Rádio Câmara

Reportagem Especial

A história do radiojornalismo no país, do Repórter Esso até os dias atuais (10'14")

23/03/2009 - 00h00

  • A história do radiojornalismo no país, do Repórter Esso até os dias atuais (10'14")

O Repórter Esso entrou no ar, pela primeira vez, em agosto de 1941, com um estilo que marcaria para sempre a maneira de levar informação pelas ondas do rádio no país.

No ar por 27 anos ininterruptos, o programa chegava às casas dos brasileiros pela frequência da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, sendo irradiado também por outras emissoras, como a Record de São Paulo, a Farroupilha de Porto Alegre, a Rádio Clube de Recife e a Rádio Inconfidência de Belo Horizonte.

Antes do estilo curto e direto do Repórter Esso, a notícia do rádio se resumia, praticamente, à leitura dos jornais.

Mas veio a Segunda Guerra Mundial e a população parecia ávida pela transmissão ágil das notícias do front. E o rádio mostrou-se como o veículo ideal para a função.

O Repórter Esso chegou ao Brasil como uma iniciativa da política norte-americana de cooperação internacional.

Durante o período do conflito mundial, aliás, o noticiário era redigido por agências de notícia dos Estados Unidos.

Um outro marco do radiojornalismo brasileiro foi o Grande Jornal Falado Tupi, que entrou no ar em 1942, na Rádio Tupi de São Paulo.

Com um formato diferente do Repórter Esso, o noticiário da Tupi tinha uma única edição diária, mais longa e dividida em blocos.

O jornalista Roberto Rosemberg, há 52 anos trabalhando com rádio no Brasil, chegou a apresentar outro noticiário importante da Tupi, mas do Rio de Janeiro.

Ele conta como era fazer rádio nos anos 40 e 50.

"Fiz um teste de microfone e acabei, com 18 anos, fazendo locução e fui ler o Grande Matutino Tupi, que entrava às 7h. Era um jornal que não tem hoje a sofisticação que a gente tem de poder falar pelo telefone, (...) Não existia gravação. Os gravadores estavam chegando no país. Os gravadores de fita, de rolo, grandes, não tinha gravador portátil. Era um jornal lido, de uma hora de duração, lia jornal e, enquanto a vinhetinha subia para separar uma notícia de outra, bebia um gole d'água. Imagina o que é ler um jornal de uma hora, isso com 18 anos?"

Enquanto o jornalismo dava seus primeiros passos no Rádio, o governo de Getúlio Vargas também percebia a importância do veículo para atingir a população.

E foi assim que Getúlio criou a Hora do Brasil. O programa, que no início veiculava informações do governo federal e também inserções culturais, tornou-se obrigatório em 1938.

A partir de 1962, a Hora do Brasil, hoje Voz do Brasil, passou a transmitir também as notícias do Congresso Nacional.

E, nessa época, com a chegada da TV no Brasil, o rádio começou a mudar o estilo de seu noticiário.

Novidades tecnológicas como o gravador portátil deram mais agilidade à cobertura jornalística.

Aos poucos, o estilo direto e sintético do Repórter Esso, baseado em notícias de agências internacionais, passou a perder espaço para as notícias transmitidas de maneira mais leve, próxima da linguagem falada.

Uma das pioneiras dessa nova fase do radiojornalismo brasileiro foi a Rádio JB do Rio de Janeiro, onde música e informação dividiam espaço.

O áudio a seguir é exemplo do jornalismo feito pela Rádio Jornal do Brasil. Entre dezembro de 1969 e janeiro de 1970, a emissora transmitiu um documentário sobre os principais fatos e músicas do ano de 69.

TRECHO DO DOCUMENTÁRIO

A reportagem no rádio ganhou tanto espaço que, na década de 90, surgiram no país as emissoras especializadas em transmissão de notícia durante todo o dia.

Âncora da Rádio CBN e da TV Cultura, Heródoto Barbeiro comenta as mudanças no radiojornalismo.

"Quando comecei a trabalhar, os textos do rádio eram manchetados. Hoje não são mais manchetados. Hoje o mesmo texto que leio no telejornal da TV Cultura eu posso lê-lo na CBN, sem problema, é o mesmo texto. Se é uma nota que vou ler na televisão, é a mesma que leio no rádio. Acho que o texto ficou sendo um texto direto, simples, leve, que as pessoas possam entender e sempre levando em consideração o seguinte: a única forma de alcançar a pessoa pelo rádio é pela audição."

Além de notícia, música e entretenimento, o rádio também foi responsável por levar aos brasileiros os grandes momentos do esporte.

No início da experiência radiofônica, até mesmo o sambista Ary Barroso chegou a narrar jogos de futebol.

Foi pelo rádio também que o Brasil ouviu triste a derrota da seleção na Copa de 50 para o Uruguai.

Com as transmissões dos jogos ao vivo pela televisão, os comentaristas esportivos tiveram que se adaptar.

Narrador esportivo desde a década de 60, José Carlos Araújo, o Garotinho da Rádio Globo do Rio de Janeiro, fala dos novos tempos.

"Mesmo a televisão fazendo a transmissão ao vivo de todos os jogos dos grandes eventos, o grande desafio para narrador, comunicador é saber que ele está narrando como complemento daquele que não quer ouvir o áudio da televisão e também aquele que no Brasil inteiro está acostumado a ouvi-lo sem ver a imagem da televisão. Então, primeira preocupação dele: posicionar a bola, sabendo que a emoção da voz vai demonstrar que esta bola está mais próxima ou mais longe da grande área e, consequentemente, do gol. E também para o grande público saber se a bola está no meio campo, na intermediária, na direita, na esquerda, enfim, você cria com as palavras que se transformam mais ricas do que aquelas que estão na telinha."

No início dos anos 30, quando o rádio começava a dar seus primeiros passos no país, havia 19 emissoras no Brasil.

Hoje, de acordo com o Ministério das Comunicações, são quase 2.300 rádios comerciais FM, mais de 1.700 de Ondas Médias, 440 educativas, além de cerca de 3.600 comunitárias e outras tantas que funcionam sem autorização.

De Brasília, Ana Raquel Macedo

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