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Reportagem Especial

Astrologia - A relação entre os astros e os acontecimentos na terra - Bloco 2 (08'04'')

20/05/2009 - 00h00

  • Astrologia - A relação entre os astros e os acontecimentos na terra - Bloco 2 (08'04'')

Ao observar a lua caminhando no céu, os antigos perceberam que ela se movia sempre perto das mesmas estrelas, como se houvesse uma linha imaginária. E além do sol e da lua, outros pontos também se moviam ao longo dessa linha. Os estudiosos deram nome a esses pontos que hoje conhecemos como Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno, os planetas que podem ser observados a olho nu.

Aos poucos, os antigos foram relacionando as diferentes posições dos astros com os efeitos nas colheitas e nas guerras. E assim se desenhou a ciência dos astros, que floresceu na Babilônia, na Índia e na China.

O astrólogo Antônio Carlos Harres, conhecido como Bola, destaca que a astrologia começou na observação de fenômenos coletivos.

"A astromancia, ou seja, os oráculos baseados nos astros, foram primeiro usados pelos reis e pelos líderes religiosos para prever as tendências coletivas de guerras, de colheitas, de cataclismas, de todo tipo de acontecimento que envolve a coletividade. Depois, com o tempo, isso foi sendo trazido para um patamar mais individual".

A astrologia que o ocidente conhece foi talhada pelos gregos. A partir deles, o conhecimento astrológico saiu do coletivo e entrou no individual. Para cada pessoa, um céu particular e um destino.

Os deuses gregos e romanos assumiram os nomes dos astros, que passaram a simbolizar as virtudes e as fraquezas humanas. Assim no céu como na terra, os astrólogos traduziam correlações entre o movimento dos astros e a vida humana.

A longo do tempo, as previsões caíram no gosto de reis e autoridades religiosas. Conta-se que os astrólogos acompanhavam o nascimento das pessoas da realeza, para desenhar seu mapa logo em seguida. Essa situação começou a mudar na idade média, com o advento do pensamento racional.

O astrofísico da USP, Amâncio Friaça, conta que a primeira crítica à astrologia que se tem notícia remonta ao século XIV, com o estudioso Nicolau de Oresme.

"A crítica de Nicolau de Oresme é que talvez a concepção do universo como um relógio, ela não fosse uma analogia válida, e que os astrólogos, eles no fundo se baseavam na analogia do universo com um relógio para fazer as suas previsões".

Para Amâncio Friaça, a astrologia tem valor apenas como conhecimento simbólico e cultural. Não serve para fazer previsões ou análises de personalidade de qualquer espécie. Ele próprio conta que já fez o seu mapa astral.

"Erraram tudo, viu, isso que eu posso dizer. Isso mostra que em um nível individual, cada indivíduo é tão imprevisível como uma garoa. Você não pode prever quando vai acontecer a partir de ângulos planetários".

A astróloga Celisa Beranguer migrou da arquitetura para a astrologia, e conta que a lógica matemática foi seu primeiro encantamento com a astrologia.

Apesar de astronomia e astrologia hoje estarem separadas no ocidente, ela destaca que nem sempre foi assim.

"Tem uma coisa bastante importante que alguns astrônomos esquecem, né? Newton e Kepler foram grandes astrólogos. Kepler ganhava dinheiro com a astrologia. E sabe porque o Kepler foi ser astrólogo? Por que ele era um grande matemático. E eram os matemáticos que calculavam e faziam os almanaques de previsão, e eram contratados pelos reis, pelos príncipes e pelos duques".

Se a astrologia tinha tanto prestígio e era ensinada nas universidades européias, qual a razão da sua queda? Para Celisa Beranguer, o comportamento de alguns astrólogos acabou prejudicando a astrologia.

"Na Divina Comédia, o Dante Alighieri coloca a astrologia no paraíso e coloca os astrólogos no inferno porque os astrólogos não merecem a astrologia. E eu também acho isso, infelizmente. Você tem histórias de comportamentos problemáticos dos astrólogos desde o Império Romano, quando os astrólogos foram expulsos de Roma porque ficavam fazendo previsões de quem ia morrer, de quem não ia morrer, qual era o imperador que ia subir. Depois, na Idade Média, muitos astrólogos faziam previsões de quando os papas iam morrer".

O pensamento racional influenciou a própria astrologia. No século XVII, Jean-Baptiste de Morin estruturou a chamada astrologia racional, de caráter determinista.

O astrólogo Chico Seabra trabalha nessa linha, onde a astrologia é uma ciência exata, como um relógio. Ele conta que Morin foi o último astrólogo real da França.

"Até 1600, até a morte de Jean Baptiste de Morin, a astrologia era a principal ciência. A pessoa pra ser médico tinha que ser astrólogo, pra ser astrônomo tinha que ser astrólogo, a astronomia é coisa recente. Era matemático e astrólogo, engenheiro e astrólogo, tinha que ser astrólogo. Talvez os astrólogos tenham tido um poder muito grande, e o Jean Baptiste Colbert, ministro da França, com a morte de Morin, resolveu proibir a astrologia, primeiro na França, depois a proibição se espalhou por toda a Europa, exceto Inglaterra".

Chico Seabra destaca que é uma voz solitária na astrologia brasileira. A maior parte dos astrólogos critica essa linha determinista.

No século XX, a chamada astrologia psicológica se configurou, com a proposta estudar os astros como ferramenta de autoconhecimento e evolução.

O astrólogo Carlos Maltz opina que a astrologia não se encaixa no modelo de ciência determinista e racional, pois seu material é o humano, e a humanidade é subjetiva. Para Maltz, os astros guardam um conhecimento muito mais profundo, que só agora os homens começam a entender.

"A astrologia tem 6 mil anos de idade, essa coisa que a gente está chamando de ciência tem 300, 400 anos, é uma filhotinha. A astrologia é um espelho: assim na terra como no céu, as coisas acontecem no mesmo instante, obedecendo ao mesmo princípio. Isso é algo que a física quântica já vem nos ensinando. Depois da quântica deu pra gente entende rum pouco melhor o que é a astrologia, até então ela estava muito na nossa frente, apesar de ter 6 mil anos de idade, ou por causa disso".

Hoje, a astrologia tem uma aura mística e é muito mais associada com o esoterismo do que a um conhecimento de relevância. Mas a humanidade ainda se deslumbra ao elevar a cabeça em direção ao céu. E permanecem as perguntas sobre os enigmas do universo.

De Brasília, Daniele Lessa

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