribuir terras, fazer reforma tributária e eleitoral, Jango precisa mudar a Constituição. Sem maioria no Congresso, Goulart recorre aos sindicatos.
"Pela justiça social e ao lado do povo pelo progresso do Brasil... (aplausos)"
A instabilidade aqui preocupa os americanos. A Casa Branca passa a considerar a alternativa de um golpe, para evitar a influência soviética em Brasília. Kennedy autoriza milhões de dólares em propaganda aqui no Brasil, para criar o clima favorável ao golpe. Em novembro de 1963, ele é assassinado. O vice Lyndon Johnson mantem os planos para o Brasil.
1964 começa com agitação social e boatos de golpe. Dia 13 de março, João Goulart participa do comício na Central do Brasil. Soldados e marinheiros se entusiasmam com a defesa das reformas de base.
"Que irá trabalhar para ele. Porque até aqui ele trabalha para o dono da terra que ele aluga. Ou para o dono da terra que ele entrega a sua produção. (aplausos)".
Uma frota americana se aproxima do Porto de Santos com porta-aviões, destroiers, combustível e armas para apoiar o golpe, se necessário. No dia 31, o general Mourão Filho deflagra o golpe. Sai com a tropa de Juiz de Fora, em Minas, rumo ao Rio de Janeiro. Tenentes tomam o Ministério da Guerra. A ex-capital concentra os líderes da conspiração: marechal Castello Branco, generais Geisel, Costa e Silva e Golbery.
No Congresso Nacional, a sessão de primeiro de abril passa da meia noite, com muito tumulto. Do Palácio do Planalto, ministros comunicam por escrito que Jango não havia deixado o país. Quando o comunicado do Planalto vai ser lido no plenário, a energia é cortada misteriosamente.
Na madrugada de 2 de abril, o então presidente do Congresso Nacional, senador Auro de Moura Andrade, declarou vaga a presidência da República, alegando que João Goulart tinha saído do Brasil. Mas Jango estava em território nacional, como conta Waldir Pires, ex-ministro de Goulart.
"E aí o presidente do Senado Federal, que era presidente do Congresso Nacional, senador Auro Moura Andrade, mentiu à Nação."
Na volta da sessão, o presidente do Senado declara vaga a Presidência da República.
"O senhor presidente da República deixou a sede do governo. Assim sendo, declaro vaga a Presidência da República... Declaro presidente da República o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli."
O deputado Mazzilli vira novamente presidente. Mas quem manda são os militares.
Deputados presos, governadores derrubados. Sai o primeiro ato institucional. O Congresso elege o marechal Castello Branco. É o primeiro de uma série de cinco generais-presidentes, que ficariam no poder durante 21 anos: de 1964 até 1985.
No próximo capitulo: o chamado "entulho autoritário" do Golpe de 64
Da Rádio Câmara, de Brasília, João Arnolfo