Rádio Câmara

Reportagem Especial

Cultura: conceito

10/09/2011 - 00h00

  • Cultura: conceito (bloco 1)

  • Cultura: a concentração de museus na região Sudeste (bloco 2)

  • Cultura: consumo (bloco 3)

  • Cultura: financiamentos e problemas da Lei Rouanet (bloco 4)

  • Cultura: as iniciativas para ampliar o alcance (bloco 5)

Na reportagem especial desta semana, você vai ouvir que, apesar de ter uma das diversidades culturais mais ricas do mundo, o Brasil ainda é muito desigual na hora de reconhecer, produzir e dar acesso a bens culturais. A série começa com uma pergunta: o que é cultura para você?

TEXTO

Assis Francisco - Tocantins - "O que eu entendo de cultura é a leitura, os bons livros, é você ter escolas boas."

Renato Machado - Rio de Janeiro - "Cultura para mim é tudo o que mexe com a sensibilidade humana"

Edson Goya - Rio Grande do Sul - "Cultura é uma coisa difícil de definir, porque pode ser cultura com "C" maiúsculo nas grandes obras de arte, logo tem a cultura de um povo que se forma com o tempo."

Humm, difícil, né? Vamos ver se um especialista explica melhor? Quem fala é José Márcio Barros, antropólogo e coordenador da ONG Observatório da Diversidade Cultural.

"Os conceitos de cultura são inúmeros, são muito antigos, variados, mas nós podemos resumir em dois grandes conjuntos. Primeiro, o que a gente chama de dimensão antropológica da cultura, ... é tudo aquilo que a gente aprende. ... que depende da nossa experiência numa sociedade. ... Mas existe também uma outra dimensão mais focada, ... que se refere a um tipo de fazer da sociedade relacionada ao campo das artes. Ninguém está fora da cultura, porque é através da cultura que nós adquirimos a nossa total condição humana."

E como o governo define cultura? Vamos saber com Marcelo Manzatti, coordenador geral de Culturas Populares e Tradicionais do Ministério da Cultura.

"Basicamente, aqui no Ministério da Cultura a gente entende a cultura em três eixos: a cultura como expressão simbólica, da qual todos os seres humanos são dotados, todo mundo é capaz de produzir simbologia, significados, seja através da arte, seja através da religião, política, enfim, uma série de campos. A gente entende também a cultura como uma atividade econômica importante, ... qualquer atividade cultural propicia geração de trabalho, renda, riqueza, .... E um terceiro nível que seria a cultura como exercício da cidadania, como um lugar de participação de vida cidadã, né?"

Mas se cultura é uma coisa tão abrangente e todo mundo tem, por que a cultura das pessoas mais pobres aparece tão pouco? O antropólogo José Luiz dos Santos, autor do livro "O que é cultura" explica:

"Gente vive numa sociedade que tem polos de dominação e a cultura que você chama das pessoas mais pobres não tem núcleos agregadores, ela não tem instituições, ela tem muita dificuldade em aparecer como forma, como estrutura que tem continuidade."

A impressão de que cultura também é só obra artística é outra distorção bem comum, que segundo José Luiz, tem a ver com a organização da sociedade capitalista e governos, que lançam ações voltadas só para a produção de arte. Outro antropólogo, José Marcio Barros, complementa:

"A grande maioria da população acha que a cultura é feita por alguém especial, porque a cultura é vista como um comportamento específico, uma qualidade específica, uma competência específica, que só acontece em um lugar específico, salas de exibição, salas de exposição, os livros... Tem um pouco a ver com a questão da educação, da maneira como somos educados."

Bom, então todo mundo tem cultura. E como cultura é tudo o que faz uma comunidade diferente da outra, aí entra tudo: artes, línguas, costumes, valores, crenças... Dá para imaginar por que o Brasil é considerado um dos países com maior diversidade cultural do mundo. Mas será que os brasileiros têm consciência disso? Marcelo Manzatti, do Ministério da Cultura, acha que não:

"A gente tem uma diversidade muito grande, mas ela é muito invisível. A grande mídia praticamente não expressa essa diversidade cultural e consequentemente ela não é consumida, acessada pelas pessoas nem nas instituições consagradas, centros culturais, escolas, enfim..."

Mas o que deve ser feito então para que a diversidade cultural do país realmente seja vista? Marcelo Manzati, do Ministério da Cultura explica:

"Em primeiro lugar, reconhecendo que essa diversidade é importante. A gente tem 230 povos indígenas no Brasil que falam mais de 180 línguas e eles nunca tinham sido atendidos no Ministério da Cultura, então é uma diversidade cultural gigantesca, importantíssima que qualquer país do mundo invejaria e a gente desprezava. Num segundo momento, você precisa criar as condições concretas de circulação dessas expressões, de que um gaúcho por exemplo, possa ter contato com o que se faz no interior do Piauí ou que uma pessoa da periferia da cidade grande possa ter contato com o que se faz no próprio centro daquela cidade em produção cultural."

Com relação ao problema da falta de visibilidade na mídia, José Márcio acrescenta:

"Nós precisamos que os meios de comunicação se comprometam efetivamente com a proteção e a promoção da diversidade cultural para que a gente possa romper esse limite que existe hoje no Brasil de a gente ter uma cultura muito rica, mundialmente reconhecida pela sua criatividade e beleza, mas do ponto de vida econômico, político e ético, através da cultura nós não desenvolvemos, nós não produzimos modelos de desenvolvimento humano."

Para mudar essa história, especialistas e autoridades apostam na educação - não só aquela ministrada nas escolas, mas aquela feita em casa também. A educação, juntamente com as línguas, a comunicação, os conteúdos culturais e a criatividade também é considerada fundamental para a diversidade cultural mundial pela Unesco, a Agência das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura. Segundo a Unesco, os países têm pela frente os desafios de combater o analfabetismo cultural e conciliar a diversidade local com a globalização.

Texto e apresentação de Ginny Morais

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h